Antes mesmo da porta fechar com um baque, ela já havia
jogado seu casaco e sua bolsa no sofá da sala, andou até o quarto e se jogou na
cama. Era a bebida. Não se lembrava do que, nem de o porquê e nem como, mas ela
havia chegado em casa com um enorme peso no coração. Algo tão pesado e
consumidor, que nem conseguia respirar normalmente. A luz, a televisão, a
cortina e o quadro giravam eternamente, como se estivessem numa roleta russa.
Ou ela estaria numa roleta russa? Dormiu.
A ressaca a acordou com língua seca às 8 horas da
manhã. Depois de tomar um enorme copo de água, ela sentou no sofá e reparou que
além da dor de cabeça, algo ainda pesava em seu coração. Era como se fosse ânsia,
mas talvez isso fosse consequência das várias bebidas ingeridas na noite
anterior, mas também poderia ser solidão. Esse peso era como uma pontada. Algo
angustiante, entalado, preso. Seus olhos se fechavam e logo em seguida abriam,
agora era a sala que parecia girar.
Lentamente se levantou do sofá e seguiu para a varanda,
sentou-se na cadeira, acendeu um cigarro e enquanto as cinzas caiam no chão,
ela fechava os olhos e deixava o sol esquentar seu corpo frio pelo vento do
inverno. Deixou escorregar o tempo, pensamentos, vontades. Ainda sentia seu
peito pesar, era uma sensação horrível. Tão horrível que nem se acomodava na
cadeira, assim como não se acomodou no sofá e muito menos na cama.
Na cama, porém, enquanto encarava o teto branco
procurando algo escrito nele, dando o motivo de tal peso do peito, ao girar um
pouco a cabeça para a direita, encontrou marcas de algo que acontecera ali.
Ralas marcas de dedos, feito com batom vermelho, coloriam a cabeceira da cama.
Sentiu então o corpo sucumbir dez metros para baixo, seu coração pesou tanto,
que levou até a sua alma. O que precisava ser entendido, enfim foi e o coração
pesado, era a saudade apertada dele.
Pegou o telefone, discou sem nem pensar os números.
Tocou, tocou. Nada. Tentou de novo. Tocou, tocou, tocou. Secretária eletrônica.
Desistiu. Voltou a deitar as costas na cama –
porque liguei, ele está viajando. Volta só daqui quatro dias. Virou para o
lado, olhou a foto dele e dela, sentados numa praia e sorrindo. Ela sorriu pra
foto. Respirou. Tentou de novo o telefone. Secretária eletrônica. – Alô, meu bem, meu coração pesou hoje. No
começo não percebi, mas agora... Volta logo, por favor? Cansei de pesar
sozinha.
Santiago, 12 de julho de 2012. 23:16