sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Sobre a morte e suas conseqüências.

Ela apagou com voracidade seu cigarro no cinzeiro prateado, já engolido por tantos outros cigarros apagados. A chuva caia devagar do outro lado da janela, mas não fazia frio, talvez. Ela não sabia, na realidade, estava no conforto da sua cama fazia muito tempo, para se dar conta ao que acontecia do lado de fora da sua fortaleza inatingível.

Entre um cigarro aceso e outro apagado, ela se lamentava não entender direito a vida. O sentido dela, para ser mais sincera. A vida de tantos vai e vêm, de tantos “não sei o que estou fazendo aqui”. Sobre uma hora estar aqui e outra não mais.

Afinal, o que era não estar mais aqui? Era simplesmente não estar? Era partir para uma melhor e encarar um céu cheio de coisas boas, onde maldade não existe e você consegue, de fato, descansar em paz? E aqueles que ficam na Terra? Encontram conforto? Encontram abraços capazes de expelir – mesmo que aos poucos – a dor amargurada no coração? Será que parar de chorar por alguém que já se foi era sinônimo de esquecimento ou simplesmente de compreensão, o simples fato de “continuar vivendo”.

A chuva não se calava, tão pouco diminuía, machucava ao bater no vidro cansado do quarto da garota. O dia havia se transformado em noite, devido a tantas nuvens negras que cobriam o céu. E mais uma vez a garota esmagou seu cigarro no cinzeiro, talvez com raiva demais, para perceber que havia espalhado cinzas para todo o lado.

“Morrer não dói”, disse inutilmente para si mesma, esperando que isso a reconfortasse de alguma dor. Seus pensamentos estavam absortos na simples pergunta do que é desaparecer da vida. O que isso significava morrer, se era algo doloroso ou simplesmente cair numa escuridão. Num esquecimento da vida.

Quantas coisas deixamos para trás afinal, mesmo enquanto estamos vivos. Esquecemos dos que eram “melhores amigos”, nos tornamos apenas mais um na multidão que segue. Agora para onde segue... Quem sabe, não é mesmo? Melhores amigos se tornam estranhos, afinal, e poucos são os que restam. No final, provavelmente, definhamos de tantas vontades deixadas de lado, por falta de esforço, falta de vontade.

Era um pensamento triste - a garota pensou - ficar imaginando o que é a morte e sobre o que se trata não estar mais em vida. Mas eram apenas pensamentos, que aquele dia cinzento a fazia ter. Pensamentos medíocres – talvez -, mas mesmo assim intrigantes.

Ela então suspirou uma última vez para a chuva e ao fechar as cortinas para aquele dia feio e triste, disse para si mesma: “ao menos ele se foi num dia de sol. Era um bonito dia”.

Curitiba, 1º de outubro de 2010. 15:33