segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Por um minuto de silêncio.

A noite cai com preguiça, arrasta contigo estrelas cintilando vida. Um minuto de silêncio foi dado, alguém faleceu, mas não se sabe como, não se sabe quem. A noite se aconchega na pequena cidade, a lua embeleza as montanhas negras. O silêncio agoniza e respeita as lágrimas, os gritos, a dor.

Esta noite ninguém dorme, os fantasmas estão percorrendo o mundo, procurando novos lugares escuros o bastante. Esta noite ninguém ri, ninguém conversa. Ninguém tem vida. Mas o sol não quer nascer, porque esta se apagando. O sol não quer mais viver. A lua grita, com raiva dizendo que quer ir embora, mas o sol não volta. O sol não ilumina mais aquelas montanhas, aqueles olhares.

Traga chuvas então! Encharque esses corações tão frívolos! Regue os jardins tão bem cuidados, tão esquecidos. Rasguem as nuvens, destrocem o céu, sequem o oceano, tranquem os bares. O sol não quer mais voltar e a lua chora e roga pragas, pois odeia iluminar montanhas tão solitárias.

Aquecem com fogo os sentimentos, desliguem o vento! Apaguem a vida! Sosseguem as risadas, abaixem a cabeça. Não durmam, não durmam. Peçam para o sol voltar, peçam para iluminar seus olhos, seus sorrisos. Peçam para haver brilho, peçam para ele não me esquecer. Peçam para ele vir me buscar. Ignorem os sinos da igreja, ouçam a vocês mesmos. Encharquem seus corações frívolos, amoleçam seus sentimentos. Destrocem o céu, destrocem!

Quebrem a grande roda que gira o mundo, eu quero descer.


Valdagno, 21 de setembro de 2009. 21:47

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Tentar, falhar, voltar.

A chuva cai sem trégua nessas tardes ociosas de final de primavera e esta, lentamente se entrega para o frio do outono, entrega sua cor saturada para um cinza indecifrável. E talvez, em meio a lágrimas e sorrisos tão falsos – que ninguém acredita – a dor acumulada já não sabe mais se fica ou vai embora, já não sabe quão grande é.

O tédio tem se aconchegado, permanecido em harmonia dolorosa junto à saudade. Muitas vezes – ou talvez o tempo todo – eu apenas sinta vontade de correr, voltar pra casa correndo, porque não sou daqui. Não quero ser, não gosto ou nem desgosto, apenas não. É uma simpatia muito falsa, rodeada de sorrisos tão falsos quanto, fingir incondiocinalmente que você é bem-vinda – quando na verdade, tanto faz.

“Seja forte” é o que tantos falam, mas quando o silêncio mora na cama ao lado e o tédio te preenche, ser forte é a última coisa que consegue ser. Lágrimas choram e não cansam de chorar e o mundo desaba e não para de desabar. Não tem apoio, não tem ninguém e a causa mais próxima que você tem para continuar é “não decepcionar os outros”.

Mas afinal, quem se enche de saudade não se importa se é hoje ou amanhã. Não se importa se vai voltar ou não e a frustração apenas serve para mostrar que o momento ainda não chegou, que a hora simplesmente não é agora. Afinal, a frustração nós deixamos de lado e passamos a ver que ao menos tentamos.

Tentar é o que descreve bem essa minha vinda. Tentar ter forças e acreditar que as tenho – mesmo quando elas não existam mais - me submeter a um mundo novo, mesmo não gostando tanto assim. Mas quem sabe seja do meu limite que eu queira falar, o limite que eu tenho, o limite que a minha força tem.

“Quando não agüentar mais, volta”. Acredite, tudo o que eu mais quero é fazer as malas e voltar, resgatar a minha vida novamente. Chega dessa tentativa que até agora, está frustrante. E não, por favor, não venham dizer a mim que não tenho tentado o bastante, que tenho apenas jogado tudo pro alto. Porque a agonia me prende o dia inteiro e por mais que eu tente, a solidão me abraça demoradamente. Rodeada de pessoas eu me sinto sozinha, uma única, uma perdida e só.

