quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Enxergar.

Eu hoje, silenciosamente, fiz minhas malas e parei na porta. Chorava por dores que nem eu entendia, encontrava meus cortes, meu sangue. Eu estava pronta pra ir embora. Maquiagem borrou em um instante e no chão encostei meu joelho, chorando e pedindo aos céus pra que esse peso um dia fosse embora.

Não sei porque sou assim. Eu não sou leve, eu não sou brisa. Sou maremoto, sou furacão. Meu bem, eu sou tempestade. Não sei ser diferente e é bem claro me ver, me sentir. Eu quando doo, todos veem. Eu não faço isso por mal, não exponho meus cortes como obras de arte, mas todos conseguem ver, sentir. Eu sangro e não estanco. Eu não sou frágil, mas eu quebro e eles conseguem ver isso.

Eu desabo sozinha e não peço ajuda, mas imploro aos céus para que alguém veja meu terremoto. Mas nunca ninguém viu. Acho que ninguém consegue enxergar todo esse turbilhão que eu acabo sendo. Ninguém entende. Ninguém sabe. Ninguém sente. Só eu.

Eu fico na espera de um salvador, mas a salvação sempre sou eu. Eu me tiro de buracos e poços, mas não conto pra ninguém. No final eu tô ali, toda desmontada, com mil sentimentos e um mundo nas costas, mas ninguém vê. Meu terremoto vira drama, meus sentimentos loucura, aos olhos dos outros. Talvez eu seja mesmo excesso. Talvez eu seja mesmo extrema.

Talvez eu seja todo esse poço de loucura mesmo, onde sinto tudo a flor da pele e quando rio eu na realidade gargalho, e quando choro eu na verdade transbordo. Eu sou clara como um cristal e todos conseguem me ver. Mas ainda assim, ninguém me enxerga.

Dublin, 12 de dezembro de 2018. 23:50

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Do amor que eu transbordo.

Não me entenda mal, não ache que seja demais, mas a verdade é que eu transbordo. Eu nunca fui rasa, acho que você já percebeu. Eu sempre fui rio cheio, que em temporais transborda. Meu limite sempre foi alto e eu nunca seco, apenas acalmo. Você chegou trazendo ventanias, quis mudar a direção das águas. Você fez com que todo o rio transbordasse. Você é todo o movimento que me faltava, mas não entendia. Você chegou e resolveu que eu precisava de novos portos e não novas ancoras. Você chegou e céus, bagunçou tudo e eu só deixei que você bagunçasse, pois via que você transbordava assim como eu.

Como eu, você me olha e em teus olhos verdes eu vejo tudo o que eu nunca vi. É uma paz com euforia e aventura com calmaria. De longe eu te vejo e tudo o que eu sou, finalmente se encaixa. Porque não existe essa história de dois virarem um, mas quando eu te vejo eu sinto que a gente transborda tanto que o oceano em que desaguamos fica pequeno e é tanto sentimento dentro de mim que misturo minhas águas com as tuas e enfim nos tornamos dois que parecem um.

Que eu te olho de longe e só o que consigo é suspirar e pensar o quão maravilhoso é estar contigo e nem ligo que me vejam ser com toda essa intensidade. Que eu sou nua e crua aqui pra ti, mas também pra quem quiser me enxergar. Que eu me entrego em cada pedacinho pra ti, sem medo algum, apenas confio que tá tudo no caminho que era pra estar. Que todas essas estradas erradas e emburacadas que já percorremos foram na realidade traçadas pr'um dia a gente se achar. Que aqui onde estamos é tudo tão intenso e todos vão embora, mas quando eu te encontrei tudo de repente iluminou e partir de ti nunca seria uma opção.

O que eu quero dizer é que eu nunca transbordei com tanta intensidade por alguém, que por mais que eu já tenha tido bons amores no passado, eu nunca tive tanta certeza. Bastou te ver, meu bem. Te enxergar, te deixar se aproximar um pouco mais, pra entender tudo. Que nesse mundo de almas perdidas, as nossas quando se viram simplesmente se entrelaçaram e depois disso, tem sido só o universo tecendo a nossa história.

