domingo, 27 de dezembro de 2009

Passei vermelho, arrumei as malas.

Passei vermelho. Vermelho sangue, vermelho paixão. Vermelho, em minhas unhas. Liguei o som, deixei as músicas nostálgicas me invadirem. Deixei a saudade apertar, os pensamentos rodarem. Deixei o vazio fluir, dominar o quarto frio e mal iluminado. Deixei a mala pronta, ao lado da porta. Como se fosse escapar ou como se eu esperasse um salvador.

Salvador? Salvador do que? Um salvador do mundo, do meu mundo! Mas essa noite fará muito frio e ele não vai poder vir me buscar. Ele perdeu o avião e acabará perdendo o trem, acabará me deixando a esperar. Já até fechei a janela, que não quero olhar pra fora, não quero olhar a não-vinda. Mandei um beijo pelo vento, espero que te encontre.

Amanhã eu tô saindo, abrindo a porta. Escapando, ou seria apenas, passeando? Já nem sei mais o que faço. Deixei minha melhor roupa, para usar na última noite do ano. Deixei segredos, aqui nessa casa. Deixei desejos. Vou mudar, parar de caminhar tão tolamente. Hein, sorriso, cadê você mesmo? Acho que eu te deixei em casa ou você já está dentro da mala? A mala que já tá feita, até com cadeado.

Mas aqui tá frio, mas a neve não volta. Neva, neve. Neva! Aqui não chora, mas também não sorri. E tô me preparando para essa próxima semana. Hoje eu me fiz bonita e deixei minhas unhas vermelhas. Fiz com cuidado e o esmalte não quer secar. É vermelho sangue ou será que é sangue? Passei sangue sobre as unhas, deixei secar. Vê se pode, menina comportada, falando de sangue sobre as unhas!

Ontem eu matei algo. Matei minha vontade. Agora do que? Não me pergunte! Sou criminosa, me leve pra cadeia, pode me levar. Mas antes, me leve até em casa. Quero dar um abraço nos meus pais e na minha irmã, preciso ver meus amigos e beijar a testa do meu melhor. Deixa eu abraçar ele, bem apertado. Mas ele? Quem é ele? Não sei! Mas deixa abraçar.

Assassinei a vontade e agora escuto vozes irritantes, ácidas, ardidas. Dolorosas. Essas vozes rasgam, rasgam mesmo! Rasgaram a carne, fizeram sangrar. Foi aí, que pintei as unhas. É, deve ser.

Mas vou passar o ano novo longe daqui. Tão longe, que não posso nem acreditar! É por isso que a mala está na porta. Porém, a mala da porta é outra. A mala da porta é pra voltar pra casa, tá tudo o que não me serve mais. Mas não sei por que eu a coloquei ao lado da porta. Deve ser porque assim, qualquer coisa, é mais fácil de fugir. Mesmo se ninguém vier me buscar.

É que ninguém vem me buscar, moço. Eu tenho de ir embora sozinha. Só me falaram “vem”, mas eu to sozinha até chegar em casa. Ruim, né não? Mas não me importo, moço. Já estou sozinha faz alguns meses e voltar pra casa sozinha é até bom. Estou morrendo de vontade de abraçar todos, assim que eu sair daquele avião! Que eu não vou fazer como ele e não vou perder, moço. Eu chego pro almoço, me esperem!

Olha só, estou morrendo de vontade. Isso não me faz mais de mim uma assassina, mas sim um refém. Já que sou refém, então venham me buscar. Estou querendo chegar logo em casa. É que eu já perdi o Natal e vou perder o Ano Novo, então me levem de volta, a tempo de ver o Carnaval.

As malas já estão na porta, pode vir sem avisar. Que já estou sentada na cama, esperando alguém me chamar, mas vem logo, que a parede branca tem me deixado com sono e meu esmalte já está seco, então não tem problema de estragar. Vem? Pode vir, eu levo as malas até o portão, não precisa nem entrar. Não vou nem pular a janela, que eu não estou escapando de nada. Eu já deixei as malas me esperando na porta...


Valdagno, 27 de dezembro de 2009. 19:19

domingo, 13 de dezembro de 2009

Entre o coração e as estrelas.

Tem esse frio, que tem me atormentado tanto. Me fazendo querer ficar embaixo das cobertas e ver um filme qualquer. Aí me lembro que não estou em casa, que as cobertas não são assim quentes e não tenho uma televisão de frente a minha cama, para se gastar um domingo frio de inverno.

Minhas mãos têm ressecado e meu rosto não resiste mais ao frio. Eu tenho congelado e mesmo assim, me fazem caminhar para aquele inferno todas as manhãs. Inferno, diga-se de passagem, que é uma perna de tempo. Uma perda do meu tempo glorioso. Ah, glorioso tempo que eu tenho perdido por aqui.

Ah, não me chame de ingrata, oras! Era meu sonho, era minha vontade maior! Cruzar esse oceano, vir em busca de aventuras, de paisagens que pensei nunca ver! Andar tão longe e tão sozinha, conhecer sobre o mundo... Sobre mim! Arrancar o coração diversas vezes, para tentar manter a saudade sã. E eu queria tanto pegar logo o primeiro avião, chorar horrores na despedida! E não dizer adeus, mas sim um “até logo”.

De ousadia ou talvez burrice, abusei da minha coragem. Fiz as malas e vim! Vim em busca de todo aquele sonho. E vim em busca de dias mais ensolarados, de pessoas especiais. Eu vim buscar uma vida temporária, diferente de toda aquela que procurei viver durante 17 longos anos.

Vim a procura de amor e de olhares curiosos. Vim a procura de fotografias fantásticas, de histórias extraordinárias. Eu vim a procura de mim, que algum dia na minha vida, deixei em qualquer banco de uma praça. Eu cruzei o oceano, com horas de vôo, para encontrar a mim tão longe de casa.

O decepcionante foi chegar aqui, onde tudo é mais bonito e receber uma ligação de casa. Era eu mesma, dizendo que eu estava lá. Que fugir não fora a melhor opção. Que para encontrar a si mesmo, não é necessário fugir pelo mundo, mas sim, fugir na sua própria casa, na sua própria vida. Que quando você pensa que se perdeu, é porque você não se enxergou direito no espelho e não viu sua imagem refletida.

Acontece, que quando está tão longe de casa, enfrentando um frio glacial e uma saudade sufocante, você se põe a pensar e descobre que a perda nunca foi em outro país, em outra casa ou outra vida. Que você é capaz de se perder em si mesmo e não precisa ir muito mais longe do que a padaria na esquina, para se encontrar.

Afinal, a sua sombra te persegue pelo resto da sua vida. Você nunca vai a perder. O sol pode não nascer e a lua estar escondida atrás de nuvens, mas basta acender uma mínima luz e já se pode ver a sombra, grudada a ti. Mas para isso, precisa acender a luz.

Não, não adianta perguntar que luz será essa. De vez em quando é fácil encontrar, outras vezes difícil. Muitas vezes na vida, a tal luz, é apenas um motivo para se seguir em frente e infelizmente, você só descobre essa luz, quando você a perde. Porque é assim. A morte das coisas precisa bater na porta, para você entender o valor daquilo que existiu.

Ousadia ou não, cruzei um oceano e me arrependo honestamente de ter precisado ir tão longe, só para ver o valor das coisas que eu tenho na vida. Das pessoas. Apesar de meu orgulho não deixar admitir, também não é de meu agrado, ter de ter cruzado esse feroz oceano, para descobrir o meu limite, que afinal, chegou ao fim.

E enfim, não há um dia que eu não olhe o céu, a procura de estrelas que me levem pra casa, de qualquer maneira. Onde é sempre quentinho e sempre tenho o que eu preciso pra sobreviver. Mas todas as noites, antes de dormir, suspiro uma saudade diferente. Que só voltando pra casa para se concertar.

É perda, essa saudade. Perda do que deixei para trás e hoje quero voltar correndo. Que os suspiros têm doido e as estrelas já não sabem mais me levar pra casa. E esse inverno rigoroso, tem machucado as minhas mãos, ao ressecá-las. Meu coração tem sentido a ausência de cada um. Silêncio doloroso.

Não há nem sequer uma alma viva que possa salvar. E os chocolates são inúteis, uma vez que eles acabam rápido demais. Eu suspiro vida, uma vida de saudade. Meu coração se lamenta e as estrelas se desculpam. Só guardo essa vontade irracional de fazer as gordas malas e voltar pra casa. Contar que convivi com demônios, mas eles, meus anjos, me salvaram.

O fato é, eu vim em busca de algo maior e descobri que meu maior, esta em casa. Que eu posso percorrer o mundo e conhecer lugares extraordinários. Mas ninguém sobrevive de saudade e não existe lugar como a nossa casa. Das coisas mais marcantes que eu aprendi, é a mesma coisa que esta escrita no titulo de um livro qualquer “tra Il cuore e le estelle”.


Valdagno, 13 de dezembro de 2009. 21:49.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Não me faça mais ficar. Só isso.

Acho que eu procurei demais sorrir. Procurei tanto, que encontrei qualquer tipo de sorriso, qualquer tipo de máscara, mas nenhuma que eu deveria realmente usar. Encontrei tanto deles em mim, que de mim, não encontrei nada. Talvez eu tenha encontrado um bilhete de “volto logo” que eu escrevi antes de vir e deixei sobre a mesa.

Qual eram os sinônimos que eu queria usar? Porque eu já nem lembro se eu gostaria de usar palavras aqui. Não sou mais capaz de escrever, pois eu sou realmente cansada. Cansada do mundo e de mim. O sol não me esquenta mais, é um pouco inútil, sabe?

Amorteça minha queda, que eu estou caindo de muito alto. Andei sem olhar pra onde andava, porque já não tinha mais como procurar chão, uma vez que comecei a andar sobre nuvens. Mas e agora? As nuvens sumiram, choveram. E eu fiquei a cair, mas meu chão não chega e eu não sei voar, ninguém nunca me ensinou.

Então faz assim, fecha a porta e vem me buscar. Mas não passa a chave, porque não quero ficar esperando a porta se abrir, quero correr pra minha vida novamente. Faz assim, corre e pega a minha mão, mas não larga mais, por favor! Que a vida tá difícil e sei que longe, fica mais difícil ainda.

Não tenho mais medo de encarar a verdade quando eu voltar, porque agora eu tenho sede de construir meu mundo. Meu mundo inteiro, com todos ou nenhum. Mas que venham e façam valer a pena, todos os que vierem. Que olha só, eu preciso voltar, encarar a minha vida. Eu já tinha que aprender tudo o que eu podia. Só me resta fazer as malas e voltar. Nada vai me prender aqui, nada.

Faz assim, faz. Vem me buscar e antes de voltarmos, senta do meu lado e vamos olhar o sol se pondo, uma ultima vez, nessa terra tão distante de casa. Mas enquanto isso, não solta minha mão, não solta nunca mais.


Valdagno, 2 de dezembro de 2009. 21:14

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Não há mais nada na parede, amor.

Entrou na casa, acendeu e luz e admirou o interior. Foi em direção a parede da frente e com a maior raiva do mundo rasgou aquelas fotos, rasgou tudo. Deixou tudo em pedaços. Quando terminou, encarou a parede aos pedaços e a sujeira ao redor.

-Amanhã eu arrumo... Talvez.

Foi até a cozinha, preparou qualquer drink extremamente forte. Na sala, colocou qualquer vinil que encontrou, qualquer coisa hipnotizante, como Pink Floyd.
- Ainda bem que um dia minha mãe me presenteou com essa vitrola.

Se jogou no sofá de frente a parede toda rasgada. Não se via nem se quer mais nenhuma foto inteira. Ela não entendia porque tinha feito aquilo, mas fez. Era ótimo ver tudo aquilo rasgado, ver tudo aquilo no chão. Na parede até conseguia ver aquele papel de parede horrível, com dizeres terríveis, de quando haviam comprado o apartamento.

Ela estava amarga. Amarga como a vida havia lhe deixado. Era amarga, azeda. Era um remédio impossível de se tomar. A vida colocou tanto contras na sua vida, que ela nunca mais lembrou que existem os a favores também. Não existia. Era tudo destruição, era tudo movimento contrário que andava contra a maré. O amor não existia. Afinal, quem era esse tal de Amor?

Era enjoativo olhar para a parede desgastada, tanto que, depois de vinte minutos contemplando seu trabalho, ela virou o sofá para a porta. Se deitou novamente e começou a encarar o teto, que aos poucos virava uma escuridão impossível.

- A noite tá chegando... – encarando por alguns minutos a janela.

O teto era incrível de se admirar. Fazia sua cabeça pensar em mil coisas. Mas qualquer pequena coisa, a levava para o tal do Amor. Ela queria o conhecer, porque ela sempre só conhecia os falsos. As fantasias, ela já estava cansada de conhecer. Ela queria conhecer o verdadeiro, era a única coisa que pedia. Esse tal de amor, era tão inebriante assim? Era encantador ou era dor imensa? Era possível amar?

Algo a fez se desconcentrar. Uma porta, uma luz acesa. Ah, era o amor que ela conhecia.

