domingo, 13 de dezembro de 2009

Entre o coração e as estrelas.

Tem esse frio, que tem me atormentado tanto. Me fazendo querer ficar embaixo das cobertas e ver um filme qualquer. Aí me lembro que não estou em casa, que as cobertas não são assim quentes e não tenho uma televisão de frente a minha cama, para se gastar um domingo frio de inverno.

Minhas mãos têm ressecado e meu rosto não resiste mais ao frio. Eu tenho congelado e mesmo assim, me fazem caminhar para aquele inferno todas as manhãs. Inferno, diga-se de passagem, que é uma perna de tempo. Uma perda do meu tempo glorioso. Ah, glorioso tempo que eu tenho perdido por aqui.

Ah, não me chame de ingrata, oras! Era meu sonho, era minha vontade maior! Cruzar esse oceano, vir em busca de aventuras, de paisagens que pensei nunca ver! Andar tão longe e tão sozinha, conhecer sobre o mundo... Sobre mim! Arrancar o coração diversas vezes, para tentar manter a saudade sã. E eu queria tanto pegar logo o primeiro avião, chorar horrores na despedida! E não dizer adeus, mas sim um “até logo”.

De ousadia ou talvez burrice, abusei da minha coragem. Fiz as malas e vim! Vim em busca de todo aquele sonho. E vim em busca de dias mais ensolarados, de pessoas especiais. Eu vim buscar uma vida temporária, diferente de toda aquela que procurei viver durante 17 longos anos.

Vim a procura de amor e de olhares curiosos. Vim a procura de fotografias fantásticas, de histórias extraordinárias. Eu vim a procura de mim, que algum dia na minha vida, deixei em qualquer banco de uma praça. Eu cruzei o oceano, com horas de vôo, para encontrar a mim tão longe de casa.

O decepcionante foi chegar aqui, onde tudo é mais bonito e receber uma ligação de casa. Era eu mesma, dizendo que eu estava lá. Que fugir não fora a melhor opção. Que para encontrar a si mesmo, não é necessário fugir pelo mundo, mas sim, fugir na sua própria casa, na sua própria vida. Que quando você pensa que se perdeu, é porque você não se enxergou direito no espelho e não viu sua imagem refletida.

Acontece, que quando está tão longe de casa, enfrentando um frio glacial e uma saudade sufocante, você se põe a pensar e descobre que a perda nunca foi em outro país, em outra casa ou outra vida. Que você é capaz de se perder em si mesmo e não precisa ir muito mais longe do que a padaria na esquina, para se encontrar.

Afinal, a sua sombra te persegue pelo resto da sua vida. Você nunca vai a perder. O sol pode não nascer e a lua estar escondida atrás de nuvens, mas basta acender uma mínima luz e já se pode ver a sombra, grudada a ti. Mas para isso, precisa acender a luz.

Não, não adianta perguntar que luz será essa. De vez em quando é fácil encontrar, outras vezes difícil. Muitas vezes na vida, a tal luz, é apenas um motivo para se seguir em frente e infelizmente, você só descobre essa luz, quando você a perde. Porque é assim. A morte das coisas precisa bater na porta, para você entender o valor daquilo que existiu.

Ousadia ou não, cruzei um oceano e me arrependo honestamente de ter precisado ir tão longe, só para ver o valor das coisas que eu tenho na vida. Das pessoas. Apesar de meu orgulho não deixar admitir, também não é de meu agrado, ter de ter cruzado esse feroz oceano, para descobrir o meu limite, que afinal, chegou ao fim.

E enfim, não há um dia que eu não olhe o céu, a procura de estrelas que me levem pra casa, de qualquer maneira. Onde é sempre quentinho e sempre tenho o que eu preciso pra sobreviver. Mas todas as noites, antes de dormir, suspiro uma saudade diferente. Que só voltando pra casa para se concertar.

É perda, essa saudade. Perda do que deixei para trás e hoje quero voltar correndo. Que os suspiros têm doido e as estrelas já não sabem mais me levar pra casa. E esse inverno rigoroso, tem machucado as minhas mãos, ao ressecá-las. Meu coração tem sentido a ausência de cada um. Silêncio doloroso.

Não há nem sequer uma alma viva que possa salvar. E os chocolates são inúteis, uma vez que eles acabam rápido demais. Eu suspiro vida, uma vida de saudade. Meu coração se lamenta e as estrelas se desculpam. Só guardo essa vontade irracional de fazer as gordas malas e voltar pra casa. Contar que convivi com demônios, mas eles, meus anjos, me salvaram.

O fato é, eu vim em busca de algo maior e descobri que meu maior, esta em casa. Que eu posso percorrer o mundo e conhecer lugares extraordinários. Mas ninguém sobrevive de saudade e não existe lugar como a nossa casa. Das coisas mais marcantes que eu aprendi, é a mesma coisa que esta escrita no titulo de um livro qualquer “tra Il cuore e le estelle”.


Valdagno, 13 de dezembro de 2009. 21:49.

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