segunda-feira, 26 de setembro de 2011

No lado esquerdo da cama.

Pequenos desejos, essas vontades tão cruéis que vem aos poucos, se encaixando quase sem querer em nossas vidas. Elas vêm assim, passando devagar e em seu rastro lemos tudo o que queremos sem perceber. Tal vontade descontrolada, que nos seca a garganta, nos tira a fome e o sono. Vontade absurda que sangra no peito, mas mesmo assim não dói.

É aquela vontade de, de repente estar junto, de ver o sol raiar. Vontade de dividir o cigarro, a coberta, o copo e a vida. Vontade de fazer gargalhar, de abraçar com toda a força possível, como se, se não o fizesse, ele te escaparia por entre os braços. Vontade de fazer ciúme, de ter ciúme. Até mesmo vontade de sentir saudade, para depois pular nos braços e sentir todo seu mundo rodando da forma mais bonita que já viu.

Aí você quer assistir mais um filme, pra usar como desculpa pra ele não ir embora tão já. Quer fumar um cigarro, só pra roubar ele de todo mundo por alguns minutos. Quer fazer a janta, pra fazer ele te ver bagunçando tudo. Quer ir, quer voltar, quer ficar e quer que ele também fique. E como sempre quando o dia amanhece, raiando um sol ou fazendo chover, você começa a não se importar com o tempo que faz lá fora. Tanto faz, aqui já tá bom demais.

São beijos, abraços, risadas. Cervejas, cigarros e filmes. O lençol, as mãos e o tempo. É tudo que começa sutilmente a ocupar espaços. Quando vê tem a escova de dente, a xícara e o roupão. Tem o cheirinho grudado em cada canto, a camisa roubada, a alma lavada. Tem a vida inteira mudada.

Surge de repente, do jeito mais gostoso, a canção preferida e as palavras escritas. O lugar mais visitado e a cama sempre na espera depois dum dia longo e agitado. O abraço vira abrigo e a voz o som preferido. O sorriso vira retrato e a mão a protegida. Ele então vira tatuagem invisível no peito e a vontade mais bonita.

Aí quando menos você espera, tem no lado esquerdo da cama, o travesseiro preenchido com um sorriso delicioso te dizendo “bom dia”.



Curitiba, 26 de setembro de 2011. 5:08