- Porque rasgou tudo?
- Quis te esquecer por hoje, amor.

Encarou de novo o teto e disse pra si mesma “ah, é por isso que não conheço”.

Valdagno, 25 de novembro de 2009. 16:35

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Sobre o que te faz viver.

Sugeriu chorar, para lavar a alma que andava suja, tão suja, tão suja. Pesada de nada ou talvez de tudo. Pesada de rumores, de sentimentos. Pesada de normalidade, de saudade. Pesada de dor e risadas. A alma andava dura, de medo. De indecisão.

Ah, coração que não tinha aprendido a ser frio. Coração mole, como uma geléia. Chorava por pouco e se feria facilmente. Era tão difícil respirar! Respira, respira. Mas não entrava o ar. O coração entrava em sintonia com a alma e os dois choravam. Choravam saudade, dor e preguiça. Preguiça de continuar.

Um passo a mais, era sempre assim. Um dia a mais, uma caminhada a mais. Uma caminhada lenta, preguiçosa, dolorosa. Uma vontade desgastada. E de manhã se perguntava com raiva, para o sol, de o porquê de estar tão longe e de noite, se lamentava em silêncio para a lua.

Chorava escondido, pra ninguém ver. Mas os olhos inchados e a noite mal dormida, sempre denunciavam os cortes. Ela havia se acostumado a rasgar o papel, com o grafite do lápis, com voracidade. Porque depois de um tempo, a pele já era cansada das feridas. Era o único jeito de se salvar.

Suas palavras eram fortes, pesantes. Eram dramáticas, assim como a sua visão de ver o mundo. Suas palavras cortavam, a quem eram referidas. Eram dores escritas, era sangue em grafite. Suas palavras eram seus salva-vidas. Era o que ainda a fazia viver.


Valdagno, 20 de novembro de 2009. 22:43

domingo, 15 de novembro de 2009

Deixa, vai. Deixa.

Deixa eu sentar aqui, que hoje eu quero conversar. Deixa eu olhar seus olhos, assim, penetrá-los. Deixar eu respirar o mesmo ar que você. Deixa eu fazer a saudade morrer, deixa? Deixa eu te contar devagarzinho, te abraçar por trás. Deixa eu te fazer sorrir, só deixa, tá?

Nunca soube se essa distância era boa ou má, eu realmente nunca quis saber, provavelmente. Mas cansei de chorar, de raiva, parei de tentar derramar lágrimas no meu travesseiro e segui em frente, mas sabe, doeu pra seguir. Ainda dói e de vez em quando a raiva é tão grande, mas tão grande, que eu só quero fazer as minhas malas e sumir. Me apagar na vida – no mínimo daqui.

Tenho certeza que não tenho mais tempo, porque ele já é tão farto que não posso querer mais. E quando não sei que coisa pensar, eu simplesmente não penso, porque já cansei de pensar. Mas se me dessem mais tempo, ligaria pra ti, uma noite qualquer, e te perguntaria como anda a vida, te escutaria com mil desabafos e talvez, até mesmo, te ajudaria de qualquer maneira. Antes de desligar o telefone, eu apenas perguntaria “você ainda pensa em mim?” e sendo sim ou não a resposta, eu desligaria.

Desligaria por medo de dizer qualquer coisa. Medo estúpido, eu sei. Mas o teria. Acho que tenho medo de ouvir um sim e depois ter de esperar alguns meses pra te ver e teria medo de ouvir um não e depois me afogar em tudo. Teria medo da resposta, qualquer que fosse e por esse medo, deixaria de escutar.

Sinto saudade da sua voz, da sua risada. Esses dias me peguei olhando o nada e veio você na cabeça, vi você, como num filme. Quis chorar, espernear. Aí pensei que não preciso de você para respirar, nunca precisei. Agora, que eu me ponho do outro lado do oceano, eu sinto que aprendi a gostar de você. Porque não te preciso mais.

Justamente. Como não te preciso mais é quando mais eu te quero. Porque não te quero por necessidade, te quero por conforto, por vontade. E talvez eu precise te dizer mil vezes, mas eu sei que você gosta de mim e sempre soube que você não me quis ver partir pra tão longe. Então pare de enganar tudo, de enganar a gente.

Hein, já que eu estou aqui, do seu lado, te falando um monte, porque você não pega a minha mão e diz que estamos juntos? Sinto saudade disso, de não precisar me enganar com mil acasos diversos, só para fingir que te esqueci. Me faz sorrir, faz. Esquenta minha mão, esquenta.

Deixa te contar além da carta que te mandei, te fazer pensar. Pensar que eu te espero, porque eu te quero. Fazer você pensar que quando meu avião pousar, é e sempre foi você, que eu quis ver me esperando só pra me abraçar. É que eu estou voltando pra casa mais cedo e achei que você poderia parar de ter medo do que ainda vai vir. O mundo não é previsível e nós dois muito menos, mas o mundo se ajeita, se quisermos.

A gente vive com saudade, sabe? Não é difícil assim não. Se acostuma, se torna normal. Começa a fazer parte de você e mesmo de vez em quando doendo, você deixa doer, deixa arder. O tempo voa e logo estou na minha casa de novo.

Mas faz assim, segura a minha mão, tá? Não se esquece de segurar. Eu preciso saber que você tem saudade. Me conte histórias, me conte qualquer coisa. Me olhe nos olhos e brigue comigo por eu ter ido embora. Mas quando eu voltar fica comigo, fica. Não vai demorar muito, eu tô voltando pra casa, amor.


Valdagno, 15 de novembro de 2009. 22:00

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Senta aqui, quero desabafar.

Descobri, nesses anseios detestáveis, algum fôlego quase sustentável. E nem chorei mais, ao me lembrar da saudade que me enche o peito. Nem reclamei mais também, nem feri idéias que são incógnitas. Nunca mais senti o peito ardendo e gritando. Nunca.

Veio uma vontade de jogar tudo de saudade fora. Me esquecer nos dias tão tortuosos, me reerguer afinal. Das cinzas virar algo, alguém. Jamais virar o leme tão cedo, porque ainda tempos muito tempo, mas o tempo é curto e ele voa. Voa mesmo!

Aí, veio a solidão dos dias, a dor do nada, só do vazio, que rompe qualquer paz. Veio o desespero e a raiva. Mas o sentimento foi fugaz e se partiu. Onde nada nem mais importou, só o desejo de manter o controle por mais um tempo. Passa tão rápido, não é?

E quando me dei conta, percebi que tudo não passaria de solidão. Mas a solidão de realmente só, de tudo se encher, nem só de ar, mas de vácuo. Mas é esse o motivo, provavelmente. Ser sozinho.

Minha cabeça batucou, ao me fazer pensar no porque de ser sozinho. Aprender a ser quieto e indiferente? Quase odiar alguma convivência? Mas depois, já pensei que você só da valor, quando não tem mais. Aí não tive, aí respirei. Tô dando valor, diria meu pai seriamente.

No vai e vem dos pensamentos, me deprimi esse tanto. Tanto cansado de tantas comédias mal realizadas. Aí, perdeu a graça pensar e sentir. Deixei saudade bater, bem forte. Mas só deixei, pois não quis sentir.

Ando contra a maré, nesse meu eu solitário. E respiro bobagens alheias, só pra ficar tudo bem. De fato, sempre – ou quase sempre – está. Respira, respira. Daí vem a paciência, atrasada. Por último vem a vontade, brigando com a saudade.

Demorei, mas vi os milhares de acasos, casos. Já nem sei como chamar. Mas eu vi. Casos ou acasos só me desprenderam de lá, sabe? Do lugar do outro lugar do oceano.
Ah, só quero crescer um tanto mais. Quero ser tão séria, a ponto de quando rir, rir gostoso e deixar todos curiosos sobre o que tanto me faz rir.

Então não larga a minha mão e deixa eu contar de quando me apaixonei por aqui. Foi exatamente quando eu sorri, sem me importar com a solidão que me alcançava ou com a saudade que nem mais me largava.

Espera, que agora começou a tocar uma música que me faz lembrar de quando pequena. Quando eu, meu pai, minha mãe e minha irmã íamos na casa de um casal amigo dos meus pais. Já faz um 13 anos, talvez. É, o tempo corre e já nem podemos fazer nada.

A chuva cessou um pouco, acho que vou me apaixonar de novo pela vista. Sabe, só para no ar minha mente concretizar, de repente, uma possível estada mais longa por aqui. Ah, se alguém me escutasse agora. Pensando bem, vou lá tomar um café e não sentir o tempo passar. Só pra saudade não vir.


Herbeumont, 5 de novembro de 2009. 12:13

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Por acaso, descobri.

É que se eu soubesse... Se eu soubesse do tamanho da falta que você me traria, eu deixaria a porta do meu quarto aberta, só para sempre te ver passando. Eu levaria minha televisão para seu quarto e assistiríamos todos os filmes possíveis. Se eu soubesse do tamanho da saudade, eu não reclamaria da comida e te ajudaria a fazer. Porque hoje eu sinto falta daquela sua comida, aquela mesma, que eu sempre reclamava.

Se eu tivesse noção da falta que você me faria, eu dormiria contigo todas as noites, durante seis meses antes. Igual eu fazia quando eu era pequena, sabe? Se eu soubesse, eu acordaria todo dia de manhã mais cedo, só para fazer um café da manhã. Se eu soubesse do tamanho da saudade, acho que eu deixaria os amigos um pouco de lado.

Se eu soubesse que todo dia de manhã eu sentiria falta de você me acordando, eu sempre dormiria por mais cinco minutos, para você sempre me acordar de novo. Se eu tivesse idéia da falta que o seu Nescau me faz, eu teria trazido barris comigo. Se alguém tivesse me dito que seria assim tão grande essa falta, eu teria conversado um pouco mais contigo. Talvez eu tivesse te olhado um pouco mais.

Talvez, se eu tivesse noção da saudade, eu teria pedido para o tempo andar um pouco mais devagar e toda vez que saíssemos juntas, eu andaria abraçada contigo. Se eu soubesse do tamanho da saudade, eu teria brigado um pouco mais com você, só para depois você vir e me abraçar. Quem sabe, eu até mesmo deixaria meu quarto ainda mais sujo, só pra você ter de passar mais vezes o aspirador e eu te ver entrando no meu quarto mais vezes.

Se eu soubesse o tamanho da saudade, eu teria dormido do seu lado todas as noites depois da uma da manhã e acordado às cinco da manhã, só para ficar mais tempo contigo. Quem sabe, teria aprendido a fazer pão ou pirogue! Teria feito mais brigadeiros. Quem sabe, eu lavaria mais a louça, te ajudaria mais na casa. Apertaria mais os gatinhos, só para eles ficarem mais comigo e te encherem um pouco menos.

Quem sabe, honestamente, quem sabe se eu soubesse do tamanho da saudade, eu teria te abraçado bem mais forte naquele último dia, teria te dito mais uma vez que eu te amo. Se eu soubesse do tamanho da saudade que eu iria sentir, eu voltaria correndo e falaria “não há ninguém como você, eu te amo”. Só mais uma vez. Se eu soubesse do tamanho da saudade...

- Para a melhor mãe, é claro.

Valdagno, 29 de outubro de 2009. 22:34.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Monólogo a dois: eu e comigo mesma.

Certo dia me lembrei da primeira vez que um garoto se interessou por mim. Ainda era aquela garota desengonçada, que adorava se vestir diferente do resto, com aparelho nos dentes. Um dia descobri que o meu “melhor amigo” queria ficar comigo! Bom guri, que sempre esperava seu pai depois da escola, no mesmo lugar que eu. Tínhamos 11 anos e a idéia de beijar um garoto era uma grande novidade!

Foi naquelas festas que acabavam 23:30 e achávamos o máximo. Na hora H eu disse não! Olha o medo de beijar pela primeira vez! Depois foram três anos correndo atrás da criatura. Três anos amando e odiando aquele imbecil. Três anos sendo ignorada pelo “senhor perfeição”.

Aí bastou um verão. Ambos crescemos, amadurecemos e admito, mudei da água pro vinho. Ele deixou de me ignorar e até trabalho de escola fizemos juntos. Aí percebi que se eu fosse incrível, os imbecis iriam gostar de mim. 

Enfim, desde o começo, a minha vida amorosa é um caos.

Sempre choro quando tudo acaba, aí um tempo depois já me apaixono de novo. Acontece que sempre aparece alguém para colar o coração, mas nunca usam Super Bonder, só usam cola Pritt. Aí são desastrados e derrubam o coração ou eu mesma arranco da mão do garoto.

Quando me destroem, amo culpar aquela festa que tocou até forró. Maldita festa em que toda menina se sentava e esperava um menino pedir para dançar. Maldito garoto que me chamou para dançar toda música a dois. O dito cujo ainda me perguntou se eu estava de batom, quando pediu pra ficar comigo. Pediu!

O coração do “meu melhor amigo” até então, foi o primeiro coração que quebrei. Mas para compensar, ele esmagou o meu pelos próximos três anos! Com 11 anos eu já era burra e caía em qualquer palavra doce de um filho da mãe.