Meu bem, eu nem sei o quão brega é citar Los Hermanos, mas acredito mesmo que esse é só o começo do fim de nossas vidas. Assim como quando eu te olhei um tempo atrás e pude ver que tudo estava se encaixando e colorindo de uma maneira boa, cada dia tem sido uma certeza a mais. Sinto que contigo tristeza não terá lugar e que, citando aquele filme bonito que eu gosto, acredito mesmo que cada um tem o amor que acredita merecer ter. Ah meu bem, eu sempre soube que merecia mais do que aquilo que eu tinha, mais do que o velho "não tá bom, mas também não tá ruim" e foi assim atém o dia que você chegou e começou a abrir as janelas e a mudar as coisas de lugar, e desde então eu passei a entender que o amor que eu merecia era você.

Então meu bem, tudo o que eu transbordo é todo esse sentimento que eu simplesmente sinto quando eu te vejo. Que você tem sido minha melhor parte e que estar contigo é o que eu quero. Não me pergunto o por que da gente, por que agora, por que você. Não pergunto mais, pois algo tão grande assim, na realidade nós apenas agradecemos. Podemos apenas sorrir e agradecer. Pois meu bem, ah meu bem, isso tudo é sorte. Sorte de ter encontrado um amor tão grande assim.

Dublin, 7 de outubro de 2018. 16:52

domingo, 14 de outubro de 2018

Do que eu quero te dizer.

Meu bem, eu sempre falei muito da vida, dos amores e desamores. Eu montei muitos castelos por aí, alguns desabaram, outros estão lá, mas ninguém mora mais neles - acredito que nunca ninguém morou na realidade. Eu andei por muitos mares e sobrevivi por muitas tempestades, eu me afoguei. Me afoguei anos atrás, mas também há pouco tempo. Eu quase me afoguei por tempo demais e algumas vezes nessa vida, eu realmente quis que isso acontecesse. Eu já vi tudo se perder e não via chão, não via paz. O que estou querendo te dizer é que já andei por muitos caminhos tortos.

Meu bem, eu sou quieta e muitas vezes guardo a ferida pra mim, aprendi a estancar sangue e sonhos e sempre fui meio assim, sozinha. Mas gosto de companhia, nem que seja pra estar na mesma casa, mas fazendo coisas diferentes. Eu sempre fui meio só, mas nunca quis ser totalmente. Eu gosto da minha companhia e não é só quando estou de mãos dadas com alguém, que o tempo passa rápido. Assim como abro minhas cervejas em dias nublados, apenas para florescer o que tá aqui dentro. Eu fumo cigarros na varanda e em cada tragada eu tiro um pouco do peso que é ser. Parece loucura, mas é um jeito que encontrei de me esvaziar, quando preciso. Eu gosto de música, mas muitas vezes o silêncio me abraça e quero ficar ali, só por mais cinco minutinhos.

Meu bem, eu choro. Choro bastante, por coisas que deram errado, por objetos perdidos, por filmes românticos da televisão, por pessoas que vão embora cedo demais. Eu choro por causa de um passado que não volta mais, por causa de um futuro que não vai vir ou talvez demore. Eu choro porque um dia eu não vou mais existir. Mas eu também sorrio e minhas gargalhadas são escandalosas e parece mentira, mas minha barriga chega a doer muitas vezes de tanto gargalhar. Eu sou colorida, então não venha com preto e branco, que eu vou usar todas as tintas que eu tenho para pintar por cima. Eu sou esse buraco fundo, mas é porque eu sinto tudo demais, eu transbordo muito.

