domingo, 15 de março de 2009

Pode ser, eu sei.

Pode ser que quando você voltar ele já não esteja mais lá. Também pode ser que quando ele voltar você já não esteja mais lá. Pode ser que bata o relógio à meia noite e você queira dar uma de Cinderela, pode ser que quando bater o relógio à meia noite você queira prolongar até às cinco da manhã.

Pode ser que hoje o dia foi um desperdício. Pode ser que amanhã ele esteja na sua saída com uma rosa na mão. Pode ser que você chore todas as noites, pode ser lágrimas de saudades ou de dor, de coração quebrado. Pode ser que a música de vocês pare de tocar simplesmente porque as rádios já não a querem mais. Pode ser que a foto simplesmente caiu do mural.

Pode ser que o seu mundo desmorone todos os dias, também que você o veja de longe e sinta vontade de abraçá-lo. Pode ser que você sinta saudade das ligações noturnas dele, pode ser que você queira ligar e descobrir se ele ainda pensa em você. Pode ser cedo ou tarde demais.

Eu sei que você chora a ausência dele. Eu sei que toda nova carta que recebe, você deseja que seja dele. Eu sei que você se lembra dele todos os dias. Eu sei que você tem marcado em você todas as datas, do primeiro beijo, do namoro e até mesmo do dia que ele partiu. Eu sei que as palavras que ele disse vêm à sua cabeça, quando passa nos lugares que estiveram juntos.

Eu sei que você teve de se esquecer de muitos planos, sei também que todos eles você montou cuidadosamente todas as noites antes de dormir. Eu sei que até a aula parecia mais aconchegante e menos monótona, quando dali a algumas horas você o veria. Eu sei que você nunca se esqueceu das mordidas carinhosas que ele lhe dava, eu sei que você nunca se esqueceu da vez que ele te olhou nos olhos e te disse “eu te amo”.

Eu sei perfeitamente que você não consegue odiá-lo nem por um segundo sequer, mesmo sabendo o quanto ele te quebrou. Eu sei que você ainda o espera todos os dias, como se ele fosse voltar repentinamente. Eu sei dos cortes que você teve, das vezes que quis desistir do mundo. Eu sei do quanto você sofreu, do quanto você teve de superar, depois que ele foi embora. Eu sei a dor que você sentiu quando você o viu pela última vez.

Pode ser que você ache que nunca irá mais encontrar alguém como ele, eu sei que ainda não encontrou. Mas eu sei que você sempre tentou deixar suas feridas de lado, pode ser que elas já tenham se fechado, mas eu sei que você ainda admira as cicatrizes. Pode ser que as noites tenham ficado mais longas, e eu sei que você nunca tentou fazê-las mais curtas.

Eu sei que o seu coração está em pedaços, mas pode ser que já esteja sendo colado. Eu sei do quanto você quer dizer pro mundo da agonia que sente dentro de ti, mas pode ser que você simplesmente não consiga. Pode ser que essa agonia já não seja tão grande. Pode ser que você só precise de tempo pra começar a se recuperar.

Pode ser que você não veja mais saídas, eu sei que muitas vezes não vê. Eu sei das vezes que você foi até lá pra vê-lo, pode ser que isso simplesmente te machucasse mais ainda. Eu sei que você já se apaixonou de novo, mas pode ser que nunca deixou seu coração amar. Exatamente, pode ser que a saudade te invada, mas eu sei muito bem que não pode deixá-la te domar.

terça-feira, 10 de março de 2009

Logo vai começar.

Dia 4 de abril começa uma jornada que talvez eu gostasse de adiar. Não pela falta de vontade, mas sim pelo medo que me embrulhou o estômago. A respiração se tornou ofegante ao saber que os dias estão sendo contados, que a ausência de mim mesma nessa cidade esta para chegar.

São dez meses, depois eu volto. Terei histórias, tratei presentes, estarei mudada, estarei crescida, assim como todos aqueles que eu deixarei aqui. Guardarei em todos os meus dias em que estarei distante, um punhado de saudades. O punhado que despejarei com lágrimas, abraços e sorrisos assim que eu voltar para casa.

É fato de que este tempo longe de tudo me fará muito bem, mas também é fato de que ele criara muitas cicatrizes. Serão lágrimas dolorosas de saudades, serão dias em que a vontade é de sumir, desaparecer. Afinal, qual é a sensação de estar tão longe de casa, sem saber falar quase nada da língua local, sem ter ninguém pra te abraçar e fazer da escuridão um pouco mais confortável? Qual é o tamanho da força que tem de se ter pra agüentar? Qual é o tamanho da vontade? Qual é o tamanho da saudade que vai abrigar e ferir o coração todos os dias? Será que eu agüento?

Sei que há os que dizem “você vai agüentar, você é forte”, mas da medo. Da um receio ficar tanto tempo fora de casa, fora da cidade. Ao mesmo tempo que eu sei o tamanho do abismo para o qual estou me dirigindo, também sei o quanto o vôo poderá ser gratificante, se eu o fizer de tal modo. Sei das novas experiências, da nova cultura, do sonho sendo realizado, das pessoas que eu poderei conhecer, da experiência de morar no país que eu mais admiro. E mesmo querendo descobrir de imediato, sei que só na jornada até a partida e durante todos os dez meses eu irei descobrir o tamanho do meu pára-quedas.

