terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Eram os mesmos cheiros.

Nem esperou até todos saírem do carro, simplesmente saiu correndo. Não queria paciência numa hora daquelas. Já havia esperado muito tempo! Queria ir depressa, correr como o vento. Queria abrir aquela porta... Queria estar em casa. E correu, ultrapassando todos os degraus que via na sua frente. Foi correndo e deu de cara com aquela porta.

Acho que nem pensou, rodou a chave, encostou a porta e passou correndo. Entrou no quarto, o quarto tão esperado. Estava tudo ali, no mesmo lugar. Nada tinha mudado, talvez algumas coisas mais organizadas, mas ainda era o mesmo quarto. Aquele quarto cheio de coisas, onde sempre conseguia mais espaço. Sempre.

Estava tudo em ordem, finalmente. Nem pensar conseguia. Queria rir, contar, conversar. Queria ter tudo o que não teve nos últimos dias. Fez todos irem, mas também fez todos voltarem mais tarde, só para vê-la. Era saudade, de tudo aquilo. Daquele mundo que ela tinha deixado de lado algum tempo. Era saudade, nossa, que saudade!

Respirava fundo e seus olhos estavam cansados, cansados de sono, de preguiça. Mas não precisava dormir, precisava ver tantas coisas, mas tantas. Precisava daquele ar, daquela confusão. Precisava deles e não queria perder um segundo, não! Não podia!
Contemplou a vida, que de novo, manifestava em seu corpo. Contemplou a saudade, indo embora, toda atrapalhada, ao ver os sorrisos, com todos eles. Era um alivio inexplicável, era a melhor coisa, depois que veio a pior. O melhor tempo, depois daqueles meses, foi estar ali, com eles. Sentir aquela bagunça, aquele lugar apertado. Aquela vontade de rir.

Mas foi abrindo a janela, quando já era de noite, e contemplando aquela mesma visão que tinha visto a sua vida inteira, que ocorreu o seguinte pensamento: “nossa, eu estou em casa." Falou olhando para dentro do quarto, onde ao seu lado, estava um garoto que a admirava – ou apenas a olhava. Mas olhava com um sorriso gentil, carinhoso. “É sim, está em casa”, fazendo com que ela pulasse em seus braços, o derrubando na cama.

É, ela finalmente estava em casa.


Curitiba, 19 de janeiro de 2010. 23:24

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Vira o ano vai, tem problema não.

Mudou o tema – ou talvez apenas alterado alguns detalhes. Deixei os desejos de lado, porque eles não se realizam como pensamos. Joguei pro lado as esperanças e agora, o que me encontrar simplesmente me encontrou. Os dias mesclam entre rápido e devagar, mas eu sei muito bem que daqui a pouco, o ano vai acabar de novo. De novo, cansamos dos mesmos dias repetidos, das mesmas histórias doloridas.

E o colorido, cadê?! Ichi, esse eu deixei em casa! Não trouxe para cá não, porque trazer daria perigo pra se tornar preto e branco. Resisti até as doenças de saudades! Onde o pensamento fica fraco e a gente só quer dormir, onde qualquer gripe vira coisa forte. Porque quando se tem saudade, você vira fraco. Dolorido. Você vira cansado da vida.

Mas os meses não cansaram de passar e foram escorrendo igual a leite derramado. Assim como as horas gostavam de passar devagar, só para desfilar no relógio. Desfilar agonia de estar tão longe de casa. Mas o ano não cansou e foi andando, foi andando. Quando menos eu esperava, o fim gostava de vir se apresentar, só para dizer que estava chegando.

Vinha com um deslumbre só! Trouxe neve, sorriso e novidades. O fim trouxe até mais saudade, porém dessa vez, seria saudade das pequenas coisas que eu vou deixar aqui. O fim trouxe sorriso, sinceridade. O fim conseguiu até mesmo, trazer alguma tranqüilidade. Ah, tranqüilidade gostosa dos dias. Últimos dias de um ano complicado.

Chegou colorindo, no preto e no branco, alguma cor – mesmo que discreta. Trouxe um pouco de calor pro coração gelado e até mesmo esperança, pra desesperada. O ano nasceu sorrindo pra mim, no meio do frio. Trouxe surpresas, não do mundo, mas de mim mesma. O ano nasceu manhoso.

Pela primeira vez, quis ver o sol do verão nascendo. Um calor de colocar um vestido e ir caminhar, sem hora pra voltar. Olhar pro céu azul e sentir o bom e velho calor brasileiro, fazendo eu me sentir em casa. Ah, esse ar frio europeu cansa, mas cansa! Não sabe como cansa. E a neve é linda, deixando tudo branco, as placas nas ruas parecerem pequenas. Mas a neve escorrega e é difícil andar nela, quando ninguém esta por perto pra te segurar.

A gente corre pra se esconder, mas quando se esconde, pergunta por que se escondeu. Porque se esconder da vida, não vale a pena. Tem mais é que abraçá-la, vive-la. E afinal, nenhuma lágrima é assim inútil, que por cada lágrima que derrubamos algo de bom nos espera. É simples, é a física da vida, sem cálculos e derivados.

Desmancha meu sorriso, vai. Pode desmanchar, eu não me importo! O ano veio sorrindo pra mim, porque eu quis ver o sorriso vindo dele! Então desmancha, faz chorar. Mas algo maior, sempre nos espera. Outros sonhos virão, outras realizações virão. A vida continua!


Valdagno, 5 de janeiro de 2010. 20:52