Eu sei que meu coração é cansado e ferido, eu sou quebrada em mil pedaços. Vejo que eu sempre desisto. Mas de vez em quando penso que meu pai tem razão, sou rabugenta, mas sempre tenho amor. Deus! Haja amor pra mim, hein...

Culpo meu primeiro namorado também, por sempre fugir do amor. Tem melhor e mais assustadora coisa que alguém amar você? Tem! Amar quem também tem medo! Ah, vida desgraçada!

Eu sou de pedra e de plumas. É! Lembro que já quase morri pelo fim de alguns amores. Lembro que quis fugir da vida ou então mudar ela toda, para agradar qualquer idiota que não sabe nem mentir sobre os créditos do celular.

Sou um pouco certeza e um pouco confusão – maior parte confusão. Quebro e sou quebrável. Talvez eu seja apenas inocente demais ainda. Ou tenho olhos cegos diante as maldades do mundo ou melhor, do amor. Sim, talvez eu seja um pouco romântica demais também. Mas quando eu tinha meus 5 anos de idade, adorava brincar de Princesas Disney e ser a Bela Adormecida. Nunca gostei muito da Cinderela.

Olá, cadê o príncipe que me acorda? Ah é, já tinha me esquecido. Eu sendo ridícula, deixei de acreditar em príncipes depois que aquela mula de 11 anos de idade quebrou pela primeira vez meu coração. Mas agora, já grandinha, não espero o príncipe que me acorde. Mas sim um vampiro que se apaixone por mim. 

Céus, que vida amorosa depressiva.


Valdagno, 20 de setembro de 2009. Durante alguma hora do quarto horário.

sábado, 17 de outubro de 2009

Das cinzas, uma Fênix.

“É preciso virar cinzas, para se nascer de novo”. Assim eu levo a metáfora da Fênix, que eu tanto amo. A metáfora de virar cinzas e delas, renascer. Como se precisasse morrer, para saber qual o valor da vida. Se bem, que talvez seja assim mesmo. Precisa fechar os olhos num último suspiro, para se dar importância aos tantos outros que já deu.

Gosto de seguir calada, com uma música no ouvido – algo que me agrade muito – e observando tudo a minha volta. De vez em quando sorrindo, outras tantas chorando. Quando creio ser conveniente, falando. Vou andando, um passo por passo, até chegar ao topo.

Mas de vez em quando, para se chegar ao topo, você precisa aprender sobre a vida e não simplesmente caminhar. Não são os dias que farão chegar ao topo, mas sim a vida. Os dias apenas se arrastam, na mescla do devagar e do rápido. Para se chegar ao final, você precisa vencer a vida. Precisa usá-la de todas as maneiras possíveis. Precisa respirar vida e assim, dizer com convicção, que a vida lhe ensinou.

Assim, sendo uma Fênix, eu começo a sentir o gosto de estar aqui. Mesmo cansada, eu sigo. Devagar, porque ter pressa nessas horas não tem graça. Sigo os meus passos, o meu limite. Sigo a minha velocidade, diante a velocidade dos dias. Deixo, desta maneira, os dias correrem como o vento, mas eu continuo devagar, assim como uma folha que o vento esqueceu de carregar.

Não é assim, tão fácil. Mas jamais será tão difícil. Onde no final, eu terei mil histórias de se surpreender para contar. Onde no fim de tudo, talvez eu realmente só queira chegar em casa e descansar, como há tempos não descansava. Assim está bem, assim, esperar o tal dia de retornar chegar.

Ontem eu fui cinzas. Eu morri, engoli minhas lágrimas, me afoguei nelas. Ontem, eu fui tudo aquilo que nunca fui. Cheguei ao meu limite, na minha incerteza. Cheguei na minha confusão eterna. Quebrei meu coração, quebrei minhas verdades, quebrei ao viver de saudade. Agora eu sei, renasci.

Quando estava tendo uma conversa aconchegante numa pizzaria local, eu vi o quanto cresci em apenas um mês e meio. O quanto mudei, quis mudar. O quanto comecei a acreditar em mim, de novo. Mas custei para seguir em frente, para deixar de lado os abismos descomunais que me seguiam. Admito que cresci quando quebraram meu coração, quando comecei a ver que precisava pensar e confiar em mim mesma.

Renasci, da maneira mais singela possível. Agora, com algumas lágrimas, com algumas perdas dentro de mim, eu continuo. Fazendo a minha história, para os outros admirarem. Para eu mesma me orgulhar e dizer o quanto fui brava comigo mesma e cheguei aonde cheguei. Mês passado eu era a Fênix quase morta, logo depois eu virei cinzas. Hoje, eu sou o pequeno filhote de Fênix que tem de aprender algumas coisas ainda, antes de voltar pra casa.

Hoje, me faço de um pouco de saudade. Um pouco de vozes e cheiros, um pouco de sorrisos e lágrimas. Me faço de cansaço e desprezo, de desistência e vontade. Hoje eu me faço de italiana, portuguesa e inglesa. Hoje eu me faço contente, com pequenas coisas. Hoje eu me faço de esperança, ao ter um abraço certo me esperando no aeroporto. Com o mesmo cheirinho de sempre. Hoje e até o final disso tudo, eu me faço de amor, por amar e ser amada. Por ter paciência de esperar o novo reencontro.

“Eu, saudade e você.”


Valdagno, 17 de outubro de 2009. 14:38

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Ninguém te abala, só você mesmo.

Antes de partir, cerca de dois anos atrás, uma garota tentou me ensinar sua última lição, com os seguintes dizeres: “não deixe ninguém te abalar. Você é tão forte, nem sabe o quanto é, mas é! Esqueça os sentidos, esqueça o mundo, você é bem mais do que ouve, do que vêem de ti. Esqueça, esqueça tudo! Principalmente, não se abale. Simplesmente isso”.

Havia esquecido por um ano e meio – receio. Coloquei tal pensamento lá no final, como uma lição bem dada, porém nada aprendida. Hoje, no entanto, a nostalgia me levou a um texto de dois anos atrás – exatamente - e adquiri a lição novamente, desta vez , pensei antes.

Respiro, passo a mão no cabelo gorduroso, afinal havia feito hambúrgueres para matar minha maldita fome. Meus olhos estão cansados, quase se fechando, mas como eu odeio dormir assim, tão cedo! E eu ando sempre cansada por aqui, sempre pensando no que falar antes de abrir a boca, mas mesmo assim, não falando quase nada com nada.

Enfim, pensei. Ah, como pensei! Pensei nos dizeres “nada e nem ninguém pode te abalar”. A questão é que, ela não disse “pode” ela disse “não deixe, porque não pode”. Me sinto estúpida por raciocinar tal lição tanto tempo depois, mas admito que ela, a tão grande amiga, tenha razão. O que pode me abalar mais do que eu mesma? O que pode me destruir mais do que eu mesma?

Convenhamos assim, que a força não vem dos outros, mas sim de nós mesmos. Assim como a esperança, ninguém a proporciona, nós a proporcionamos. Nós escutamos a piada e rimos, escutamos o drama e choramos, mas temos a escolha de não rir ou não chorar. Temos a escolha, todo o tempo, do sim e do não. Podemos, num meio confuso, seguir em frente, assim, só porque acreditamos em nós mesmos.

Sei que no momento tenho 15 mil km me distanciando de casa, dos meus amigos. Me distanciando de tudo o que eu mais amo e preciso pra sobreviver. Mas a escolha é só minha, sobre todos os dias tentar um pouco mais e assim, chegar ao topo. E a tal força, que eu sempre pensei que fosse vir dos meus amigos, na verdade vem de mim. Meus amigos apenas me apóiam, me seguram para eu não cair.

Admito estar cansada e provavelmente pensando coisas que lucidamente eu não pensaria, mas no momento de êxtase eu pensei nisso. “Olá, força. Agora eu sei que você existe mesmo quando meus amigos não me abraçam. Porque depende de mim e só de mim, basta isso.”, eu diria agora se a força fosse um humano. Quando eu quiser ser mais forte, eu serei mais forte. Se eu não acreditar em mim mesma, quem mais vai acreditar? Ninguém.

Receio que antes de qualquer pessoa, eu precise de mim mesma. Preciso do meu coração, da minha razão, da minha vida. Antes de qualquer coisa, preciso sorrir, assim o mundo pode sorrir junto. Preciso mostrar a mim que eu posso chegar até o final, basta tentar.

Todos estarão me esperando quando eu voltar, com mudanças ou não, estarão. Porém, assim como todos mudarão, eu também mudarei. Ninguém congelou no tempo, muito menos eu.


Valdagno, 8 de novembro de 2009. 22:20

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Onde o mundo parou.

Hoje a Itália nasceu preguiçosa e dolorosa. Tão dolorosa que me fez faltar ar e pensar em tantas coisas. Hoje a manhã chorava e respirava devagarzinho, enquanto eu apenas me mantinha segura na minha cama – não minha, da casa. Com os olhos tão fechados que nem precisava do breu do quarto pra brincar que era noite.

Como sempre o dia se arrastou, mas ao chegar ao final do dia, tive a impressão de que passou tão rápido que eu nem pude senti-lo. Hoje o dia morreu e nasceu várias vezes, ou talvez o tempo tenha morrido e nascido várias vezes. Por hoje, assim como por todos os dias, o inglês se misturou com o italiano, que me faziam pensar em português.

Assim tão longe, eu só penso em voltar. Mas a duvida, afinal não é como voltar – afinal já tive a proeza de descobrir – mas sim de como agüentar até a neve cair. Essa cidade deve ser tão linda com a neve! Queria ficar aqui e ver as lágrimas de neve que caem do céu a partir de novembro – num talvez bastante duvidoso.

Só quero ouvir uma voz carinhosa, me chamando para um café quente durante a tarde que insiste em continuar vagarosa e ociosa. Talvez, na realidade, tudo o que poderia me salvar não seja o café – apesar de que adoraria tomar um agora – mas sim um abraço. Daqueles que você não respira, sabe como?

Chego numa conclusão: abraços, assim como sempre falei, realmente conseguem salvar a sua vida. Um abraço, um único. Daqueles que o perfume da pessoa impregna em você, daqueles que você sente o coração do outro batendo junto do seu. Um abraço salvador, um abraço tranqüilo e forte. Só precisava disso para continuar, seguir em frente da maneira que não sei como é. Num abraço você encontra forças que nunca encontraria.

Veria a neve, afinal. Se eu tivesse um abraço verdadeiro todos os dias. Porém, devo me perguntar, onde estão os super-heróis? Aqueles que me abraçavam quando eu insistia em desmoronar. Ó céus, onde estão os super-heróis? Eu os perdi no meio do caminho e eles se perderam de mim. Ou eu os perdi quando me perdi de mim mesma?

Às vezes o tempo salva alguma esperança. Às vezes alguma esperança salva o tempo. De vez em quando os dois se afundam. Mas não vou mentir, aquela noite me fez rir até a barriga doer, com havia tempo eu não ria. Aquela noite salvou a minha vida por aqui. Mas logo depois amanheceu e o dia pareceu duro novamente, hoje amanheceu de novo e a tal vida morreu, como se não fosse novidade.

É o esforço que ninguém vê. Aquele que você da o seu melhor, mas o seu melhor não é o melhor para os outros. E assim começam a passar os dias, onde me agarro ao ar, fingindo que consigo me manter viva, totalmente viva por aqui. Oi, solidão. Você tem se tornado a minha melhor amiga e a pior inimiga. Quem é que disse, afinal, que a vida ia se quebrar?

O meu mundo ta ruindo, minha vida ta ruindo. Tenho perdido minha vida aqui e a minha lá, então pergunto, e agora?


Valdagno, 5 de outubro de 2009. 20:00

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Por um minuto de silêncio.

A noite cai com preguiça, arrasta contigo estrelas cintilando vida. Um minuto de silêncio foi dado, alguém faleceu, mas não se sabe como, não se sabe quem. A noite se aconchega na pequena cidade, a lua embeleza as montanhas negras. O silêncio agoniza e respeita as lágrimas, os gritos, a dor.

Esta noite ninguém dorme, os fantasmas estão percorrendo o mundo, procurando novos lugares escuros o bastante. Esta noite ninguém ri, ninguém conversa. Ninguém tem vida. Mas o sol não quer nascer, porque esta se apagando. O sol não quer mais viver. A lua grita, com raiva dizendo que quer ir embora, mas o sol não volta. O sol não ilumina mais aquelas montanhas, aqueles olhares.

Traga chuvas então! Encharque esses corações tão frívolos! Regue os jardins tão bem cuidados, tão esquecidos. Rasguem as nuvens, destrocem o céu, sequem o oceano, tranquem os bares. O sol não quer mais voltar e a lua chora e roga pragas, pois odeia iluminar montanhas tão solitárias.

