Eu gostaria que você tivesse feito planos comigo, tivesse
vontade de sermos mais um daqueles casais que tem histórias deliciosas pra
contar aos filhos e aos amigos, ao longo da vida. Gostaria de ter arrasado seu coração,
de ter te feito ficar com um simples “fique”. Poderíamos ter nos mudado para
qualquer lugar do mundo, mas sempre saberíamos a delicia de estar perto de casa e valorizaríamos isso. Teríamos sido mais, se nos fosse permitido
mais tempo, mais amor, mais vontade.
Seríamos peças raras, como na realidade, já éramos quando o tempo ainda
era nosso.
Hoje, o café eu ainda coo, o bolo volte e meia eu faço, sempre
de chocolate, claro. Sem você as coisas... As coisas vão, sabe como? Tem piadas
que não tem mais tanta graça, mas eu rio mesmo assim, pois sei que rir cura
qualquer coisa. Mas parei de tentar fazer o franguinho que você fazia. Na
realidade, carne, saiu da minha dieta. Experimentei muitas cervejas, algumas
vezes dividi garrafas, mas quase sempre fui só. Não saberia dividir cerveja tão
bem como dividia contigo. De noite me faltam braços que me abraçam e costas pra
me encaixar. Dia desses, ri ao lembrar dos roncos seus. Acordei magoada com a
sua partida, às vezes eu ainda sinto.
Comecei a escutar Novos Baianos e Tim Maia, acredita nisso? Atualmente, a Itaipava quase não
bebo, acabo sempre pedindo uma Original. Também nunca mais saí da garagem
sozinha, ainda tenho medo daquela rampa. Acho que me falta você pra me
tranquilizar no trânsito. A série 24 Horas, esta esquecida na prateleira mais
alta do armário, ela eu só assisto junto de ti, nem sozinha. Agora à praia, eu
nunca mais fui. Me lembraria demais de nós e ainda não saberia lidar. Mas sinto
falta da areia e do mar. Sinto falta da casa de praia, da bagunça gostosa, dos
filmes noturnos. Ontem inclusive, passei
na frente do seu antigo prédio. Vontade de entrar e lembrar dos bons momentos.
Tento entender que tipo de amor era o nosso. Antes, quando
te vi fechar a porta, acreditei que não era amor, que não éramos mais. Hoje, no
entanto, já penso o contrário. Acho que éramos tanto, que quando deixamos de
ser um pouco, não aguentamos. Precisávamos ser apaixonados, loucamente
inundados pelo amor e não podíamos mais ser isso. Mas nunca deixou de ser,
nunca deixaremos. Fomos bonitos da maneira como conseguíamos ser. Nos
encaixamos em todas as oportunidades. Deixamos sim o barco, mas hoje acredito
que foi para nos salvar. Estávamos nos destruindo. Mas era o nosso amor, era
bonito e feio, assim como todos os outros. Resistimos até a última gota do para
sempre.
Seguimos em frente então. Será bonita a nossa vida e nossos
encontros e desencontros. Saibamos esquecer o passado e recomeçar do zero,
qualquer que seja o nosso destino a partir daqui. Tudo nos é permitido agora,
podemos qualquer coisa. Só não podemos nos dar as mãos. A sua falta, eu sinto
diariamente, mas tudo bem. Está tudo bem agora, não fere mais tanto assim.
Às vezes amor, é só amor.
Curitiba, 26 de fevereiro de 2014. 13:13