Diferente do tamanho do abismo e do quanto o vôo para ele pode valar a pena, o meu pára-quedas não depende de mim, depende de todos a minha volta. Descobrirei em uma prova de fogo quem está ao meu lado para me apoiar, me proteger, me acolher. Descobrirei da pior maneira o quanto eu significo. Seja na ida ou na partida, o quanto eu deixarei de saudade pra cada um.

Pode ser com uma surpresa, com uma camiseta do time, com uma carta, com um lenço vermelho, com uma foto, com um abraço, um beijo, um “eu te amo”, com uma lágrima, pode ser com acordar às 6 horas da manhã pra me dar tchau no aeroporto. Pode ser me esperando lá também, quando eu chegar. Pode ser com a faixa roxa ou simplesmente com um “entra no carro, temos dez meses de conversa pra botar em dia”. Não importa como, mas admito estar curiosa pra saber o quanto farei falta.

E quando eu entrar naquela sala de embarque, depois de me despedir de todos eles, eu olharei pra trás e os verei com lágrimas nos olhos uma última vez. Com forças que eu arranjarei, eu terei de olhar pra frente, seguir a direita ou a esquerda da sala e começar a juntar saudade, que infelizmente terei de guardar por dez meses.

Só não peço que me diga que será fácil, diga apenas que valerá a pena, que cada dia sozinha irá valer a pena. Mas jamais me afirme que será fácil. Honestamente eu ainda tenho tempo, mas até lá eu quero fazer deste tempo o melhor possível. Quero levar as melhores lembranças, para se ter as maiores forças.

Ainda está longe de 4 de abril, mais longe ainda a partida em agosto, mas quando chegar, saiba que precisarei de todos os abraços, de todas as palavras. Porque eu sei que consigo, mas preciso de vocês aqui, para caminhar comigo até a hora de eu voltar.


- À minha família e aos meus amigos de verdade.

domingo, 1 de março de 2009

Não deixarei ficar vazio.

“Só que é estranho não conversar com você. Você ocupou um lugar aqui dentro e dai parece que está vazio. É estranho”. Ouvir isso quando eu queria dizer as mesmas palavras, para uma porção de gente. Dizer do espaço vazio, do buraco que muitos deixaram ao ir embora, ao esquecerem. Ao embarcarem para uma vida distante.

Não digo de quem ocupou um espaço enorme e foi embora ao me ferir, não digo de pessoas que se distanciaram sem ter razão, simplesmente porque quiseram acreditar sobre mentiras a meu respeito ou mesmo das pessoas que criaram tais mentiras. Essas pessoas eu jogo fora, junto com todo o resto. É lixo, como já me disseram. Eu digo de quem ocupou um grande espaço e foi embora ou me deixou partir.

Hoje foi apenas mais um dia em que me preparei para partir, começar uma vida de árduos dez meses longe de tudo o que eu conheço, longe de toda essa proteção. Quando começo a me preparar para uma partida quase infinita, me deparo com o que estarei deixando para trás. Com os milhares de vazios que sentirei dentro de mim. Com a distância que criarei de muitos, com as faltas de palavras, com as faltas de olhares e abraços. Até quando a ausência pode ser suportável?

Tenho me distanciado de diversas situações, diversas pessoas. Tenho deixado junto a mim quem é realmente importante, quem realmente vale a pena, mas e quem eu já deixei partir? Todos aqueles que aqueciam meu coração quando o sentia muito gelado, todos aqueles que ocupavam minha mente cheia de palavras doces, muitos deixaram enormes vazios. Insubstituíveis vazios. É estranho.

O deixar partir e o partir, deixando a solidão se abrigar nos vazios deixados no coração. E vai sempre faltar, não é a mesma coisa. Os abraços calorosos, o carinho inconfundível, as palavras doces, tudo o que se recebia sempre, se torna para eventualmente. Mas acontece que o eventual encontro não preenche o vazio diário.

É uma dor estranha, agonizante. Indecifrável, para aqueles que nunca amaram de verdade. É perda, é solidão, é saudade. É querer ter perto mesmo estando muito distante. É sentir o abraço, mas continuar gelado. É o vazio que muitos deixam, muitas vezes sem querer, o vazio que fazemos com que deixem. O vazio que muitas vezes deixamos em outras pessoas.

Assim como a dor, um dia a saudade diminui. Não é lembrada sempre, se torna muitas vezes invisível. O vazio com o tempo diminui, a solidão vai saindo aos pouquinhos, mas o buraco nunca some. Sempre fica um vaziozinho, mesmo que bem pequeno, apenas para nos lembrar dos que já partiram de nossas vidas, mas que nos marcaram para sempre.


- Mas eu não irei embora, não deixarei vazio. Se eu for, talvez seja porque meu tempo se esgotou. Mas calma, pode ser que eu só precisasse de ar.