terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Partisse.



Tu, meu amor, não deverias ter partido tão já. Faltou tempo para te mostrar algumas coisas, te mostrar algumas caminhadas que terias gostado de fazer, me faltou tempo para te contar umas piadas bestas e alguns segredos que gostaria de ter compartilhado. Faltou aquele sorvete que não tomamos e alguns capítulos para terminar o seriado. Faltou tempo pra preencher o buraco, que agora vira poço quando chove, de tempo ou de tristeza.

Sei que teu coração não tem lugar pro meu sorriso e sei que tens outros braços pra te envolver. Tua sede é minha sina, tu sempre a mata em mim. Mas tens promessas a serem cumpridas e não são a mim. Te peço tempo, mas não tens tempo para meus olhos que te procuram. Tu se despede do que tivemos, insiste em não ficar. Tu partes de mim e a mim, me deixas ecoando lembranças.

Permitas me dizer que tu preenchesse o coração, enchesse de ilusão. Eu pedi socorro e tu ajudasse, mas depois partisse e eu aqui restei.


São Paulo 21 de janeiro de 2014. 18:37

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Sobre seus cabelos crescidos.



Seu cabelo cresceu e pelo jeito, sua barba continua falhada. Fiquei me perguntando, enquanto via sua foto, se ela vai continuar falhada pra sempre. Seus olhos estavam sorrindo, sempre gostei disso em ti: seus olhos. Me deu uma paz gostosa aqui dentro, saber que você anda exalando tranquilidade como sempre. O coração apertou um pouco, chorei escondida pra ninguém ver. Sua falta me pertence todos os dias, me desculpa.

Você parece bem. Parece sorrir sempre que pode. Gostaria de poder continuar participando do seu dia-a-dia, continuar sorrindo olhando pra você. Hoje eu entendo – quase – o que você quis dizer com o “será melhor pra nós”. Te acho meio egoísta ainda, mas sinceramente, você sempre foi. Sempre partiu, sempre vinha, sempre sorria, sempre amava quando lhe convinha. Mas eu não ligo. Certo era você que soube viver sem meus lábios nas tuas costas, sem minhas mãos nos teus braços.

Sorri. Lembrei do dia que fomos tomar sorvete pela primeira vez, da nossa primeira ida à praia. Lembrei da primeira vez que fizemos amor. Sorri gostoso, igual quando você me fazia feliz. Era fácil sorrir com você. Você sempre foi o oposto de mim; leve, bem humorado, doce. Desculpa não ser a pessoa certa pra ti, não cumpri com o que prometi: te fazer feliz. Eu te joguei ácido, te apunhalei, te fiz chorar e sangrar. Te machuquei com palavras e ações. Você sempre mereceu mais.

Continuei olhando sua foto, procurando qualquer quê de saudade minha nela. Não encontrei. Assim como não encontro em nada que exista na sua vida depois de mim. Não há músicas, frases, momentos. Virei lembrança – bonita ou não – do seu passado.

Sorri de novo e me lembrei da primeira vez que fui te buscar no metrô aqui em São Paulo. Mal sabíamos direito a aventura que seguiríamos a partir dali. Tantos vai e vem, tantas pessoas e coisas. Tanta dor e alegria. Hoje eu vou embora daqui, meu bem. Acho que você tinha razão, eu deveria ter continuado a viver, como você fez. Mas meu coração não pertence a esta cidade, nunca pertenceu. Minha alegria era estar aqui contigo, mas agora que você não existe mais comigo, deixo-me voltar pra casa. Te deixo esta cidade cinza. Não, não me entenda mal, é que acho que assim você vai parar de doer em mim.

Seus olhos brilham de felicidade e ao te ver petrificado na foto, meus olhos brilham de vazio. Gostaria de estar compartilhando a cerveja junto de ti, na casa de praia que tanto sinto falta, na vidinha gostosa que dá saudade. Mas não se incomode, muita coisa em mim mudou. Conheci lugares, pessoas e um ou outro coração. Só que acho que ainda estou fazendo a mudança do seu e limpando o meu, sabe. Retirando nossas coisas, pintando as paredes, te deixando no passado. Ainda estou neste processo.

Fiz café, para um. Tomei na xícara que você me deu. Olhei ela, lembrei de como já fomos felizes um dia. A felicidade nos transbordava, era tanto amor, tanto nós. Formamos um belo casal, parecidos na medida certa. Ainda tento não lembrar dos domingos que enfeitamos, da vida que levamos. Tento não lembrar das marcas que deixou na minha parede, depois daquele almoço. 

Se soubesse que estávamos tão próximos do fim, teria de abraçado mais forte. 

Ainda tento não ver mais as marcas que deixou em mim.

Mas sorri ao te ver sorrir.


São Paulo, 13 de janeiro de 2014. 19:34