sábado, 11 de agosto de 2012

Das coisas que vivi.



 Ah, que besteira infantil. Vejo fotos que sempre vi, mas dessa vez olhei com outros olhos. O coração apertou tão forte, que por pouco não escorrem lágrimas grossas. Dizem que isso é saudade. Agora do que exatamente, já faz mais de dois anos que estou para descobrir. Mas acho que é isso, o tempo vai passando e a nossa vida vai se desgastando e começamos aos poucos, a pensar nas oportunidades que tivemos, nos momentos que vivemos e até mesmo, das coisas que deram erradas, mas foram coisas que podem ser que nunca mais aconteçam.

Voltei pra minha casa morrendo de medo, uns anos atrás. Tremia de vontade de estar logo nos braços de quem me ama, ignorei todos os sinais de que eu precisava aguentar um pouco mais, para ter mais histórias para contar. Larguei tudo o que eu tinha e quase voltei só com as roupas do corpo. Suava de vontade de simplesmente chegar. Até que de repente, cheguei. Cheguei pro mundo que eu conhecia. Depois de um tempo, só depois de um tempo, descobri que deveria ter aproveitado mais, pois era uma chance e uma experiência única. Coisa de nunca mais.

Mas até que penso que ao menos, estive do outro lado do oceano por um tempo. Enfim, mesmo já passando muito tempo, lembro dessa história com um certo gostinho de quero mais e até mesmo de tristeza. Pois sinto falta. Sinto muita falta. Cadê aqueles momentos engraçados e tristes, aquela solidão ardida? Os cafés de final de tarde e os chocolates de todo dia? A preguiça matinal e o ódio das aulas aos sábados? Cadê as folhas secas caindo no outono? 

Poxa saudade, você me pega de jeito às vezes, sabe. Você realmente me derruba de uma maneira surpreendente. E você dança de salto agulha em cima de mim, mesmo depois de muito tempo. Até mesmo quando não faz mais sentido você dançar. Mas você dança toda graciosa, exibindo todo o seu poder sobre mim. Afinal, você sempre vem. Até mesmo quando me lembro dos bons momentos, você simplesmente vem, pois você precisa aparecer, se mostrar e me fazer arder em chamas de saudades, dessas pequenas coisas deliciosas que eu vivi e que infelizmente, não voltam nunca mais.


São Paulo, 11 de agosto de 2012. 01:01

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Meus passos errantes.


Aí então, comecei a chorar sozinha e nem sei o porque. Eu odiava chorar sozinha, meu coração apertava tanto que ardia e eu precisava sempre só de um colo. Hoje ninguém mais me vê chorando. Assim como ninguém mais me vê vacilando, mesmo quando vejo que as coisas andam como um vidro estilhaçado no chão. O que eu me tornei? Como se o espelho pudesse responder.

Me distancio tão fácil quanto me aproximo e me esqueço sutilmente dos erros que aprontei. Guardo amargamente lembranças que somando umas às outras, fizeram-me ser assim, tão inconsequente nas palavras, tão fria nas atitudes... Tão errada nas decisões. 

Descarrego tudo que sinto em brigas, berros, e guardo minha dor assim, no peito que arde cada vez mais. Arde por medo de perder, de não ter. Por medo de parar de ser ou de viver tudo o que eu tenho sido e vivido. E escorreguei em sangue, formei cicatrizes. Criei buracos eternos dentro de mim mesma, sem ninguém podendo jogar terra pra tapar. 

Me calo. Sou tão amarga quanto um velho senhor que já perdeu tudo o que mais amou. Sou cheia de arranhões, batidas, calos e machucados. Sou cheia do que arde, sangra. Sou azeda com lembranças dolorosas. E resgato tudo isso sem nem perceber. Resgato cada centímetro de dor do meu passado e coloco no que hoje eu sou. Eu traio a mim mesma, deixando de lado tudo o que eu queria ser, tudo o que eu sonhava.

Larguei vozes dentro de mim, consolei a mim mesma quando não tive. Mas também não quis tantas coisas, deixei de acreditar em vãos, em vácuos, em finais felizes. Ignorei mares e tempestades e fiz meus próprios furacões e enchentes. 

E sempre, quando a madrugada surge, minhas lágrimas também saem. Mas me ver chorar, ninguém mais viu.


Curitiba, 1º de agosto de 2012. 3:46