terça-feira, 28 de julho de 2009

O barulho do silêncio.

O silêncio suspirava sozinho. Caminhava pela casa inteira, impedindo risadas e conversas, impedindo a música de viver. O silêncio cercava o coração, fazendo com que batesse devagar, quase sem vida. O silêncio dominava a saudade, dominava o coração e a dor. Fazia lágrimas quentes escorrerem, proclamarem tristeza. Solidão.

E quando a noite chega o quarto não se enche de vozes e risadas, muito menos de filmes rodados na televisão. Lágrimas são constantes e cortam, substituem os sorrisos que antes estampavam o rosto. Fazendo falta em todo canto, em todo lugar. Jamais, nunca é a mesma coisa sem. Não chega nem perto, nem de brincadeira.

A chuva machuca o vidro cansado de ver tantas chuvas, as piadas se esconderam por um tempo. E não tem mais o que fazer e nem o que conversar. Não existe mais música para se cantar, muito menos maquiagem para se passar. Os olhos não brilham mais e os sorrisos não aparecem. Não tem mais motivo, não tem mais colorido.

Hoje amanheceu nublado e quando olhei pra cama debaixo, não tinha ninguém. Quando queria contar o porquê das minhas risadas durante a tarde, não havia ouvidos para me ouvir, seja o que fosse. Não havia mais olhos para me olharem e dizer “já está tudo errado mesmo”. Ainda há gargalhadas ecoando na minha cabeça, segredos guardados. Ainda há o maldito cheiro de cigarro impregnado no meu nariz. Ainda há as marcas das garrafas de cerveja na minha mesa. Ainda há sombras suas por aqui.

Não têm nenhuma foto que marque nosso tempo, nossos dias. Mas há lembranças que rasgam as saudades, rasgam o tempo, o relógio e o calendário. Há o cheiro que não quis ir embora e pequenos flashes que vem à minha mente. Que traz à vontade de ligar o rádio e escutar as nossas músicas a madrugada inteira.

O café está esfriando e a música lenta se torna depressiva. Há rabiscos na mesma velha folha de papel e uma caneta que já perdi a conta de quantas vezes caiu da mesa. Qualquer barulho parece querer substituir inultimente a sua falta. Qualquer risada mais alta parece querer tampar o buraco que você deixou, o silêncio que ficou. E agora está anoitecendo e a dor está acentuando.

É muito tempo, mesmo que digam “apenas um ano”. É tempo demais, sem você. O que dói mais é ter de levar fotografias, esperando que sustentem as saudades. Levar cheiros e objetos, esperando que façam do vazio e da escuridão menos assustadora. Levar as saudades de você que são adiantadas de um mês. Levar aquele abraço, aquele forte abraço que você me deu antes de subir no avião. Respirar e apesar de tudo, sorrir, ao saber que eu fui a primeira pessoa que ouviu um “eu te amo” vindo de você.
Eu perco a graça sem você e todos podem ver.


- À melhor amiga londrinense que alguém poderia ter. Odeio te ver partindo e ter de esperar a demora de um novo encontro.

Curitiba, 28 de julho de 2009. 00:35 am.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O passado, na nossa música.

O rádio cansado tocou nossa música novamente, tocou bem alto, parecendo gritar as palavras para ouvirmos atentamente. O céu estrelado parecia jorrar todos os segredos, tornando extremamente cintilante a noite, fazendo a vontade ir à flor da pele ou talvez fosse isso que parecia. E quando você me olhou nos olhos e sorriu, eu sabia que a nossa música havia voltado a ser importante, simplesmente única. Como sempre.

Você entrou na mesma velha casa pela porta da frente, ligou a TV e nos fez rir do mesmo velho programa bobo que adorávamos assistir todo sábado de tarde. E era o passado, aquele tão perfeito que suspiramos ao lembrar, tal qual sempre engloba nós dois, é claro. O passado que adoramos lembrar, nos detalhes mais indispensáveis, nos aromas mais marcantes.

O seu cheiro me lembra cada segundo do que já passamos. E quando sinto o seu perfume posso me lembrar como se fosse ontem de todo o resto que deixamos para trás. Mesmo que seja um absurdo, eu quis tirar o pó da nossa música, quis escutá-la novamente com você ao meu lado, quis sentir o seu abraço, quis matar as saudades. Quis fazer o passado voltar a nós, ao dançarmos ao som da nossa música nem que fosse uma última vez.


Curitiba, 21 de julho. 3:28 am.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Se não fosse só. Assim, sozinho.

Já é tão inultimente cansada essa história. Uma ida de cá e outra de lá, uma pausa para qualquer sentimento. Um vazio que se cria no peito, um tremor e uma confusão. Uma mistura indecifrável de sentimentos à flor da pele, te enlouquecendo, te esquecendo, te deixando pequena. Só o pó, eu diria. Só o pó.

Se for verdade, verdade cortante e irritante. Amor que veio à tona, apenas porque a carência tomou o coração, a solidão se acomodou na alma. E ser sozinha, afinal o que é ser sozinha? Se esquecer de nós, de todos nós. Deixar o escuro chegar, deixar a vida se aproximar. E te esquecer, em inúteis vontades relevantes, pensar em te esquecer. Apenas isso, te esquecer.

Agora que me ponho tão perto de ti, minha vontade é apenas de esquecer que você está tão próximo. Deixei escorrer de meu peito meus sentimentos mais puros por ti, pela humilde vontade de não querer sofrer. E você não vem procurar, não grita meu nome torcendo para que eu procure. Você apenas deixa o coração ardendo, se fazendo de frio, enquanto os sentimentos te deixam na solidão. Enquanto o amor, tão sábio e verdadeiro, apenas te abandona, ao ver que você não corre. Ao ver que você não se importa.

Hoje eu quero me deixar levar. Encontrar vários ou apenas um. Encontrar tudo, menos você. Deixar claro que o nó na garganta não é por lágrimas agonizadas de tristeza, mas sim de gritos de alegria não permitidos. Porque eu estou aqui e não mais lá e hoje quero dar motivos para essa cidade continuar tão colorida, cansei de vê-la assim, tão cinza. Preciso por cores, tais quais que haviam quando ainda existia você em mim.

Mesmo que não fosse para machucar, mesmo que os sentimentos tão reais lhe queimassem o coração, você não deveria, você não poderia ter partido assim. Dando motivo da viagem, dizendo que seria muito tempo, dizendo que isso impediria de os planos continuarem bem. E apenas virou as costas e foi, se esquecendo de continuar, se esquecendo de permanecer aqui.

Certamente e inultimente eu admito, não sei saber da solidão, mesmo sabendo que ela saiba muito de mim. Já sei ser muito sozinha, mas não sei mais ser. E posso estar aqui ou em qualquer outro lugar, cansei de estar só. Dói.


Londrina, 10 de julho de 2009. 18:57