Aquecem com fogo os sentimentos, desliguem o vento! Apaguem a vida! Sosseguem as risadas, abaixem a cabeça. Não durmam, não durmam. Peçam para o sol voltar, peçam para iluminar seus olhos, seus sorrisos. Peçam para haver brilho, peçam para ele não me esquecer. Peçam para ele vir me buscar. Ignorem os sinos da igreja, ouçam a vocês mesmos. Encharquem seus corações frívolos, amoleçam seus sentimentos. Destrocem o céu, destrocem!

Quebrem a grande roda que gira o mundo, eu quero descer.


Valdagno, 21 de setembro de 2009. 21:47

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Tentar, falhar, voltar.

A chuva cai sem trégua nessas tardes ociosas de final de primavera e esta, lentamente se entrega para o frio do outono, entrega sua cor saturada para um cinza indecifrável. E talvez, em meio a lágrimas e sorrisos tão falsos – que ninguém acredita – a dor acumulada já não sabe mais se fica ou vai embora, já não sabe quão grande é.

O tédio tem se aconchegado, permanecido em harmonia dolorosa junto à saudade. Muitas vezes – ou talvez o tempo todo – eu apenas sinta vontade de correr, voltar pra casa correndo, porque não sou daqui. Não quero ser, não gosto ou nem desgosto, apenas não. É uma simpatia muito falsa, rodeada de sorrisos tão falsos quanto, fingir incondiocinalmente que você é bem-vinda – quando na verdade, tanto faz.

“Seja forte” é o que tantos falam, mas quando o silêncio mora na cama ao lado e o tédio te preenche, ser forte é a última coisa que consegue ser. Lágrimas choram e não cansam de chorar e o mundo desaba e não para de desabar. Não tem apoio, não tem ninguém e a causa mais próxima que você tem para continuar é “não decepcionar os outros”.

Mas afinal, quem se enche de saudade não se importa se é hoje ou amanhã. Não se importa se vai voltar ou não e a frustração apenas serve para mostrar que o momento ainda não chegou, que a hora simplesmente não é agora. Afinal, a frustração nós deixamos de lado e passamos a ver que ao menos tentamos.

Tentar é o que descreve bem essa minha vinda. Tentar ter forças e acreditar que as tenho – mesmo quando elas não existam mais - me submeter a um mundo novo, mesmo não gostando tanto assim. Mas quem sabe seja do meu limite que eu queira falar, o limite que eu tenho, o limite que a minha força tem.

“Quando não agüentar mais, volta”. Acredite, tudo o que eu mais quero é fazer as malas e voltar, resgatar a minha vida novamente. Chega dessa tentativa que até agora, está frustrante. E não, por favor, não venham dizer a mim que não tenho tentado o bastante, que tenho apenas jogado tudo pro alto. Porque a agonia me prende o dia inteiro e por mais que eu tente, a solidão me abraça demoradamente. Rodeada de pessoas eu me sinto sozinha, uma única, uma perdida e só.

Num doloroso lamento eu digo que não como, não durmo e não tenho mais vida. Toda vez que fecho os olhos me encontro em casa, com minha família e meus amigos, nessas horas eu simplesmente me pergunto “porque me deixaram vir?”. Eu realmente não entendo e não creio que eu vá entender.

“Então volta agora” eu escuto dizerem, mas essas falas só minha cabeça escuta, porque meus ouvidos não. E não, eu não quero continuar. Porque eu tento, mas sorrir é difícil e ter uma vida mais ou menos e cheia de saudade, é algo que ninguém consegue conviver. Só quero meu cheiro, minha casa. Talvez eu tenha medo de tentar, de ficar tanto tempo longe. Então por favor, num último pedido sufocante: alguém vem me buscar?


Valdagno, 14 de setembro de 2009. 18:07

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Pedaços que deixei para trás.

Hoje a alma se fere, se agoniza. Hoje a alma anseia ter mil medos e não agüentar todos eles juntos. Hoje a alma chora e se esquece de voltar. Hoje e por todo o tempo, a alma se perde, se despede. Se distrai ainda calada, se distrai ainda chorosa. Só por hoje e por todo o tempo, a alma sente falta de casa. Sente falta de nós, sente falta deles.

Mas a saudade dói, a saudade bate incansavelmente. A saudade é dolorida e rasga a carne dos mais sensíveis sentimentos, dos mais sensíveis pensamentos. Hoje a saudade guarda segredos, que não se entende.

Mas eu sei - ou talvez eu ousasse saber – que a saudade machuca mais no hoje do que no depois. A saudade agora é na ferida que se transborda de sangue invisível a olhos frios. Novamente estou no velho ditado de dias “todo dia a mais é um a menos também”. O tempo corre, rasga a linha inexistente rapidamente. O tempo voa e a saudade cresce.

Sinto que cresce, mas não se esquece. Os pensamentos aguçados e cansados de solidão reparam mil idéias insolúveis, no momento. Em meio a confusões as idéias parecem menos abstratas, por mais impossíveis e inúteis. E talvez – repito num talvez meio equivocado – sinto que a saudade de agora dói, a saudade que se estende nos dias que custam a passar. Porém, com fé na rapidez dos dias, os dias se tornam semanas e logo após, meses muito rapidamente.

Nessa solidão involuntária, nessa necessidade de vozes que me entendam, eu procuro idéias e planos pra fazer o tempo parar de se arrastar. Por sutileza do destino ou da minha agonia que queria ir embora depressa, me deparei com o pensamento que a dor da saudade de agora é maior do que a dor da saudade de depois. E quanto mais tempo eu permanecer aqui, maior será minha saudade, mas menor a dor que vem com ela, pois é inevitável pensar que um mês a mais aqui, é um a menos para eu voltar.

Essa casa é recheada de risadas, mas o silêncio prevalece ao me dar conta que estou tão longe de tudo e de todos. E tenho contado as semanas, num calendário imaginário. Afinal os dias se tornam lentamente em “vários” e os meses são muito longos enquanto passam. Por algum motivo – não me perguntem qual – é reconfortante sentir as semanas passando, pois é uma soma de vários dias que por acaso, passam devagar. E precisamos esperar apenas quatro semanas, para sentir um mês indo embora.

Creio que minha mente ande um pouco caótica, de tantas transbordáveis solidões e receios. Também creio que meu relógio não queira passar, apenas pra brigar com os meus pensamentos – quando estes pedem ao vento pra trazer o cheiro de um certo alguém. E as horas rodam devagar por aqui e o dia demora para se tornar noite.

Assim, inocentemente, ando seguindo minha vida incalculável. Repito idéias e planos e amorteço minha vida com ilusões de tempos. Conto semanas, para a rapidez se tornar verdadeira e sigo com a idéia, talvez incoerente, de que quanto mais os dias passarem, mais perto estarei de casa e assim, menor a maldita dor incalculável da saudade.

Guardo comigo, sem receios, pedaços que deixaram comigo. Para lembrar, por humildes objetos e cheiros, do que deixei pra trás por alguns meses. E tenho assim, pedaços deles comigo, pedaços que não me abandonam, que me seguem. Que me fazem voltar pra casa, por alguns segundos, ao fechar os olhos.


Valdagno, 10 de setembro de 2009. 14:49

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O cá do lá, o medo de ir.

Mas o relógio não se esquece de parar, o tempo não se esquece de passar. Os dias não se esquecem de se tornarem noites e a cada dia mais é um dia a menos. A saudade está doendo, está ardendo desde já. E o medo, o que se faz com o medo? Onde o guarda, afinal? Onde escondo esse rosto assustado, esses olhos inchados de tantas lágrimas.

Eu quero partir, mas não quero ir embora. O que estarei deixando para trás? O que estaremos deixando para trás? E as pessoas, quantas vão lembrar, quantas irão se esquecer? Quantas vão deixar de lado tudo, o nós? Somos, éramos. Sempre éramos nós. O sempre gosta de acabar. Sempre gostou.

Desfechos se montam em minha cabeça e dói absurdo. Dói em lugares que eu nem sabia que poderia doer. Dói a solidão. Dói a gente. Dói o que não passamos, o que nos esquecemos de passar. O que nos esquecemos de deixar para trás ou o que não conseguimos deixar. Vocês. Não sei deixar para trás, não consigo.

Queria sobreviver inteiramente a tantos terremotos e furacões. Mas minha cabeça está curva, cansada. Minha cabeça está dolorida. Eu não sei ceder a solidão, não sei esquecer assim e seguir tão calada. Não sei deixar o medo para trás. Já tenho sentido falta das vozes, dos cheiros. Tenho sentido falta de lá, de cá. Da gente.

- Três dias e uma saudade apertada. Dolorosa e gostosa segunda-feira está para chegar.


Curitiba, 28 de agosto de 2009. 00:34.

sábado, 22 de agosto de 2009

Não que alguém ainda sinta falta, mas...

Tantas vezes passei ali na frente, despercebida, não me lembrando de nada – ou quase nada. Fato é, nunca dei importância. Já tinha sido há tanto tempo! E – me perdoem os frios e calculistas – a saudade dali era dolorosa. Muito dolorosa. Doce, mas dolorosa. Arranha até o peito, com uma vontade de explodir. Uma saudade percebível, absurdamente nítida em sorrisos ou lágrimas. Percebível.

Mas ao pisar naquela grama – começaram a cortar depois que paramos de ir lá – e sentir o cheiro do passado entrando em minhas narinas, vi vultos do passado correndo por ali, andando por todos os lados, ouvi risadas e vozes, músicas e violão. Vi vinhos e cigarros jogados ao chão. Pisar naquela grama me levou para anos atrás. Me apertou bem forte, me fez sentir falta. Tirei a falta do armário, falta tal que já não sentia há meses!

E eu caminhei com calma, respirando lembranças. Vi fotografias na memória, vi momentos em flash back, senti tudo de novo. Me levei - por curiosidade - até o final daquela praça, e entre muitas árvores eu tive de descobrir qual era a certa. Não demorou muito, admito, para encontrar a tal árvore marcada com a cicatriz que lhe causamos, com nossos dizeres dentro de um coração: A + N = EVER. E ao lado um “EU TE AMO”.

Sempre! Melhores amigas para sempre, gêmeas siamesas para sempre! Achei que a nossa amizade suportaria tudo o que aquilo não suportou. Nunca deixei de acreditar na nossa amizade, algo que parecia ser mais sincero, ser mais real do que toda aquela ilusão. Se houvessem dias que eu achava que toda aquela diversão naquela praça, era inútil, eu mudava de opinião em instantes, apenas porque eu sabia, nossa amizade seria eterna.

Mas naquele tempo, esquecemos da realidade. Deixamos o dia facilmente passar, o tempo nos consumir. Talvez não haja fotos nem vídeos, não haja melodias. Talvez não haja saudade suficiente. Mas eu sei – mesmo que hipoteticamente – que enquanto aquele lugar estivesse vivo nas nossas vidas, era eterno. O eterno se quebrou, então, quando crescemos.

Viramos pó do que éramos e nos tornamos facilmente outras pessoas. Crescemos e acabamos não vendo mais graça em não fazer nada lá. Pois todos concordávamos, fazer nada lá, era melhor que fazer nada em qualquer outro lugar. E preferimos ficar em silêncio, do que gritar as saudades, quando lembramos daquele tempo.

Não é pecado crescer e nem mudar. Acontece que para sempre, aquele cheiro, aquela grama verde, aqueles vinhos, aquelas risadas... Para sempre aquele que era o sempre, vai ficar guardado na memória. E não vai doer, de vez em quando, ver de longe ou de perto. Sentir a grama de novo ou perder um tempo, qualquer que seja, sentado numa daquelas pedras e vendo velhos vultos invisíveis correndo pelo lugar.

Não é que doa, apenas arde o coração ao lembrar de tantas histórias. Só quem viveu, sabe do que estou falando. E não que alguém se importe, mas eu sei que da saudade dos “velhos tempos”, aqueles que não se comparam a nenhum outro.


- Talvez eu realmente precisasse passar lá, antes de ir viajar por alguns meses.


Curitiba, 22 de agosto de 2009. 22:38

sábado, 15 de agosto de 2009

Você impediria?

- Você some vários dias e depois reaparece? Interessante. – falou a menina baixando sua revista.

Um garoto alto e magro sentou na mesma mesa que ela e pediu um capuccino.

- Nunca juramos fidelidade. Não foi assim que você se referiu a nossa relação? – pergunto o garoto, olhando para a garota que o encarava.
- Não era necessário sumir, apenas isso. – jogando as cinzas do cigarro no cinzeiro.
- Você sabe como odeio quando você fuma. – resmungou o garoto colocando açúcar no seu capuccino.
- Oras, não seja tão atrevido! – a garota o olhou fatalmente – Você também sabe como eu odeio quando você some. E você sumiu!

Os dois estavam sentados numa pequena mesa redonda num café de esquina. O dia parecia chuvoso olhando para fora da janela e o pequeno ambiente estava lotado de pessoas. Durante alguns instantes ambos ficaram se encarando.

- Estou indo embora daqui uma semana, caso seja uma informação importante para você. – comentou a menina amassando seu cigarro no cinzeiro.

O garoto apenas a olhou por alguns instantes, sem dizer sequer uma única palavra, fazendo a garota levantar repentinamente.

