sábado, 29 de março de 2014

180 dias sem você



Fui engolida pelos dias que se passaram, eu dobrei a esquina e você deixou de estar na minha vida e a sua ausência me interrompeu tão abruptamente que eu não sabia o que dizer. A sua ausência nunca me foi sutil. Sutil é o seu desaparecimento no meu dia-a-dia. Atravessei a rua sem você, peguei metrô e bebi cervejas, tomei sorvetes e ri, ri muito sem você. O tempo ainda corre e admito de coração apertado que o tempo continua sendo tempo, mesmo que você não esteja aqui para contá-lo comigo.

Eu não me dei conta, você se deu? Perdi a conta dos dias que se passaram sem você. Ainda existe uma mescla, boa e ruim, do tempo que se arrasta ou passa rápido demais. Me dei conta que você não estava lá quando meu mundo se perdeu. Também não estava junto de mim quando recebi meu primeiro salário, quando fiz a tatuagem da qual sempre tanto falei. Você meu bem, deixou de estar. Simplesmente.

Corri. Corri contra o tempo e a favor dele. Abracei diariamente a saudade que senti de ti e acontece que você ainda me destrói. Eu não sou capaz de me desfazer das lembranças de você. Não sou capaz de amar de novo, de tapar o buraco que você fez em mim. Eu abracei o mundo, meu bem. Eu tive de aprender a rir até a barriga doer, aprendi a pegar táxi e a voltar de madrugada sem você. Abri a porta, acendi luzes, matei aranhas, espantei o frio e congelei feijão pra um. Me perdi, me esqueci e quis fugir. Fugir pra longe, onde você não seria capaz de me encontrar. Mas ainda sim, quando eu corria, eu sempre queria que você corresse atrás de mim.

Hoje ainda dói em mim a sua ausência, sua vida que não se cruza mais com a minha. Suas histórias que meus ouvidos não podem mais escutar e seus olhos que não brilham mais quando veem de encontro com os meus. Parece fazer tanto tempo, parece que tínhamos tanto tempo. Tínhamos tanto a fazer, tanto a amar e ainda sim recuamos. 

A vida, meu bem, encontra delírios pra tentar viver sem você. E para ser sincera, que essa dor crônica que eu sinto acabe logo. Hoje, marquei amargamente no calendário o 180º dia sem você.


Curitiba, 25 de março de 2014. 15:46