quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Por acaso, descobri.

É que se eu soubesse... Se eu soubesse do tamanho da falta que você me traria, eu deixaria a porta do meu quarto aberta, só para sempre te ver passando. Eu levaria minha televisão para seu quarto e assistiríamos todos os filmes possíveis. Se eu soubesse do tamanho da saudade, eu não reclamaria da comida e te ajudaria a fazer. Porque hoje eu sinto falta daquela sua comida, aquela mesma, que eu sempre reclamava.

Se eu tivesse noção da falta que você me faria, eu dormiria contigo todas as noites, durante seis meses antes. Igual eu fazia quando eu era pequena, sabe? Se eu soubesse, eu acordaria todo dia de manhã mais cedo, só para fazer um café da manhã. Se eu soubesse do tamanho da saudade, acho que eu deixaria os amigos um pouco de lado.

Se eu soubesse que todo dia de manhã eu sentiria falta de você me acordando, eu sempre dormiria por mais cinco minutos, para você sempre me acordar de novo. Se eu tivesse idéia da falta que o seu Nescau me faz, eu teria trazido barris comigo. Se alguém tivesse me dito que seria assim tão grande essa falta, eu teria conversado um pouco mais contigo. Talvez eu tivesse te olhado um pouco mais.

Talvez, se eu tivesse noção da saudade, eu teria pedido para o tempo andar um pouco mais devagar e toda vez que saíssemos juntas, eu andaria abraçada contigo. Se eu soubesse do tamanho da saudade, eu teria brigado um pouco mais com você, só para depois você vir e me abraçar. Quem sabe, eu até mesmo deixaria meu quarto ainda mais sujo, só pra você ter de passar mais vezes o aspirador e eu te ver entrando no meu quarto mais vezes.

Se eu soubesse o tamanho da saudade, eu teria dormido do seu lado todas as noites depois da uma da manhã e acordado às cinco da manhã, só para ficar mais tempo contigo. Quem sabe, teria aprendido a fazer pão ou pirogue! Teria feito mais brigadeiros. Quem sabe, eu lavaria mais a louça, te ajudaria mais na casa. Apertaria mais os gatinhos, só para eles ficarem mais comigo e te encherem um pouco menos.

Quem sabe, honestamente, quem sabe se eu soubesse do tamanho da saudade, eu teria te abraçado bem mais forte naquele último dia, teria te dito mais uma vez que eu te amo. Se eu soubesse do tamanho da saudade que eu iria sentir, eu voltaria correndo e falaria “não há ninguém como você, eu te amo”. Só mais uma vez. Se eu soubesse do tamanho da saudade...

- Para a melhor mãe, é claro.

Valdagno, 29 de outubro de 2009. 22:34.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Monólogo a dois: eu e comigo mesma.

Certo dia me lembrei da primeira vez que um garoto se interessou por mim. Ainda era aquela garota desengonçada, que adorava se vestir diferente do resto, com aparelho nos dentes. Um dia descobri que o meu “melhor amigo” queria ficar comigo! Bom guri, que sempre esperava seu pai depois da escola, no mesmo lugar que eu. Tínhamos 11 anos e a idéia de beijar um garoto era uma grande novidade!

Foi naquelas festas que acabavam 23:30 e achávamos o máximo. Na hora H eu disse não! Olha o medo de beijar pela primeira vez! Depois foram três anos correndo atrás da criatura. Três anos amando e odiando aquele imbecil. Três anos sendo ignorada pelo “senhor perfeição”.

Aí bastou um verão. Ambos crescemos, amadurecemos e admito, mudei da água pro vinho. Ele deixou de me ignorar e até trabalho de escola fizemos juntos. Aí percebi que se eu fosse incrível, os imbecis iriam gostar de mim. 

Enfim, desde o começo, a minha vida amorosa é um caos.

Sempre choro quando tudo acaba, aí um tempo depois já me apaixono de novo. Acontece que sempre aparece alguém para colar o coração, mas nunca usam Super Bonder, só usam cola Pritt. Aí são desastrados e derrubam o coração ou eu mesma arranco da mão do garoto.