- Aonde você vai? – perguntou o garoto levantando junto dela.
- Embora. Acho que isso nunca afetou muito você, não? Ou se afetou, você ignorou a situação. – penetrando os olhos do menino – Ignorar a situação. Você é bom nisso.

A garota jogou uma nota de cinco na mesa e olhou o garoto. Então lentamente se dirigiu à porta do café, sem olhar para trás. Quando fechou a porta atrás de si, o garoto a chamou fazendo-a virar para olhar.

- Não vá, espere! – implorou.
- Esperar? Eu tenho esperado há dias, semanas talvez! Você teve todas as chances possíveis pra dizer “não vá”. Mas o que você fez? O que você vai fazer? Me diga! – a garota continha olhos suplicantes.
- Não sei. O que você espera que eu faça? – confuso.
- Resposta errada. Não é o que EU quero que você faça, mas sim o que VOCÊ quer fazer. Não me prenda mais aqui, você não pode.

A garota deu as costas e deixou com que todas as lágrimas do mundo escorressem de seus olhos. Se ele gritou de volta ou não, ela não escutou.


Curitiba, 15 de agosto de 2009. 23:47.

terça-feira, 28 de julho de 2009

O barulho do silêncio.

O silêncio suspirava sozinho. Caminhava pela casa inteira, impedindo risadas e conversas, impedindo a música de viver. O silêncio cercava o coração, fazendo com que batesse devagar, quase sem vida. O silêncio dominava a saudade, dominava o coração e a dor. Fazia lágrimas quentes escorrerem, proclamarem tristeza. Solidão.

E quando a noite chega o quarto não se enche de vozes e risadas, muito menos de filmes rodados na televisão. Lágrimas são constantes e cortam, substituem os sorrisos que antes estampavam o rosto. Fazendo falta em todo canto, em todo lugar. Jamais, nunca é a mesma coisa sem. Não chega nem perto, nem de brincadeira.

A chuva machuca o vidro cansado de ver tantas chuvas, as piadas se esconderam por um tempo. E não tem mais o que fazer e nem o que conversar. Não existe mais música para se cantar, muito menos maquiagem para se passar. Os olhos não brilham mais e os sorrisos não aparecem. Não tem mais motivo, não tem mais colorido.

Hoje amanheceu nublado e quando olhei pra cama debaixo, não tinha ninguém. Quando queria contar o porquê das minhas risadas durante a tarde, não havia ouvidos para me ouvir, seja o que fosse. Não havia mais olhos para me olharem e dizer “já está tudo errado mesmo”. Ainda há gargalhadas ecoando na minha cabeça, segredos guardados. Ainda há o maldito cheiro de cigarro impregnado no meu nariz. Ainda há as marcas das garrafas de cerveja na minha mesa. Ainda há sombras suas por aqui.

Não têm nenhuma foto que marque nosso tempo, nossos dias. Mas há lembranças que rasgam as saudades, rasgam o tempo, o relógio e o calendário. Há o cheiro que não quis ir embora e pequenos flashes que vem à minha mente. Que traz à vontade de ligar o rádio e escutar as nossas músicas a madrugada inteira.

O café está esfriando e a música lenta se torna depressiva. Há rabiscos na mesma velha folha de papel e uma caneta que já perdi a conta de quantas vezes caiu da mesa. Qualquer barulho parece querer substituir inultimente a sua falta. Qualquer risada mais alta parece querer tampar o buraco que você deixou, o silêncio que ficou. E agora está anoitecendo e a dor está acentuando.

É muito tempo, mesmo que digam “apenas um ano”. É tempo demais, sem você. O que dói mais é ter de levar fotografias, esperando que sustentem as saudades. Levar cheiros e objetos, esperando que façam do vazio e da escuridão menos assustadora. Levar as saudades de você que são adiantadas de um mês. Levar aquele abraço, aquele forte abraço que você me deu antes de subir no avião. Respirar e apesar de tudo, sorrir, ao saber que eu fui a primeira pessoa que ouviu um “eu te amo” vindo de você.
Eu perco a graça sem você e todos podem ver.


- À melhor amiga londrinense que alguém poderia ter. Odeio te ver partindo e ter de esperar a demora de um novo encontro.

Curitiba, 28 de julho de 2009. 00:35 am.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O passado, na nossa música.

O rádio cansado tocou nossa música novamente, tocou bem alto, parecendo gritar as palavras para ouvirmos atentamente. O céu estrelado parecia jorrar todos os segredos, tornando extremamente cintilante a noite, fazendo a vontade ir à flor da pele ou talvez fosse isso que parecia. E quando você me olhou nos olhos e sorriu, eu sabia que a nossa música havia voltado a ser importante, simplesmente única. Como sempre.

Você entrou na mesma velha casa pela porta da frente, ligou a TV e nos fez rir do mesmo velho programa bobo que adorávamos assistir todo sábado de tarde. E era o passado, aquele tão perfeito que suspiramos ao lembrar, tal qual sempre engloba nós dois, é claro. O passado que adoramos lembrar, nos detalhes mais indispensáveis, nos aromas mais marcantes.

O seu cheiro me lembra cada segundo do que já passamos. E quando sinto o seu perfume posso me lembrar como se fosse ontem de todo o resto que deixamos para trás. Mesmo que seja um absurdo, eu quis tirar o pó da nossa música, quis escutá-la novamente com você ao meu lado, quis sentir o seu abraço, quis matar as saudades. Quis fazer o passado voltar a nós, ao dançarmos ao som da nossa música nem que fosse uma última vez.


Curitiba, 21 de julho. 3:28 am.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Se não fosse só. Assim, sozinho.

Já é tão inultimente cansada essa história. Uma ida de cá e outra de lá, uma pausa para qualquer sentimento. Um vazio que se cria no peito, um tremor e uma confusão. Uma mistura indecifrável de sentimentos à flor da pele, te enlouquecendo, te esquecendo, te deixando pequena. Só o pó, eu diria. Só o pó.

Se for verdade, verdade cortante e irritante. Amor que veio à tona, apenas porque a carência tomou o coração, a solidão se acomodou na alma. E ser sozinha, afinal o que é ser sozinha? Se esquecer de nós, de todos nós. Deixar o escuro chegar, deixar a vida se aproximar. E te esquecer, em inúteis vontades relevantes, pensar em te esquecer. Apenas isso, te esquecer.

Agora que me ponho tão perto de ti, minha vontade é apenas de esquecer que você está tão próximo. Deixei escorrer de meu peito meus sentimentos mais puros por ti, pela humilde vontade de não querer sofrer. E você não vem procurar, não grita meu nome torcendo para que eu procure. Você apenas deixa o coração ardendo, se fazendo de frio, enquanto os sentimentos te deixam na solidão. Enquanto o amor, tão sábio e verdadeiro, apenas te abandona, ao ver que você não corre. Ao ver que você não se importa.

Hoje eu quero me deixar levar. Encontrar vários ou apenas um. Encontrar tudo, menos você. Deixar claro que o nó na garganta não é por lágrimas agonizadas de tristeza, mas sim de gritos de alegria não permitidos. Porque eu estou aqui e não mais lá e hoje quero dar motivos para essa cidade continuar tão colorida, cansei de vê-la assim, tão cinza. Preciso por cores, tais quais que haviam quando ainda existia você em mim.

Mesmo que não fosse para machucar, mesmo que os sentimentos tão reais lhe queimassem o coração, você não deveria, você não poderia ter partido assim. Dando motivo da viagem, dizendo que seria muito tempo, dizendo que isso impediria de os planos continuarem bem. E apenas virou as costas e foi, se esquecendo de continuar, se esquecendo de permanecer aqui.

Certamente e inultimente eu admito, não sei saber da solidão, mesmo sabendo que ela saiba muito de mim. Já sei ser muito sozinha, mas não sei mais ser. E posso estar aqui ou em qualquer outro lugar, cansei de estar só. Dói.


Londrina, 10 de julho de 2009. 18:57

domingo, 21 de junho de 2009

Nunca é tarde.

- Você se apaixona por mim agora, não? – perguntou a menina com um sorriso de canto.
- Como pode ter tanta certeza, afinal, nunca disse nada sobre isso. – respondeu o garoto, retribuindo o sorriso.
- Não sei, seus olhos me denunciam algumas coisas.
- E no momento, o que eles te denunciam? – perguntou o menino intrigado.

A menina encarou o garoto bem nos olhos por alguns segundos. Os dois estavam sentados na grama, um de frente para o outro, a única coisa que os iluminava era a luz das estrelas e da lua. Fazia uma linda noite de outono.

- Vamos! Você está me deixando envergonhado! – brincou o menino.
- Calma, deixe-me ver. – ainda encarando os profundos olhos verdes dele.

O menino sorriu para ela e deixou com que se olhassem mais alguns minutos nos olhos, enquanto o silêncio os cercava.

- Não sei... Receio que eles me dizem que você está feliz e que você tem medo de se aproximar. Sei também que você não sabe chorar, nem quando te quebra o coração. – concluiu a garota que agora, sorria – Sei te dizer que seus olhos me parecem aborrecidos e que são negados de muitas visões.
- São negados de muitas visões? – perguntou o menino confuso.
- Sim, você ignora o que eles vêem. Deixa para depois, deixa para nunca.
- O que você acha que eles vêem agora? – perguntou o garoto, agora encarando a menina profundamente nos olhos.
- Vêem a mim querendo conquistar seu coração, mas são ignorados por você e seus sentimentos frívolos. – a menina respondeu baixando a cabeça.
- Você sabe de muitas coisas, isso me surpreende.
- Vejo apenas os seus segredos que você joga no chão. – comentou a menina encarando o garoto.

- Tenho de te admitir uma coisa. – o menino disse espontaneamente, olhando pra menina.
- Pois diga. – sorriu ela.
- Seus olhos da cor do céu me encantam todos os dias desde que nos conhecemos, seu sorriso é fascinante. Você pode estar aqui ou em qualquer outro lugar, mas eu sei que continua ao meu lado. E não, eu não sou apaixonado por você. Sou simplesmente louco por você. Tão louco que eu poderia estar em qualquer outro lugar, você sabe, mas eu prefiro me manter aqui e contigo. Porque eu sei, eu preciso de você. E se demora tanto para eu conseguir ser feliz é porque eu nunca tinha encontrado algo tão extraordinário. Você se tornou a minha vida e isso me assusta.

sábado, 6 de junho de 2009

Queria ser outro alguém, por um dia.

“Você gosta da sua vida?”, ele perguntou tão inocentemente, talvez até mesmo esperando não receber resposta alguma. “Não sei, às vezes... não sei”, respondi sem nem saber o que estava respondendo ao certo.

É uma pergunta bastante complicada, pois a vida tem seus altos e baixos, tem as suas dores e as suas alegrias. Não sei responder ao certo, sei que no momento uma avalanche de sentimentos passa por aqui, qualquer um, cada um. Eles gritam, eles chamam, mas eu não quero ser chamada, não quero ser ouvida. O que está se passando aqui exatamente? Nada, ou tudo talvez. Depende da cabeça, depende do sentimento.

Caminho em frente ao abismo, devoro vorazmente minhas próprias palavras, escondo incompetentemente minhas lágrimas. Qual é o maior medo do mundo? Qual é a maior decepção de tal? Junte os dois, obtenha algo, é o que talvez eu sinta. O abismo está cheio de desculpas, decepções, falhas e corações quebrados, o abismo está cheio de medo. Mas eu caminho até ele, quero admirá-lo, quero fingir estar hipnotizada por tal buraco de denúncias falhadas de todos, de cada um.

Deduzo cada vez mais que eu gostaria de entender as fragrâncias da vida, de querer entender porque algumas horas as atitudes que tomamos machucam tanto. E eu nunca fui muito presente, talvez fosse, mas me cansei. Uma hora todos vão embora e já cansei de “aprender” isso. Assim se torna mais fácil não me aproximar, não deixar que me sintam perto e se sentirem, também sinta aquela distancia incoerente, pois assim é melhor, quando partir vai doer menos, bem menos.

Essas partidas de vai e vem machucam, dão medo de perder, mesmo quando não há motivos para temer. Melhor manter distancia. Difícil é quando já se aproximou demais, quando já conquistou o coração e de repente vai embora, sem mais nem menos, sem explicar. Apenas porque “cansou”, porque acabou. Porque falhamos, novamente falhou-se.

Nessas horas observo que o meu jeito mimado me faz ser assim, meio distante e meio tudo do meu jeito. E algumas pessoas talvez me olhem esperando que eu seja a tal “boa menina”, mas não sei ser essa boa menina sem ser eu mesma. Não sou má influencia, talvez me torne diferente do resto, mas é o meu jeito. Apenas o meu jeito. E assim tão inocentemente machuca profundamente quando não é sempre assim que me vêem, que sem antes conhecer colocam a fantasia de vilã. E isso não machuca sempre, mas machuca à mim.

Hoje eu estou meio afundada, meio esquecida. E quanto mais eu tento esconder, mais eu acabo mostrando, da vontade de ir embora, mas não tem para onde. Nessas horas a vontade de desistir de tudo a minha volta e sim, admito de cabeça erguida, eu já estou cansada de ser tão assim. Tão eu. Cansada das mesmas coisas, cansada de mim mesma, da minha vida.