Meu bem, essa é a parte mais real de mim: eu transbordo. Eu vou transbordar eu, você e a gente várias vezes. Eu sou rio fundo, eu já avisei, mas minhas águas por si só já correm no limite. Então num dia que pegarmos o carro e formos pra qualquer lugar, eu vou olhar pra ti e vou ver que tudo esta em paz. Que eu estou feliz comigo mesma e que você deixa tudo ainda mais colorido e bonito e eu aí vou transbordar. Vou transbordar porque felicidade é algo que tem de transbordar, porque é bonito demais ser feliz, meu bem. E ser feliz e estar contigo, é exatamente o que eu quero.

Então meu bem, eu vou transbordar. Por toda felicidade que eu sentir e por todo esse amor que você causou. Vou transbordar pois meu bem, ah meu bem, do momento que eu te vi, eu sabia que transbordar seria o mínimo pra nós dois.

Dublin, 14 de outubro de 2017. 17:03.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Do adeus que não te dei, amor.

Que caminhos tortuosos a vida nos leva, não é mesmo? Se voltarmos 12 anos atrás, hoje era uma tarde de inverno. Não sei bem se era dia de semana, sábado ou domingo. Não sei bem se estou numa tarde ensolarada ou nublada. Fria, de qualquer maneira. Não sei bem se eu ouvia a tua voz ao vivo, telefone ou se nos falávamos com o falecido meio de comunicação da época - o MSN. Não sei bem se estava para te encontrar ou se estávamos juntos, sentados naquela praça tão movimentada de adolescentes, tão cheia de lembranças. Mas sei de algo com certeza: 12 anos atrás você ainda existia.

12 anos atrás você preenchia todo o meu coração inocente. Eu era para ti. Você era o garoto mais velho que apareceu naquele show de hardcore. Ainda não tenho certeza o que eu fazia lá, afinal até então, tão pouco eu sabia desse mundo. Mas naquele dia em que você sentou ao meu lado, tudo mudou. 

Mudou no dia seguinte, na semana seguinte. Mudou a vida inteira. Você era o meu amor maior e eu, aquela eu de 14 anos, não parava de me perguntar o que eu seria sem você.

Você chegou mostrando um mundo novo, colocou cores, gostos e músicas. Virou o mundo de cabeça para baixo. Você desconstruiu tudo e aí construiu de novo e eu, bem, eu só tinha 14 anos. Você chegou em disparada, rápido como um raio, devorou memórias e gostos, esgotou a energia e aí sutilmente disse que iria embora. Embora para longe, tão longe que meus braços seriam curtos e eu não te alcançaria. 

Prometi pra mim mesma que não iria gostar de ti. Mas, afinal, como se evita o amor, não é mesmo?

De repente, assim mesmo, você era tudo. Eu só conseguia pensar; "mas e agora?". Eu era tão nova. O que era exatamente tudo aquilo que vivíamos? Eu gostava tanto de você, que te perder doía. Como eu poderia? Já tínhamos tantos planos. Você indo embora destruíria todo o futuro que eu incansavelmente criava para nós dois - mesmo que, mais tarde, eu descobrisse que nunca daria certo. Mas ainda sim, construíamos na nossa imaginação, com afinco, todo aquele futuro lindo que nos esperava.

Você foi meu primeiro amor, garoto. Primeiro amor a gente nunca esquece. Primeiro amor a gente leva pra vida inteira e guarda com carinho, num dos lugares mais bonitos do coração.

Você, naquela manhã fria do começo de julho de 2006, foi embora e eu nunca poderia imaginar tudo o que eu viveria depois da tua partida. Nunca teria imaginado o quanto você reapareceria na minha vida, aqui e lá. 

Quantas vezes senti frio na barriga por causa de ti. 

Os anos então se passaram e tudo mudou. Mudou tanto que você, um dia desses, se foi para sempre. 

Mas o tempo não parou nem por um segundo. A vida continuou, assim como foi há 12 anos atrás. A diferença é que dessa vez você não tem como voltar.

Os anos irão passar, assim como já se passaram antes. 

Mas o cheiro do teu perfume... Bem, esse continuará cravado em mim.


Dublin, 26 de Junho de 2018. 13:01.