Seu cabelo cresceu e pelo jeito, sua barba continua falhada.
Fiquei me perguntando, enquanto via sua foto, se ela vai continuar falhada pra
sempre. Seus olhos estavam sorrindo, sempre gostei disso em ti: seus olhos. Me deu uma paz gostosa aqui dentro, saber que você anda exalando
tranquilidade como sempre. O coração apertou um pouco, chorei escondida pra
ninguém ver. Sua falta me pertence todos os dias, me desculpa.
Você parece bem. Parece sorrir sempre que pode. Gostaria de
poder continuar participando do seu dia-a-dia, continuar sorrindo olhando pra
você. Hoje eu entendo – quase – o que você quis dizer com o “será melhor pra
nós”. Te acho meio egoísta ainda, mas sinceramente, você sempre foi. Sempre
partiu, sempre vinha, sempre sorria, sempre amava quando lhe convinha. Mas eu
não ligo. Certo era você que soube viver sem meus lábios nas tuas costas, sem
minhas mãos nos teus braços.
Sorri. Lembrei do dia que fomos tomar sorvete pela primeira
vez, da nossa primeira ida à praia. Lembrei da primeira vez que fizemos amor.
Sorri gostoso, igual quando você me fazia feliz. Era fácil sorrir com você. Você
sempre foi o oposto de mim; leve, bem humorado, doce. Desculpa não ser a pessoa certa pra ti, não cumpri com o que
prometi: te fazer feliz. Eu te joguei ácido, te apunhalei, te fiz chorar e
sangrar. Te machuquei com palavras e ações. Você sempre mereceu mais.
Continuei olhando sua foto, procurando qualquer quê de
saudade minha nela. Não encontrei. Assim como não encontro em nada que exista
na sua vida depois de mim. Não há músicas, frases, momentos. Virei lembrança –
bonita ou não – do seu passado.
Sorri de novo e me lembrei da primeira vez que fui te buscar
no metrô aqui em São Paulo. Mal sabíamos direito a aventura que seguiríamos a
partir dali. Tantos vai e vem, tantas pessoas e coisas. Tanta dor e alegria.
Hoje eu vou embora daqui, meu bem. Acho que você tinha razão, eu deveria ter
continuado a viver, como você fez. Mas meu coração não pertence a esta cidade,
nunca pertenceu. Minha alegria era estar aqui contigo, mas agora que você não
existe mais comigo, deixo-me voltar pra casa. Te deixo esta cidade cinza. Não, não me entenda mal, é que acho que assim você vai parar de doer em
mim.
Seus olhos brilham de felicidade e ao te ver petrificado na
foto, meus olhos brilham de vazio. Gostaria de estar compartilhando a cerveja
junto de ti, na casa de praia que tanto sinto falta, na vidinha gostosa que dá saudade. Mas não se incomode, muita coisa em mim mudou. Conheci lugares, pessoas e um ou outro coração. Só que acho que
ainda estou fazendo a mudança do seu e limpando o meu, sabe. Retirando nossas
coisas, pintando as paredes, te deixando no passado. Ainda estou neste
processo.
Fiz café, para um. Tomei na xícara que você me deu. Olhei
ela, lembrei de como já fomos felizes um dia. A felicidade nos transbordava,
era tanto amor, tanto nós. Formamos um belo casal, parecidos na medida certa.
Ainda tento não lembrar dos domingos que enfeitamos, da vida que levamos. Tento
não lembrar das marcas que deixou na minha parede, depois daquele almoço.
Se soubesse que estávamos tão próximos do fim, teria de abraçado mais forte.
Ainda tento não ver mais as marcas que deixou em mim.
Mas sorri ao te ver sorrir.
São Paulo, 13 de janeiro de 2014. 19:34