Estou cansada de mim, dos meus problemas, cansada das feridas e dos corações quebrados. Estou cansada de sempre ser assim, sempre. De ser pintada de vilã, de ser a errada ou a errante. Cansada de ser assim, apenas isso. Cansada dessas palavras amarguradas que já não conseguem mais sair, pois são repetidas mesmo quando não são. Agora, enfim agora eu digo, se você viesse me perguntar hoje se eu gosto da minha vida, eu honestamente responderia “nem um pouco, chego até ter ódio de mim”.


Curitiba, 6 de junho de 2009. 5:51 am.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Foi feito no silêncio.

E antes do fajuto arrependimento por ter esquecido suas lágrimas no baú, ela sorriu uma ultima vez, esperando que várias coisas se consertassem com o som de uma única risada nada sincera. Antes mesmo de ter um real porque, ela se encontrou consigo mesma e fez as estrelas parecerem mais perto e mais brilhantes do que realmente estavam. A agonia que lhe prendia a respiração se tornou vagarosa e logo, esquecida. Antes de recuperar a dor daquelas lágrimas, ela ouviu com grande coragem e ousadia as palavras que lhe fariam transbordar: “mas então mesmo assim, ele tinha outra, não?”.

Um minuto de silêncio, um minuto de agonia, uma dúzia de anos parecia estar esperando, enquanto aquele enorme nó na garganta gritava por tempestades. Ouviu-se o som da porta batendo. Ela havia recuperado as lágrimas escondidas no baú e junto delas, aproveitou e recuperou a dor fantasiada de risadas simplórias e sem emoção. Seus olhos viraram tempestades esquecidas pelo mundo, sem nenhuma alma viva para fazer a calmaria chegar.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Mas então dê um motivo.

Quem dera fosse apenas raiva ou apenas a dor da raiva se espalhando, quem dera fosse apenas uma surpresa ruim. Mas foi uma decepção, foi algo absurdamente inesperado, uma verdade abaladora, decepcionante. Quebrou os planos, quebrou os sonhos, quebrou as idas e as vindas. Quebrou as vontades.

Não foi só perder alguém, foi perder todos os planos criados, todas as vontades incalculáveis montadas. É ver o mundo distante, mas ao mesmo tempo perto desmoronando, perdendo o sentido para tantos esboços de futuros aconchegantes.

Perdendo a razão de estar aqui sem entender muito bem. É não saber mais montar dentro de si mesma uma esperança, mesmo que um pouco falsa, para seguir em frente.
Eu não gostaria de ficar mais tempo sentada, encarando o chão e esperando que tudo terminasse bem. Mas o fim chegou assim como o começo, sem prévias, sem motivos, apenas porque quis chegar.

O que dói aqui dentro, na realidade o que tanto tem gritado, é a falta que esta fazendo. É esse buraco maior que eu mesma, o buraco que só cresce, que só me deixa cheia de duvidas e vontades absurdas. Me faz encarar as paredes na escuridão intensa da noite, esperando com que estas me dêem soluções visíveis ou até mesmo que simplesmente me responda, converse comigo enquanto as lágrimas dominam inutilmente meu rosto.

Não entendo, simplesmente isso. Não entendo onde todo o amor, se é que um dia ele já existiu, foi parar. Onde todos os planos e sonhos foram jogados fora, ou se foram simplesmente criados por mim, esquecidos rapidamente por você. Talvez eu já esteja farta de tantas inúmeras decepções, dessas que quebram, esmagam e perdem o raro sentido que eu encontro.

Do que mais posso dizer que me cansei? Afinal, o que se faz quando você luta pela vontade absurda de sorrir, e durante tanto tempo as coisas tem caminhado no sentido mais sincero que você seguiu, mas aí tudo se torna ruínas. Você vê o mundo desabando e infelizmente não adianta fazer nada, pois a culpa não é sua.

Com o tempo já fui me tornando acostumada a deixar de acreditar no tal amor. Fui começando a me tornar fria e entendendo que depois de belos dias de sol, a tempestade sempre precisa aparecer para poder molhar um pouco. E mesmo que eu não entenda, mesmo que novamente eu tenha de seguir em frente com um coração quebrado, uma grande ferida e uma confiança em pedaços acho que a mais dolorida parte, é admitir que ainda preciso por perto. É saber que ainda ocupa nesse coração sangrento uma grande parte.

Talvez a fórmula mais complicada não seja a de seguir em frente, mas sim de esquecer. Aprender novamente a viver sem. E eu que fazia tantos planos e queria tanto torná-los verdadeiros.


Curitiba, 12 de maio de 2009. 01:09 am.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Logo tão mais distante.

Às vezes teimo em querer pensar mais, por algum motivo as circunstâncias que me cercam fazem todos os pensamentos se embaralhar. E quando menos consigo perceber, me vejo sentada em algum lugar muito movimentado, mas atolada em pensamentos sem pé nem cabeça, o que me faz ficar calada, quase chorosa ou quase com raiva.

Mas eu me recuso a elaborar os sentimentos em palavras, pois todas elas me parecem cruas e sangrentas demais para alguém escutar. São rasgantes, perfurantes e doloridas. São altas e ao mesmo tempo absurdamente inaudíveis. São cruéis e indecisas, são verdadeiras demais para eu poder gritar, falar, desabafar. Para eu poder explicar o que está atolado aqui dentro.

Receio que escrevendo as palavras percam um pouco da emoção, percam um pouco do sentimento agudo que arde sem dó aqui dentro. Receio que lendo, a ardência dos cortes esfriem um pouco e ao invés de se tornar um café extremamente amargo, é apenas um café com demasiado açúcar. E no momento demasiadamente açucarado são meus sonhos, que nunca vem tão cedo, me fazendo dormir tarde da madrugada e acordar cansada e irritada de mim mesma na manhã que se segue.

Odeio admitir que no momento eu sinta medo de fazer algo errado, mas ao mesmo tempo o errado me parece ser a coisa mais certa. Estou prestes a explodir confusões e receios, prestes a conseguir fazer minhas amargas palavras se tornarem dolorosas feridas, dolorosos punhais para quem lê.

Eu realmente não estou achando justo, tanto me parece injusto eu ter de perder assim como eu ter de me machucar de novo. É injusto ter de fazer mil argumentos, ter de conseguir rodar o mundo, quando não recebo em troca. Não é certo ter de perder, ter de fingir que não esta perdendo para evitar sofrer. Só não quero parecer conformada, ao olhar tudo em volta e não reclamar, não sentir o gosto da angustia na boca e não ver a ansiedade de cada novo encontro diminuindo, se desconfigurando.

Talvez eu quisesse pedir para ficar mais um pouco, mas hoje já não sei se isso é muito certo, pois me dói aqui dentro ao perceber que muito do desinteresse me corrói, enquanto eu estou girando o mundo para tornar sempre possível. E talvez seja tão incerto assim, mas arriscar tudo já é desespero e insanidade máxima. Arriscar coisas que eu nem tenho, para perder antes mesmo de obter.

Está ardendo aqui, como se fosse fogo. As palavras querem sair gritadas, mas parecem apenas serem abafadas pelo som alto que contamina o quarto. É certo que estou apenas cansada de momentos assim, de amar pela metade, de ter pela metade, de ser metade de uma metade. Mesmo que a insegurança esteja me dominando, a vontade de ficar paralisada esta me tomando aos poucos também. Não estou mais esperando como antes, logo vou esperar menos ainda. Pois cansa de estar perto, mas ao mesmo tempo longe. Cansa mais não ter do que ter. Cansa mais ir embora do que ficar.


- Creio eu que alguns tenham razão, quando dizem que as minhas palavras tristes e pesadas sempre irão permanecer em meus textos. Por mais doce que seja o assunto.


Curitiba, 5 de maio de 2009. 23:17 am

domingo, 26 de abril de 2009

Sentimentos difíceis de se escrever.

As palavras não saem com facilidade, não com a tal que eu tanto gostaria. Talvez pelo assunto, ou o cansaço demasiadamente grande que abriga meus olhos, porém lá no fundo creio e admito que seja a dificuldade. Dificuldade de fazer gritar pra fora o que tanto grita para mim mesma, em palavras e sentimentos que não consigo distinguir.

Eu cresci, amadureci. Subi degraus onde ninguém me seguiu, talvez por falta de audácia ou falta de oportunidade, pois ainda precisava vivenciar um pouco de tudo aquilo. Um aquilo que deixei para trás já faz uns três anos, mas quando existiu foi a melhor época. Pude comprovar hoje, assim só observando de longe que meu tempo já deu. E sim, quando eu pude aproveitar tudo ano passado, simplesmente dei um tempo. Um tempo que creio seja que pra sempre. Mesmo quando o pra sempre não existe.

Ainda há afinidade, há lembranças que parecem falar mais alto que as cicatrizes, os machucados. Há uma vontade louca de agarrar, falar que quero voltar. Mas são lembranças que estão voltando, não o passado. É uma maneira de dizer que valeu a pena, uma maneira receosa de me dar conta que eu sentia falta, coisa que nunca admiti. Sentia falta de cada pessoa, de cada bagunça. Mas é fato, já não é a mesma coisa.

Hoje prefiro observar de longe, não vejo necessidade de comparecer a todos os encontros, não vejo necessidade de voltar a ser quem retirava todos de suas casas para sair. Prefiro ver de vez em quando, fazer parte de vez em quando, estar ali de vez em quando. Ser um deles de vez em quando. A saudade aperta, nossa como dói quando aperta. Mas acho que já deu, já era para dar e o tempo se esgotou muito facilmente.

Deixamos todo o tempo escorrer por nossas mãos, deixar lugar a novas fazes e talvez até deixar lugar a novas pessoas. O tempo passou por entre as nossas pernas, brincou com o jeito como encaramos a vida, brincou com a ilusão de ainda existir muito tempo. Esquecemos de aproveitar todo minuto e infelizmente tudo aquilo já passou.

Mas hoje eu admito, ao olhar tão longe, que foi bom voltar. Foi bom conversar, escutar um pouco as vozes que estavam caladas para mim durante alguns meses. Ter um pouco da distancia removida, um pouco da tensão quebrada. O tempo longe daquele mundo se tornou indeterminado, talvez então eu o goste mais assim. O lugar que tanto me machucou, que tanto me quebrou pode enfim fazer parte de mim, mas um pouco mais ausente.

Apenas sei que mesmo sem querer, mesmo contra minha vontade foi bom voltar depois de tanto tempo. Matar saudades que eu nem sabia que existia. Ter um pouco de volta, o que talvez eu nunca tive, mas mesmo assim fazia falta. Um pouco do passado voltou, apenas isso.


- Não é o que já fiz que me define, mas sim o que eu faço. O que eu sou é diferente do que eu já fui. Aprendi isso, melhor lição de todo esse mundo.

sábado, 18 de abril de 2009

A noite solitária me fez escrever.

Essa distancia tão incomodante esta me fazendo mal esta noite, a todo custo queria estar aí me divertindo. Queria poder fazer dessa solitária madrugada uma festa de risadas e conversas. Não estou gostando de estar por aqui, o quarto esta tão grande e imersa na escuridão me pego pensando que poderia estar bem melhor agora. Há lágrimas aqui que você poderia secar, pois são de saudades. Saudades das conversas, das risadas. Saudades das coisas que apenas nós entendemos.

O destino já foi simpático o bastante ao ter te colocado em minha vida, ter feito o que há muito eu não conseguia: encontrar uma nova verdadeira amiga. Mas me dói o fato de estarmos tão longe, me dói o fato de não poder me deitar todos os dias no breu do quarto e conversar durante mais um tempo indefinido contigo. Ter aquelas conversas bobas que parece que apenas nós sabemos ter.

Está doendo essa saudade que não sei matar, está doendo a falta da sua voz e a falta das nossas conversas. Está doendo a falta que você está fazendo. Não sei direito, mas agora me sinto sozinha, parece que não há ninguém, mesmo sabendo que tem. Havia tempo que não me surpreendiam tanto, que não me faziam ter essa amizade, longe da área de conforto que eu tanto permaneci. Mas agora está assim, estou pronta pra ir ver um filme que irá me fazer rir um monte, mas não tem você pra rir comigo!

Assim que amanhã o sol nascer talvez eu ainda esteja acordada, mas afundada em minhas próprias teorias, meus próprios pensamentos e sonhos. Afundada em minhas próprias risadas e lágrimas, sem ter você aqui do lado pra poder compartilhar comigo seja lá o que for. Eu já sabia, quando o ônibus parou aqui em Curitiba, quando eu desci para pegar a minha mala eu já tive vontade de voltar.

Todo momento fico lembrando das risadas de sexta-feira e da cerveja que nunca era a última, do silêncio momentâneo e daí “Jaque, não tô me sentindo bem”, aí lá foi a gente no banheiro e enquanto eu tentava vomitar, você dançava com o Marrom no banheiro feminino. Mesmo quando de repente cada uma esta num canto da casa, meio chorando e meio chateada, aí de repente estamos juntas sentadas na cama conversando sobre tudo, de certo modo até se sentindo melhor.

