domingo, 15 de novembro de 2009

Deixa, vai. Deixa.

Deixa eu sentar aqui, que hoje eu quero conversar. Deixa eu olhar seus olhos, assim, penetrá-los. Deixar eu respirar o mesmo ar que você. Deixa eu fazer a saudade morrer, deixa? Deixa eu te contar devagarzinho, te abraçar por trás. Deixa eu te fazer sorrir, só deixa, tá?

Nunca soube se essa distância era boa ou má, eu realmente nunca quis saber, provavelmente. Mas cansei de chorar, de raiva, parei de tentar derramar lágrimas no meu travesseiro e segui em frente, mas sabe, doeu pra seguir. Ainda dói e de vez em quando a raiva é tão grande, mas tão grande, que eu só quero fazer as minhas malas e sumir. Me apagar na vida – no mínimo daqui.

Tenho certeza que não tenho mais tempo, porque ele já é tão farto que não posso querer mais. E quando não sei que coisa pensar, eu simplesmente não penso, porque já cansei de pensar. Mas se me dessem mais tempo, ligaria pra ti, uma noite qualquer, e te perguntaria como anda a vida, te escutaria com mil desabafos e talvez, até mesmo, te ajudaria de qualquer maneira. Antes de desligar o telefone, eu apenas perguntaria “você ainda pensa em mim?” e sendo sim ou não a resposta, eu desligaria.

Desligaria por medo de dizer qualquer coisa. Medo estúpido, eu sei. Mas o teria. Acho que tenho medo de ouvir um sim e depois ter de esperar alguns meses pra te ver e teria medo de ouvir um não e depois me afogar em tudo. Teria medo da resposta, qualquer que fosse e por esse medo, deixaria de escutar.

Sinto saudade da sua voz, da sua risada. Esses dias me peguei olhando o nada e veio você na cabeça, vi você, como num filme. Quis chorar, espernear. Aí pensei que não preciso de você para respirar, nunca precisei. Agora, que eu me ponho do outro lado do oceano, eu sinto que aprendi a gostar de você. Porque não te preciso mais.

Justamente. Como não te preciso mais é quando mais eu te quero. Porque não te quero por necessidade, te quero por conforto, por vontade. E talvez eu precise te dizer mil vezes, mas eu sei que você gosta de mim e sempre soube que você não me quis ver partir pra tão longe. Então pare de enganar tudo, de enganar a gente.

Hein, já que eu estou aqui, do seu lado, te falando um monte, porque você não pega a minha mão e diz que estamos juntos? Sinto saudade disso, de não precisar me enganar com mil acasos diversos, só para fingir que te esqueci. Me faz sorrir, faz. Esquenta minha mão, esquenta.

Deixa te contar além da carta que te mandei, te fazer pensar. Pensar que eu te espero, porque eu te quero. Fazer você pensar que quando meu avião pousar, é e sempre foi você, que eu quis ver me esperando só pra me abraçar. É que eu estou voltando pra casa mais cedo e achei que você poderia parar de ter medo do que ainda vai vir. O mundo não é previsível e nós dois muito menos, mas o mundo se ajeita, se quisermos.

A gente vive com saudade, sabe? Não é difícil assim não. Se acostuma, se torna normal. Começa a fazer parte de você e mesmo de vez em quando doendo, você deixa doer, deixa arder. O tempo voa e logo estou na minha casa de novo.

Mas faz assim, segura a minha mão, tá? Não se esquece de segurar. Eu preciso saber que você tem saudade. Me conte histórias, me conte qualquer coisa. Me olhe nos olhos e brigue comigo por eu ter ido embora. Mas quando eu voltar fica comigo, fica. Não vai demorar muito, eu tô voltando pra casa, amor.


Valdagno, 15 de novembro de 2009. 22:00

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