Quando me destroem, amo culpar aquela festa que tocou até forró. Maldita festa em que toda menina se sentava e esperava um menino pedir para dançar. Maldito garoto que me chamou para dançar toda música a dois. O dito cujo ainda me perguntou se eu estava de batom, quando pediu pra ficar comigo. Pediu!

O coração do “meu melhor amigo” até então, foi o primeiro coração que quebrei. Mas para compensar, ele esmagou o meu pelos próximos três anos! Com 11 anos eu já era burra e caía em qualquer palavra doce de um filho da mãe.

Eu sei que meu coração é cansado e ferido, eu sou quebrada em mil pedaços. Vejo que eu sempre desisto. Mas de vez em quando penso que meu pai tem razão, sou rabugenta, mas sempre tenho amor. Deus! Haja amor pra mim, hein...

Culpo meu primeiro namorado também, por sempre fugir do amor. Tem melhor e mais assustadora coisa que alguém amar você? Tem! Amar quem também tem medo! Ah, vida desgraçada!

Eu sou de pedra e de plumas. É! Lembro que já quase morri pelo fim de alguns amores. Lembro que quis fugir da vida ou então mudar ela toda, para agradar qualquer idiota que não sabe nem mentir sobre os créditos do celular.

Sou um pouco certeza e um pouco confusão – maior parte confusão. Quebro e sou quebrável. Talvez eu seja apenas inocente demais ainda. Ou tenho olhos cegos diante as maldades do mundo ou melhor, do amor. Sim, talvez eu seja um pouco romântica demais também. Mas quando eu tinha meus 5 anos de idade, adorava brincar de Princesas Disney e ser a Bela Adormecida. Nunca gostei muito da Cinderela.

Olá, cadê o príncipe que me acorda? Ah é, já tinha me esquecido. Eu sendo ridícula, deixei de acreditar em príncipes depois que aquela mula de 11 anos de idade quebrou pela primeira vez meu coração. Mas agora, já grandinha, não espero o príncipe que me acorde. Mas sim um vampiro que se apaixone por mim. 

Céus, que vida amorosa depressiva.


Valdagno, 20 de setembro de 2009. Durante alguma hora do quarto horário.

sábado, 17 de outubro de 2009

Das cinzas, uma Fênix.

“É preciso virar cinzas, para se nascer de novo”. Assim eu levo a metáfora da Fênix, que eu tanto amo. A metáfora de virar cinzas e delas, renascer. Como se precisasse morrer, para saber qual o valor da vida. Se bem, que talvez seja assim mesmo. Precisa fechar os olhos num último suspiro, para se dar importância aos tantos outros que já deu.

Gosto de seguir calada, com uma música no ouvido – algo que me agrade muito – e observando tudo a minha volta. De vez em quando sorrindo, outras tantas chorando. Quando creio ser conveniente, falando. Vou andando, um passo por passo, até chegar ao topo.

Mas de vez em quando, para se chegar ao topo, você precisa aprender sobre a vida e não simplesmente caminhar. Não são os dias que farão chegar ao topo, mas sim a vida. Os dias apenas se arrastam, na mescla do devagar e do rápido. Para se chegar ao final, você precisa vencer a vida. Precisa usá-la de todas as maneiras possíveis. Precisa respirar vida e assim, dizer com convicção, que a vida lhe ensinou.

Assim, sendo uma Fênix, eu começo a sentir o gosto de estar aqui. Mesmo cansada, eu sigo. Devagar, porque ter pressa nessas horas não tem graça. Sigo os meus passos, o meu limite. Sigo a minha velocidade, diante a velocidade dos dias. Deixo, desta maneira, os dias correrem como o vento, mas eu continuo devagar, assim como uma folha que o vento esqueceu de carregar.

Não é assim, tão fácil. Mas jamais será tão difícil. Onde no final, eu terei mil histórias de se surpreender para contar. Onde no fim de tudo, talvez eu realmente só queira chegar em casa e descansar, como há tempos não descansava. Assim está bem, assim, esperar o tal dia de retornar chegar.