Você está fazendo muita falta mesmo. Não sei, é como uma irmã, sabe? A maneira como posso confiar, como posso contar. A maneira como resolvemos tudo de um jeito ou de outro, e como sempre estamos em constante freqüência e sintonia para enfrentar o que tiver pela frente.

As férias de julho estão chegando, assim como a minha partida também. Não há um dia, desde que eu te conheci que eu não pense em como sentirei a sua falta. Sei que essas férias serão as melhores possíveis, da maneira mais perfeita. E depois serão longos 10 meses com um oceano de distancia, mas de distancia já entendemos. Porém, tenho a certeza que quando eu voltar tudo estará da melhor maneira possível. Enfim poderemos morar na mesma cidade, com apartamentos vizinhos. Nossos garotos que agüentem com a bagunça que faremos.

Nem sei por que estou escrevendo, talvez seja porque vi suas fotos novas no orkut e me dei conta de como você está linda. Pode ser também que tenha lido um novo depoimento no mesmo e li que o garoto que o escreveu tirou as palavras da minha boca. Talvez eu tenha simplesmente escrito por saudades, que mesmo eu tendo te dado tchau na segunda-feira a saudade já cresce no primeiro minuto, ao saber que assim que eu subo no ônibus a nossa nova bagunça será dali a algumas semanas apenas.

Acho que na verdade a solidão bateu, a casa esta vazia e as batatas sorrisos estão tristes. O “borboleta” não tem tanta graça quando fica apenas na memória e o “December Boys” não é tão bonita. A “Apenas mais uma de amor” vira uma música qualquer do Nx Zero e tudo da saudade. Nessas horas começo a imaginar as conversas que teríamos se você estivesse aqui, quais músicas escutaríamos e sobre quais planos planejaríamos. Queria ter você aqui pra amanhã ir à farmácia comigo comprar uma tinta ruiva e mesmo sem coragem, mas com uma vontade louca, iríamos pintar meu cabelo e sujar meu banheiro inteiro com a tinta - até vendo a bagunça né. E talvez eu só quisesse poder falar “vamos ver Um Amor Para Recordar ou Antes que Termine o Dia?” e em lágrimas terminaríamos vendo o filme, pois somos duas choronas.

São 400 quilômetros de distancia, mas quando a solidão se aconchega, a saudade bate, parece a mesma distancia que daqui até a lua. Mas, acredito estar escrevendo, pois queria dizer pra você que a nossa amizade tem sido absurdamente importante e essencial pra mim. Eu nem me lembro de como era minha vida sem você, nem quero lembrar. Gosto dos segredos, das risadas, das histórias, das cervejas e das músicas, gosto de tudo isso.

Assim, em tão pouco tempo você se tornou uma amiga incomparável, insubstituível. Talvez por já termos nos despedido de garotos que hoje moram fora do país, talvez por você estar com o mesmo até hoje e ele morar em Londres e eu estar com um que mora aí em Londrina – observe a semelhança nos nomes das cidades – ou talvez então pelas outras milhares de semelhanças, sejam as histórias parecidas sobre garotos, a cor dos olhos e dos cabelos ou o fato de sempre “nunca ri tanto na minha vida”. Pode até ser pelo fato de eu estar indecisa de se pinto o cabelo ou não e você ter começado a deixar seu cabelo na cor natural, pode ser pelo fato da “borboleta” ou do cd do carro que sempre era o mesmo. Mas é insubstituível.

Hoje só posso agradecer por um dia eu ter te conhecido. Acho que já era pra ser assim, um pouco de ironia do destino, eu ter encontrado tão de repente, entre planos fracassados, uma amiga tão importante assim.

- Mas não chora, porque te ver chorar me faz chorar também.


Curitiba, madrugada de 18 de abril de 2009.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Tão longe e tão mais perto.

Longe das risadas, longe das histórias, longe dos momentos, longe das lágrimas, longe das situações embaraçosas, longe da segunda casa, longe deles. Para onde devo ir quando meu ônibus chega na cidade natal? O que se faz com as saudades que tão indiscretamente carregam toda a leveza do meu coração? Como se faz para continuar vivendo sem se importar com o mundo em volta? Onde fica tão facilmente a vontade de já voltar?

Sigo caminhando, sigo vivendo, mas não posso evitar o desejo de estar em outro lugar, novamente junto daquelas histórias. A vontade de ter tudo a cada segundo, de não precisar ter de se preocupar com o adeus que parece adorar vir. Não precisar olhar o teto todas as noites antes de dormir, pois não tem com quem conversar, não precisar ter de se contentar com conversas internauticas, pois quando começar anoitecer pode ser dito seja lá o que queira pessoalmente. E todo o tempo se torna a seu favor, sem precisar pedir para não passar tão depressa.

Perde a graça voltar pra casa, perde a graça não ter as mesmas saídas, perde a graça não ter as mesmas brincadeiras, perde a graça não ter os mesmos motivos para se sentir tão bem, perde a graça não estar tão perto. Perde a graça morar longe, perde a graça ter de sentir saudades.

Durante muito tempo sempre foram as mesmas histórias, as mesmas pessoas, os mesmos lugares. Mas quando você menos vê você já cresceu, você já cansou de toda aquela mesmice. Começa a ver que ter poucos e bons amigos é muito melhor do que ter um punhado de falsos, começa a crescer e se tornar diferente, se sentir diferente.

O que mais incomoda é se acostumar. Se acostumar com os velhos amigos, se acostumar com os mesmos velhos lugares, se acostumar com os mesmos velhos romances, se acostumar com os mesmos velhos momentos. E apesar da distancia de alguns notáveis quilômetros, é tudo absolutamente novo, mesmo quando é igual se torna novo, porque sempre é. Pode ser os mesmos lugares e às vezes até as mesmas risadas, mas são os mesmos de uma parte de você diferente, mudada, crescida. Nova.

Eles tiveram o dom de me acolher, o dom de me fazer sorrir. Eles tiveram o dom de me fazer devolver a mim mesma o brilho de meus olhos. As salas aqui tão vazias e frias, lá são agitadas e cheio de gente. São sorrisos que apenas eles e eu entendemos, bagunças e gargalhadas. É apenas lá que a última cerveja anunciada, nunca é de fato a última.

Mesmo que as saudades me façam hesitar ao falar que vale a pena, é inevitável deixar a espontaneidade anunciar que não só vale a pena, como vale muito a pena. Se lá as lágrimas também existem, parece que duram menos, doem menos. É mais fácil secar o rosto molhado, esquentar o coração gelado, num lugar onde é mais fácil sorrir e se sentir bem.

Não existe essa idéia de lá ser melhor e aqui pior, é apenas diferente. Bem diferente, como se lá eu visse uma plaquinha de “que bom que você está aqui”, todas às vezes que eu os vejo e aqui só vejo a tal plaquinha de vez em quando, raras vezes. São outros momentos.

Como me afirmaram, eles me conhecem como eu realmente sou, pois eles mais me escutam do que me vêem, eles mais me ouvem do que me assistem, eles conhecem a versão de mim mesma, por eu mesma, sem terceiros falando como acha que eu sou. Eles conhecem minhas falas, minhas reações, minhas gargalhadas. Eles conhecem melhor as minhas lágrimas. Eles conhecem a melhor versão de mim, a versão que eu só sei demonstrar lá.

Mas eu sei, eu tenho o meu melhor de dois mundos.


Curitiba, 14 de abril de 2009. 19:59 pm

domingo, 15 de março de 2009

Pode ser, eu sei.

Pode ser que quando você voltar ele já não esteja mais lá. Também pode ser que quando ele voltar você já não esteja mais lá. Pode ser que bata o relógio à meia noite e você queira dar uma de Cinderela, pode ser que quando bater o relógio à meia noite você queira prolongar até às cinco da manhã.

Pode ser que hoje o dia foi um desperdício. Pode ser que amanhã ele esteja na sua saída com uma rosa na mão. Pode ser que você chore todas as noites, pode ser lágrimas de saudades ou de dor, de coração quebrado. Pode ser que a música de vocês pare de tocar simplesmente porque as rádios já não a querem mais. Pode ser que a foto simplesmente caiu do mural.

Pode ser que o seu mundo desmorone todos os dias, também que você o veja de longe e sinta vontade de abraçá-lo. Pode ser que você sinta saudade das ligações noturnas dele, pode ser que você queira ligar e descobrir se ele ainda pensa em você. Pode ser cedo ou tarde demais.

Eu sei que você chora a ausência dele. Eu sei que toda nova carta que recebe, você deseja que seja dele. Eu sei que você se lembra dele todos os dias. Eu sei que você tem marcado em você todas as datas, do primeiro beijo, do namoro e até mesmo do dia que ele partiu. Eu sei que as palavras que ele disse vêm à sua cabeça, quando passa nos lugares que estiveram juntos.

Eu sei que você teve de se esquecer de muitos planos, sei também que todos eles você montou cuidadosamente todas as noites antes de dormir. Eu sei que até a aula parecia mais aconchegante e menos monótona, quando dali a algumas horas você o veria. Eu sei que você nunca se esqueceu das mordidas carinhosas que ele lhe dava, eu sei que você nunca se esqueceu da vez que ele te olhou nos olhos e te disse “eu te amo”.

Eu sei perfeitamente que você não consegue odiá-lo nem por um segundo sequer, mesmo sabendo o quanto ele te quebrou. Eu sei que você ainda o espera todos os dias, como se ele fosse voltar repentinamente. Eu sei dos cortes que você teve, das vezes que quis desistir do mundo. Eu sei do quanto você sofreu, do quanto você teve de superar, depois que ele foi embora. Eu sei a dor que você sentiu quando você o viu pela última vez.

Pode ser que você ache que nunca irá mais encontrar alguém como ele, eu sei que ainda não encontrou. Mas eu sei que você sempre tentou deixar suas feridas de lado, pode ser que elas já tenham se fechado, mas eu sei que você ainda admira as cicatrizes. Pode ser que as noites tenham ficado mais longas, e eu sei que você nunca tentou fazê-las mais curtas.

Eu sei que o seu coração está em pedaços, mas pode ser que já esteja sendo colado. Eu sei do quanto você quer dizer pro mundo da agonia que sente dentro de ti, mas pode ser que você simplesmente não consiga. Pode ser que essa agonia já não seja tão grande. Pode ser que você só precise de tempo pra começar a se recuperar.

Pode ser que você não veja mais saídas, eu sei que muitas vezes não vê. Eu sei das vezes que você foi até lá pra vê-lo, pode ser que isso simplesmente te machucasse mais ainda. Eu sei que você já se apaixonou de novo, mas pode ser que nunca deixou seu coração amar. Exatamente, pode ser que a saudade te invada, mas eu sei muito bem que não pode deixá-la te domar.

terça-feira, 10 de março de 2009

Logo vai começar.

Dia 4 de abril começa uma jornada que talvez eu gostasse de adiar. Não pela falta de vontade, mas sim pelo medo que me embrulhou o estômago. A respiração se tornou ofegante ao saber que os dias estão sendo contados, que a ausência de mim mesma nessa cidade esta para chegar.

São dez meses, depois eu volto. Terei histórias, tratei presentes, estarei mudada, estarei crescida, assim como todos aqueles que eu deixarei aqui. Guardarei em todos os meus dias em que estarei distante, um punhado de saudades. O punhado que despejarei com lágrimas, abraços e sorrisos assim que eu voltar para casa.

É fato de que este tempo longe de tudo me fará muito bem, mas também é fato de que ele criara muitas cicatrizes. Serão lágrimas dolorosas de saudades, serão dias em que a vontade é de sumir, desaparecer. Afinal, qual é a sensação de estar tão longe de casa, sem saber falar quase nada da língua local, sem ter ninguém pra te abraçar e fazer da escuridão um pouco mais confortável? Qual é o tamanho da força que tem de se ter pra agüentar? Qual é o tamanho da vontade? Qual é o tamanho da saudade que vai abrigar e ferir o coração todos os dias? Será que eu agüento?

Sei que há os que dizem “você vai agüentar, você é forte”, mas da medo. Da um receio ficar tanto tempo fora de casa, fora da cidade. Ao mesmo tempo que eu sei o tamanho do abismo para o qual estou me dirigindo, também sei o quanto o vôo poderá ser gratificante, se eu o fizer de tal modo. Sei das novas experiências, da nova cultura, do sonho sendo realizado, das pessoas que eu poderei conhecer, da experiência de morar no país que eu mais admiro. E mesmo querendo descobrir de imediato, sei que só na jornada até a partida e durante todos os dez meses eu irei descobrir o tamanho do meu pára-quedas.

Diferente do tamanho do abismo e do quanto o vôo para ele pode valar a pena, o meu pára-quedas não depende de mim, depende de todos a minha volta. Descobrirei em uma prova de fogo quem está ao meu lado para me apoiar, me proteger, me acolher. Descobrirei da pior maneira o quanto eu significo. Seja na ida ou na partida, o quanto eu deixarei de saudade pra cada um.