Num doloroso lamento eu digo que não como, não durmo e não tenho mais vida. Toda vez que fecho os olhos me encontro em casa, com minha família e meus amigos, nessas horas eu simplesmente me pergunto “porque me deixaram vir?”. Eu realmente não entendo e não creio que eu vá entender.

“Então volta agora” eu escuto dizerem, mas essas falas só minha cabeça escuta, porque meus ouvidos não. E não, eu não quero continuar. Porque eu tento, mas sorrir é difícil e ter uma vida mais ou menos e cheia de saudade, é algo que ninguém consegue conviver. Só quero meu cheiro, minha casa. Talvez eu tenha medo de tentar, de ficar tanto tempo longe. Então por favor, num último pedido sufocante: alguém vem me buscar?


Valdagno, 14 de setembro de 2009. 18:07

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Pedaços que deixei para trás.

Hoje a alma se fere, se agoniza. Hoje a alma anseia ter mil medos e não agüentar todos eles juntos. Hoje a alma chora e se esquece de voltar. Hoje e por todo o tempo, a alma se perde, se despede. Se distrai ainda calada, se distrai ainda chorosa. Só por hoje e por todo o tempo, a alma sente falta de casa. Sente falta de nós, sente falta deles.

Mas a saudade dói, a saudade bate incansavelmente. A saudade é dolorida e rasga a carne dos mais sensíveis sentimentos, dos mais sensíveis pensamentos. Hoje a saudade guarda segredos, que não se entende.

Mas eu sei - ou talvez eu ousasse saber – que a saudade machuca mais no hoje do que no depois. A saudade agora é na ferida que se transborda de sangue invisível a olhos frios. Novamente estou no velho ditado de dias “todo dia a mais é um a menos também”. O tempo corre, rasga a linha inexistente rapidamente. O tempo voa e a saudade cresce.

Sinto que cresce, mas não se esquece. Os pensamentos aguçados e cansados de solidão reparam mil idéias insolúveis, no momento. Em meio a confusões as idéias parecem menos abstratas, por mais impossíveis e inúteis. E talvez – repito num talvez meio equivocado – sinto que a saudade de agora dói, a saudade que se estende nos dias que custam a passar. Porém, com fé na rapidez dos dias, os dias se tornam semanas e logo após, meses muito rapidamente.

Nessa solidão involuntária, nessa necessidade de vozes que me entendam, eu procuro idéias e planos pra fazer o tempo parar de se arrastar. Por sutileza do destino ou da minha agonia que queria ir embora depressa, me deparei com o pensamento que a dor da saudade de agora é maior do que a dor da saudade de depois. E quanto mais tempo eu permanecer aqui, maior será minha saudade, mas menor a dor que vem com ela, pois é inevitável pensar que um mês a mais aqui, é um a menos para eu voltar.

Essa casa é recheada de risadas, mas o silêncio prevalece ao me dar conta que estou tão longe de tudo e de todos. E tenho contado as semanas, num calendário imaginário. Afinal os dias se tornam lentamente em “vários” e os meses são muito longos enquanto passam. Por algum motivo – não me perguntem qual – é reconfortante sentir as semanas passando, pois é uma soma de vários dias que por acaso, passam devagar. E precisamos esperar apenas quatro semanas, para sentir um mês indo embora.

Creio que minha mente ande um pouco caótica, de tantas transbordáveis solidões e receios. Também creio que meu relógio não queira passar, apenas pra brigar com os meus pensamentos – quando estes pedem ao vento pra trazer o cheiro de um certo alguém. E as horas rodam devagar por aqui e o dia demora para se tornar noite.

Assim, inocentemente, ando seguindo minha vida incalculável. Repito idéias e planos e amorteço minha vida com ilusões de tempos. Conto semanas, para a rapidez se tornar verdadeira e sigo com a idéia, talvez incoerente, de que quanto mais os dias passarem, mais perto estarei de casa e assim, menor a maldita dor incalculável da saudade.

Guardo comigo, sem receios, pedaços que deixaram comigo. Para lembrar, por humildes objetos e cheiros, do que deixei pra trás por alguns meses. E tenho assim, pedaços deles comigo, pedaços que não me abandonam, que me seguem. Que me fazem voltar pra casa, por alguns segundos, ao fechar os olhos.


Valdagno, 10 de setembro de 2009. 14:49