Ontem eu fui cinzas. Eu morri, engoli minhas lágrimas, me afoguei nelas. Ontem, eu fui tudo aquilo que nunca fui. Cheguei ao meu limite, na minha incerteza. Cheguei na minha confusão eterna. Quebrei meu coração, quebrei minhas verdades, quebrei ao viver de saudade. Agora eu sei, renasci.

Quando estava tendo uma conversa aconchegante numa pizzaria local, eu vi o quanto cresci em apenas um mês e meio. O quanto mudei, quis mudar. O quanto comecei a acreditar em mim, de novo. Mas custei para seguir em frente, para deixar de lado os abismos descomunais que me seguiam. Admito que cresci quando quebraram meu coração, quando comecei a ver que precisava pensar e confiar em mim mesma.

Renasci, da maneira mais singela possível. Agora, com algumas lágrimas, com algumas perdas dentro de mim, eu continuo. Fazendo a minha história, para os outros admirarem. Para eu mesma me orgulhar e dizer o quanto fui brava comigo mesma e cheguei aonde cheguei. Mês passado eu era a Fênix quase morta, logo depois eu virei cinzas. Hoje, eu sou o pequeno filhote de Fênix que tem de aprender algumas coisas ainda, antes de voltar pra casa.

Hoje, me faço de um pouco de saudade. Um pouco de vozes e cheiros, um pouco de sorrisos e lágrimas. Me faço de cansaço e desprezo, de desistência e vontade. Hoje eu me faço de italiana, portuguesa e inglesa. Hoje eu me faço contente, com pequenas coisas. Hoje eu me faço de esperança, ao ter um abraço certo me esperando no aeroporto. Com o mesmo cheirinho de sempre. Hoje e até o final disso tudo, eu me faço de amor, por amar e ser amada. Por ter paciência de esperar o novo reencontro.

“Eu, saudade e você.”


Valdagno, 17 de outubro de 2009. 14:38

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Ninguém te abala, só você mesmo.

Antes de partir, cerca de dois anos atrás, uma garota tentou me ensinar sua última lição, com os seguintes dizeres: “não deixe ninguém te abalar. Você é tão forte, nem sabe o quanto é, mas é! Esqueça os sentidos, esqueça o mundo, você é bem mais do que ouve, do que vêem de ti. Esqueça, esqueça tudo! Principalmente, não se abale. Simplesmente isso”.

Havia esquecido por um ano e meio – receio. Coloquei tal pensamento lá no final, como uma lição bem dada, porém nada aprendida. Hoje, no entanto, a nostalgia me levou a um texto de dois anos atrás – exatamente - e adquiri a lição novamente, desta vez , pensei antes.

Respiro, passo a mão no cabelo gorduroso, afinal havia feito hambúrgueres para matar minha maldita fome. Meus olhos estão cansados, quase se fechando, mas como eu odeio dormir assim, tão cedo! E eu ando sempre cansada por aqui, sempre pensando no que falar antes de abrir a boca, mas mesmo assim, não falando quase nada com nada.

Enfim, pensei. Ah, como pensei! Pensei nos dizeres “nada e nem ninguém pode te abalar”. A questão é que, ela não disse “pode” ela disse “não deixe, porque não pode”. Me sinto estúpida por raciocinar tal lição tanto tempo depois, mas admito que ela, a tão grande amiga, tenha razão. O que pode me abalar mais do que eu mesma? O que pode me destruir mais do que eu mesma?

Convenhamos assim, que a força não vem dos outros, mas sim de nós mesmos. Assim como a esperança, ninguém a proporciona, nós a proporcionamos. Nós escutamos a piada e rimos, escutamos o drama e choramos, mas temos a escolha de não rir ou não chorar. Temos a escolha, todo o tempo, do sim e do não. Podemos, num meio confuso, seguir em frente, assim, só porque acreditamos em nós mesmos.

Sei que no momento tenho 15 mil km me distanciando de casa, dos meus amigos. Me distanciando de tudo o que eu mais amo e preciso pra sobreviver. Mas a escolha é só minha, sobre todos os dias tentar um pouco mais e assim, chegar ao topo. E a tal força, que eu sempre pensei que fosse vir dos meus amigos, na verdade vem de mim. Meus amigos apenas me apóiam, me seguram para eu não cair.