Pode ser com uma surpresa, com uma camiseta do time, com uma carta, com um lenço vermelho, com uma foto, com um abraço, um beijo, um “eu te amo”, com uma lágrima, pode ser com acordar às 6 horas da manhã pra me dar tchau no aeroporto. Pode ser me esperando lá também, quando eu chegar. Pode ser com a faixa roxa ou simplesmente com um “entra no carro, temos dez meses de conversa pra botar em dia”. Não importa como, mas admito estar curiosa pra saber o quanto farei falta.

E quando eu entrar naquela sala de embarque, depois de me despedir de todos eles, eu olharei pra trás e os verei com lágrimas nos olhos uma última vez. Com forças que eu arranjarei, eu terei de olhar pra frente, seguir a direita ou a esquerda da sala e começar a juntar saudade, que infelizmente terei de guardar por dez meses.

Só não peço que me diga que será fácil, diga apenas que valerá a pena, que cada dia sozinha irá valer a pena. Mas jamais me afirme que será fácil. Honestamente eu ainda tenho tempo, mas até lá eu quero fazer deste tempo o melhor possível. Quero levar as melhores lembranças, para se ter as maiores forças.

Ainda está longe de 4 de abril, mais longe ainda a partida em agosto, mas quando chegar, saiba que precisarei de todos os abraços, de todas as palavras. Porque eu sei que consigo, mas preciso de vocês aqui, para caminhar comigo até a hora de eu voltar.


- À minha família e aos meus amigos de verdade.

domingo, 1 de março de 2009

Não deixarei ficar vazio.

“Só que é estranho não conversar com você. Você ocupou um lugar aqui dentro e dai parece que está vazio. É estranho”. Ouvir isso quando eu queria dizer as mesmas palavras, para uma porção de gente. Dizer do espaço vazio, do buraco que muitos deixaram ao ir embora, ao esquecerem. Ao embarcarem para uma vida distante.

Não digo de quem ocupou um espaço enorme e foi embora ao me ferir, não digo de pessoas que se distanciaram sem ter razão, simplesmente porque quiseram acreditar sobre mentiras a meu respeito ou mesmo das pessoas que criaram tais mentiras. Essas pessoas eu jogo fora, junto com todo o resto. É lixo, como já me disseram. Eu digo de quem ocupou um grande espaço e foi embora ou me deixou partir.

Hoje foi apenas mais um dia em que me preparei para partir, começar uma vida de árduos dez meses longe de tudo o que eu conheço, longe de toda essa proteção. Quando começo a me preparar para uma partida quase infinita, me deparo com o que estarei deixando para trás. Com os milhares de vazios que sentirei dentro de mim. Com a distância que criarei de muitos, com as faltas de palavras, com as faltas de olhares e abraços. Até quando a ausência pode ser suportável?

Tenho me distanciado de diversas situações, diversas pessoas. Tenho deixado junto a mim quem é realmente importante, quem realmente vale a pena, mas e quem eu já deixei partir? Todos aqueles que aqueciam meu coração quando o sentia muito gelado, todos aqueles que ocupavam minha mente cheia de palavras doces, muitos deixaram enormes vazios. Insubstituíveis vazios. É estranho.

O deixar partir e o partir, deixando a solidão se abrigar nos vazios deixados no coração. E vai sempre faltar, não é a mesma coisa. Os abraços calorosos, o carinho inconfundível, as palavras doces, tudo o que se recebia sempre, se torna para eventualmente. Mas acontece que o eventual encontro não preenche o vazio diário.

É uma dor estranha, agonizante. Indecifrável, para aqueles que nunca amaram de verdade. É perda, é solidão, é saudade. É querer ter perto mesmo estando muito distante. É sentir o abraço, mas continuar gelado. É o vazio que muitos deixam, muitas vezes sem querer, o vazio que fazemos com que deixem. O vazio que muitas vezes deixamos em outras pessoas.

Assim como a dor, um dia a saudade diminui. Não é lembrada sempre, se torna muitas vezes invisível. O vazio com o tempo diminui, a solidão vai saindo aos pouquinhos, mas o buraco nunca some. Sempre fica um vaziozinho, mesmo que bem pequeno, apenas para nos lembrar dos que já partiram de nossas vidas, mas que nos marcaram para sempre.


- Mas eu não irei embora, não deixarei vazio. Se eu for, talvez seja porque meu tempo se esgotou. Mas calma, pode ser que eu só precisasse de ar.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A nova parede branca,

É uma parede nova, uma parede totalmente branca. Ao meu lado há diversas figuras, carimbos, tintas. Na minha cabeça há diversas idéias. Todo o material ao meu lado está apenas aguardando eu falar “vai”, para a parede branca começar a se colorir.

Admito que jamais pensei ouvir essa palavra de novo, essa tal afirmação que me fez desandar. Me fez guardar lágrimas grossas de desespero. E se ela estando em sua vida, você se torne distante de mim novamente? E se tudo mudar? E se a amizade tão verdadeira desaparecer?

Também pensei que o mundo fosse desabar. Essa distancia toda, essas saudades. Me conte, o que eu faço com essas saudades? Como eu consigo me manter concentrada, sabendo que há quilômetros que preenchem essa solidão que esta me fazendo. A insegurança que cresce não pela confiança não existente, mas sim pela maldita saudade. Cretinas saudades, se gostaria de saber.

Hoje eu espero que me entendam, aquele novo que achei me fazer bem, realmente não me fez. Aquele novo que achei ser um abrigo, foi só uma barreira de frágeis madeiras em meio a um rio de correnteza brava. Não é questão de ainda me importar, de ainda proibir o meu mundo de chegar a certas orelhas. É questão de distancia, questão que hoje eu vejo, eu só precisava de algo novo. Consegui. Mas aquele novo, não era o suficiente para suprir a minha felicidade. Hoje eu deixo esse novo para trás, apenas com boas lembranças.

Então, sem querer eu encontro um outro mundo. Um mundo que me protege, que me distancia de tudo. Um mundo meu, onde mais ninguém pode ter, nem com cartão de visita. Um lugar onde eu posso me esquecer de tudo, lembrar apenas do aqui e do agora, lembrar apenas de rir, pois as lágrimas não têm lugar. Esse tal mundo tem cada vez me abrigado mais, me feito sorrir mais.

Por fim, eu tenho uma grande coragem dentro de mim pronta para crescer. Uma coragem que eu preciso ter, uma coragem com dia marcado para ser posta a prova. Uma força que eu preciso ter, uma força de mim mesma, uma força vindo do apoio dos mais importantes. Um desafio que eu terei de cumprir.

E logo quando vejo, a parede tão branca na minha frente, já tem alguns cantos rabiscados, sujos, colados com figuras. A parede é apenas nova. Com novos desenhos, novas figuras e fotos, com novas cores. Sem quase nada da parede antiga, apenas algumas cores e figuras mais essências. Mas a parede ainda tem muito que colorir, até eu querer começá-la novamente.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Por palavras aleatórias.

Meus pensamentos correm à solta nesta casa vazia. O calor me sufoca, o ventilador tenta fazer um bom trabalho arranjando algum vento para arejar o quarto abafado. O silêncio é quebrado por um som não muito alto, mas o bastante para não me sentir sozinha. Enquanto a minha voz não é ouvida, pois não há ninguém para conversar, me satisfaço com algumas conversas via internet. Um pouco geladas, mas absurdamente carinhosas devido às pessoas com quem eu falo.

Minha distância de casa no momento, não é muito maior que 350 km, mas parece que é bem menos. Desde a primeira vez que apareci nessa cidade é como se eu me sentisse em casa, como se aqui fosse o meu lugar, de alguma forma. Acho que o ar quente esta mexendo de alguma forma com os meus neurônios, admito estar um pouco longe de tudo no momento. Sabe quando tudo lhe parece uma novidade surpreendente? Pois bem.

Sendo bem sincera, mas muito mesmo, eu estou apenas tentando encaixar peças na minha cabeça. Tentando montar um quebra-cabeças que acho que nunca existiu ou talvez esteja existindo até demais. Mas agora me conte, o que eu faço? Como você faz para seguir em frente, sabendo grande parte do que vai ter de enfrentar? Como você fica absolutamente intocável aos sentimentos que lhe agridem o coração?

E ele não procura, ele não se importa, ele não quer. Ele se esquece, ele deixa de lado e faz pouco caso. Mas então, quando ele perde, ele vem procurar, vem querer saber e até mesmo querer brigar, perguntando motivos de eu ter feito tudo o que fiz. Quando ele menos percebe, ele esta talvez cobrando coisas que não pode, assim como eu também não posso cobrar absolutamente nada dele. Admite aos amigos que morre de ciúmes, admite que se importa, mas continua sentado. Continua agredindo um coração, é sempre tão cômodo, não?

Tem horas que eu me pergunto, com um que de preocupação o que eu estou fazendo aqui, mas aí vem alguém e diz “amanhã eu irei te ver”, com um belo sorriso no rosto e até mesmo quem sabe com olhos brilhando. Por alguns instantes eu repenso, então me deparo com a resposta “vim pra ouvir isso”.

Receio estar confusa porém muito consciente. Muito sã diante as minhas confusões. Minhas confusões são eles e não eu. O que devo admitir com total precisão, é que quase tudo esta no lugar onde deveria. Tudo o que eu queria mudar, eu mudei. Algumas pessoas ficaram, outras foram embora. Alguns rostos eu poderei contar com a ausência, os vendo de vez em nunca. E é assim que tem de estar, mudar a sorte a meu favor. Fazer sorrir, porque ninguém vai fazer isso por mim.

E a Coca-Cola que parece não ter fim me acompanha nessa tarde de segunda-feira oceosa, calma e quente. Meus pensamentos que no momento parecem fumaça, andam vagando por aí, se tornaram distantes e me deixando em paz e com um sorriso no rosto. Acho que apesar de tudo, é como uma vez ele já me disse: “aí eu vou embora, você fica e daí, o que fazemos?”. Acho que é sensato responder: “não fazemos nada. Não chegou a nossa vez ainda”.

Londrina, 2 de fevereiro de 2009 17:27 pm

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Quando chega a hora de ir embora.

Odeio essa parte. Essa parte de dar tchau, não necessariamente só para as pessoas, mas para os lugares, para os objetos. Sabe, olhar intensamente para algo e dizer pra si mesmo “poxa, quando de novo?”. Não sei, ninguém sabe. Até quando, né? E saber que na despedida existe a ausência daquilo, a saudades. As lembranças que ficam, daquilo que não se pode ficar!

As acho dolorosas, ter de se despedir de alguém que só vai ver dali 18 meses, ter de ver aquele mar imenso e dar tchau praqueles dias perfeitos. Dar adeus pra tudo aquilo que teve seu tempo esgotado, de certa forma. Os brinquedos que não fazem mais sentido guardar, os cds que não se escuta mais, as roupas preferidas que ficaram pequenas ou simplesmente velhas, os dias que não podem mais ser adiados para se ir embora de uma viagem, os amigos que tem de ir embora e voltarão dali muito tempo. São dolorosas as despedidas.

Saber que sem se despedir é muito difícil seguir em frente. Tem coisas que por alguma razão tem dias limitados. Elas não podem durar mais do que já estão durando, isso nos faz crescer. Mesmo que sejam despedidas singelas, despedidas de algo bobo como alguém que admiramos na praia e então temos de ir embora, sem saber quando voltaremos a admirar. Mas nos fazem crescer, saber seguir em frente deixando coisas e momentos para trás.

É difícil chegar num aeroporto, ver um dos mais essências amigos na sua frente e você dizer “até daqui um tempo” em um abraço caloroso. Mas esse tempo é longo, são dias de espera, são meses longos e frios. Quando a imagem desse amigo lhe vem à cabeça, tudo aperta dentro, o estômago revira, o coração chora e você pensa “será que ele esta bem?”. Despedias assim nos fazem crescer.

As saudades que tanto guardamos no peito, são saudades de que valeu a pena enquanto durou. Significa que se aperta o coração na despedida, quer dizer que esta difícil de ir embora, mas a realidade não é só aquilo. A realidade não é ir dormir e acordar com os amigos, não é almoçar às 14:00 e jantar às 22:00, chegar em casa todas às noites quando o sol esta para nascer. Realidade não é gastar a tarde inteira com conversas jogadas fora, seja na cidade ou na praia. Realidade é aproveitar tudo isso e saber que a hora que acabar, valeu a pena. Tudo aquilo te satisfez de alguma maneira.

Então, quando você menos espera, você faz as malas ou então encaixota a sua infância numa caixa. Você se despede, às vezes em silêncio, outras as lágrimas dizem tudo ou então palavras doces e lamentáveis declaram a dor. Você então precisa ir, fecha a porta, entra no carro, pega a estrada e vai. Vai embora, olhando para trás, lembrando que tudo valeu a pena. Ou então, simplesmente deixa tudo na caixa fechada, fecha os olhos e guarda todas as lembranças, vira as costas e simplesmente parte. O pior não é saber que tem de ir embora, o pior é saber que chegou a hora de ir.