Passava das duas da manhã e a campainha soou forte. A menina
estalou os olhos, sentou na cama sem entender o que acontecia e foi zonza até a
porta. Errou a chave uma, duas, acertou. Acendeu a luz, abriu a porta. Olhou,
analisou, acordou. Do lado do corredor um garoto alto e magro, de cabelos e
olhos castanhos, com roupas de quem estava em casa e chinelo de dedo, a olhava.
- Eu estava aqui por perto, ia pedir um táxi pra voltar pra
casa, mas pensei em passar aqui antes. – disparou o garoto – Ver como anda
você.
A menina ainda o olhava com olhos arregalados. Sua boca abria
e fechava, procurando palavras, argumentos ou qualquer coisa.
- Desculpa. Sei que não deveria ter vindo. Foi impulso. –
continuou ele, percebendo a falta de reação dela.
Se encararam mais uns instantes e por fim a garota conseguiu
falar.
- Não, tudo bem. Só foi uma surpresa, não esperava por ti...
Por ninguém na realidade. – olhou pra dentro do pequeno apartamento, que pelo
qual estava uma bagunça – Se quiser entre, por favor.
O garoto entrou e esperou ao lado dela, até que ela fechasse
e trancasse a porta. Ela então acendeu a luz da sala, abriu a janela e se
sentou no sofá. Ele a imitou e sentou ao seu lado.
- Então, o que estava fazendo por aqui? – enquanto acendia
um cigarro – Quer uma cerveja, um vinho, alguma coisa?
- Saí com uns amigos aqui na rua e terminamos no bar da outra esquina. Quando fui pedir um táxi olhei pro seu prédio e resolvi passar aqui. Aceito uma água.
- Ah legal! A rua anda bastante agitada nesse começo de ano, o calor atraí as pessoas. Ando bastante por ali também, saio cedo do trabalho então sempre posso combinar uma cerveja de final de tarde. – abrindo na pequena cozinha a geladeira e pegando uma garrafa de água.
- Saí com uns amigos aqui na rua e terminamos no bar da outra esquina. Quando fui pedir um táxi olhei pro seu prédio e resolvi passar aqui. Aceito uma água.
- Ah legal! A rua anda bastante agitada nesse começo de ano, o calor atraí as pessoas. Ando bastante por ali também, saio cedo do trabalho então sempre posso combinar uma cerveja de final de tarde. – abrindo na pequena cozinha a geladeira e pegando uma garrafa de água.
Ela sentou no sofá de novo e entregou a garrafa para o
garoto. O analisou por um tempo, soltando devagar a fumaça do cigarro.
- Seu cabelo cresceu. – disse por fim para o menino.
- É, deixei pra ver como ficava. O seu também cresceu, tá enorme. Mudou algumas coisas por aqui também, começou a escrever no quadro. – analisando a pequena sala.
- As coisas precisam mudar. – sorrindo - Mas me diga, de verdade, o que o trouxe aqui?
- É, deixei pra ver como ficava. O seu também cresceu, tá enorme. Mudou algumas coisas por aqui também, começou a escrever no quadro. – analisando a pequena sala.
- As coisas precisam mudar. – sorrindo - Mas me diga, de verdade, o que o trouxe aqui?
A garota parecia perfurar os olhos do garoto, como se antes
da resposta dele, ela já entendesse perfeitamente o que acontecia ali.
- Soube que vai voltar. – olhando os pés.
- Sim, cansei daqui. Sinto falta de casa, das pessoas, da nossa cidade. Lembra como éramos felizes? Sinto falta do sol iluminando nossos dias. De tudo ser melhor. – ela disse esmagando o cigarro no cinzeiro.
- Eu sinto falta da gente.
- Sim, cansei daqui. Sinto falta de casa, das pessoas, da nossa cidade. Lembra como éramos felizes? Sinto falta do sol iluminando nossos dias. De tudo ser melhor. – ela disse esmagando o cigarro no cinzeiro.
- Eu sinto falta da gente.
A garota simplesmente parou e tentou compreender o que ouviu. Seu coração saiu repentinamente
pela boca, apertou uma mão junto da outra e virou o rosto para o lado tentando
evitar o olhar do garoto.
- Depois desse tempo todo? – perguntou ela.
- Nunca deixei de sentir, – fazendo a garota o olhar – mas eu simplesmente não conseguia falar contigo. Afinal era um erro eu sentir falta, pois éramos um desastre juntos. Só que agora você vai embora e eu...
- E agora você irá ficar sozinho. Assim como eu fiquei quando terminamos, não é mesmo?
- Nunca deixei de sentir, – fazendo a garota o olhar – mas eu simplesmente não conseguia falar contigo. Afinal era um erro eu sentir falta, pois éramos um desastre juntos. Só que agora você vai embora e eu...
- E agora você irá ficar sozinho. Assim como eu fiquei quando terminamos, não é mesmo?
Os dois se olharam e mesmo com lágrimas, ela aguentou o
olhar dele. Ela havia esperado por esse dia por muito tempo, ela pediu tanto para
que ele sentisse a sua falta. Mas doía muito saber o tamanho dessa falta que
agora declarava existir.
- Tentar te esquecer foi a coisa mais difícil que eu já fiz
e agora você vem dizendo que sente e sempre sentiu falta, que enquanto eu
tentava seguir a minha vida você também tentava e também não conseguia? Que
durante esse tempo todo que eu tentei pintar de azul o meu céu, que esse tempo
todo eu sentia desabar quando eu via que você tava bem e eu continuava ali,
lutando contra a maré. Eu só tentei te esquecer, esses meses todos. Dia e
noite.
Ela soluçava, suas bochechas rosadas exaltavam mais ainda
seus olhos. O garoto a olhava com ares de quem não sabia o que dizer, apenas
pegou sua mão e enxugou suas lágrimas.
- Não me culpe por tentar sorrir sem ti e nem você por tentar
viver. Mas sentia saudades. Sentia seu cheiro nos meus travesseiros, escutava
sua voz de madrugava. Te procurava de noite, te encaixava. – enfim disse o
menino.
- Você não sabe como tudo aqui doía e ainda dói por você estar tão longe. Meu bem, você ainda é fogo dentro de mim. Eu implorava todos os dias para que você voltasse, eu sentia raiva do mundo por ter te apagado da minha vida antes de eu te apagar da minha memória.
- Então volta, meu bem. Volta.
- Eu nunca fui embora. Foi você quem quis partir.
- Você não sabe como tudo aqui doía e ainda dói por você estar tão longe. Meu bem, você ainda é fogo dentro de mim. Eu implorava todos os dias para que você voltasse, eu sentia raiva do mundo por ter te apagado da minha vida antes de eu te apagar da minha memória.
- Então volta, meu bem. Volta.
- Eu nunca fui embora. Foi você quem quis partir.
Curitiba, 21 de julho de 2014. 01:03