Admito estar cansada e provavelmente pensando coisas que lucidamente eu não pensaria, mas no momento de êxtase eu pensei nisso. “Olá, força. Agora eu sei que você existe mesmo quando meus amigos não me abraçam. Porque depende de mim e só de mim, basta isso.”, eu diria agora se a força fosse um humano. Quando eu quiser ser mais forte, eu serei mais forte. Se eu não acreditar em mim mesma, quem mais vai acreditar? Ninguém.

Receio que antes de qualquer pessoa, eu precise de mim mesma. Preciso do meu coração, da minha razão, da minha vida. Antes de qualquer coisa, preciso sorrir, assim o mundo pode sorrir junto. Preciso mostrar a mim que eu posso chegar até o final, basta tentar.

Todos estarão me esperando quando eu voltar, com mudanças ou não, estarão. Porém, assim como todos mudarão, eu também mudarei. Ninguém congelou no tempo, muito menos eu.


Valdagno, 8 de novembro de 2009. 22:20

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Onde o mundo parou.

Hoje a Itália nasceu preguiçosa e dolorosa. Tão dolorosa que me fez faltar ar e pensar em tantas coisas. Hoje a manhã chorava e respirava devagarzinho, enquanto eu apenas me mantinha segura na minha cama – não minha, da casa. Com os olhos tão fechados que nem precisava do breu do quarto pra brincar que era noite.

Como sempre o dia se arrastou, mas ao chegar ao final do dia, tive a impressão de que passou tão rápido que eu nem pude senti-lo. Hoje o dia morreu e nasceu várias vezes, ou talvez o tempo tenha morrido e nascido várias vezes. Por hoje, assim como por todos os dias, o inglês se misturou com o italiano, que me faziam pensar em português.

Assim tão longe, eu só penso em voltar. Mas a duvida, afinal não é como voltar – afinal já tive a proeza de descobrir – mas sim de como agüentar até a neve cair. Essa cidade deve ser tão linda com a neve! Queria ficar aqui e ver as lágrimas de neve que caem do céu a partir de novembro – num talvez bastante duvidoso.

Só quero ouvir uma voz carinhosa, me chamando para um café quente durante a tarde que insiste em continuar vagarosa e ociosa. Talvez, na realidade, tudo o que poderia me salvar não seja o café – apesar de que adoraria tomar um agora – mas sim um abraço. Daqueles que você não respira, sabe como?

Chego numa conclusão: abraços, assim como sempre falei, realmente conseguem salvar a sua vida. Um abraço, um único. Daqueles que o perfume da pessoa impregna em você, daqueles que você sente o coração do outro batendo junto do seu. Um abraço salvador, um abraço tranqüilo e forte. Só precisava disso para continuar, seguir em frente da maneira que não sei como é. Num abraço você encontra forças que nunca encontraria.

Veria a neve, afinal. Se eu tivesse um abraço verdadeiro todos os dias. Porém, devo me perguntar, onde estão os super-heróis? Aqueles que me abraçavam quando eu insistia em desmoronar. Ó céus, onde estão os super-heróis? Eu os perdi no meio do caminho e eles se perderam de mim. Ou eu os perdi quando me perdi de mim mesma?

Às vezes o tempo salva alguma esperança. Às vezes alguma esperança salva o tempo. De vez em quando os dois se afundam. Mas não vou mentir, aquela noite me fez rir até a barriga doer, com havia tempo eu não ria. Aquela noite salvou a minha vida por aqui. Mas logo depois amanheceu e o dia pareceu duro novamente, hoje amanheceu de novo e a tal vida morreu, como se não fosse novidade.

É o esforço que ninguém vê. Aquele que você da o seu melhor, mas o seu melhor não é o melhor para os outros. E assim começam a passar os dias, onde me agarro ao ar, fingindo que consigo me manter viva, totalmente viva por aqui. Oi, solidão. Você tem se tornado a minha melhor amiga e a pior inimiga. Quem é que disse, afinal, que a vida ia se quebrar?

O meu mundo ta ruindo, minha vida ta ruindo. Tenho perdido minha vida aqui e a minha lá, então pergunto, e agora?


Valdagno, 5 de outubro de 2009. 20:00