quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Não há mais nada na parede, amor.

Entrou na casa, acendeu e luz e admirou o interior. Foi em direção a parede da frente e com a maior raiva do mundo rasgou aquelas fotos, rasgou tudo. Deixou tudo em pedaços. Quando terminou, encarou a parede aos pedaços e a sujeira ao redor.

-Amanhã eu arrumo... Talvez.

Foi até a cozinha, preparou qualquer drink extremamente forte. Na sala, colocou qualquer vinil que encontrou, qualquer coisa hipnotizante, como Pink Floyd.
- Ainda bem que um dia minha mãe me presenteou com essa vitrola.

Se jogou no sofá de frente a parede toda rasgada. Não se via nem se quer mais nenhuma foto inteira. Ela não entendia porque tinha feito aquilo, mas fez. Era ótimo ver tudo aquilo rasgado, ver tudo aquilo no chão. Na parede até conseguia ver aquele papel de parede horrível, com dizeres terríveis, de quando haviam comprado o apartamento.

Ela estava amarga. Amarga como a vida havia lhe deixado. Era amarga, azeda. Era um remédio impossível de se tomar. A vida colocou tanto contras na sua vida, que ela nunca mais lembrou que existem os a favores também. Não existia. Era tudo destruição, era tudo movimento contrário que andava contra a maré. O amor não existia. Afinal, quem era esse tal de Amor?

Era enjoativo olhar para a parede desgastada, tanto que, depois de vinte minutos contemplando seu trabalho, ela virou o sofá para a porta. Se deitou novamente e começou a encarar o teto, que aos poucos virava uma escuridão impossível.

- A noite tá chegando... – encarando por alguns minutos a janela.

O teto era incrível de se admirar. Fazia sua cabeça pensar em mil coisas. Mas qualquer pequena coisa, a levava para o tal do Amor. Ela queria o conhecer, porque ela sempre só conhecia os falsos. As fantasias, ela já estava cansada de conhecer. Ela queria conhecer o verdadeiro, era a única coisa que pedia. Esse tal de amor, era tão inebriante assim? Era encantador ou era dor imensa? Era possível amar?

Algo a fez se desconcentrar. Uma porta, uma luz acesa. Ah, era o amor que ela conhecia.

- Porque rasgou tudo?
- Quis te esquecer por hoje, amor.

Encarou de novo o teto e disse pra si mesma “ah, é por isso que não conheço”.

Valdagno, 25 de novembro de 2009. 16:35

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Sobre o que te faz viver.

Sugeriu chorar, para lavar a alma que andava suja, tão suja, tão suja. Pesada de nada ou talvez de tudo. Pesada de rumores, de sentimentos. Pesada de normalidade, de saudade. Pesada de dor e risadas. A alma andava dura, de medo. De indecisão.

Ah, coração que não tinha aprendido a ser frio. Coração mole, como uma geléia. Chorava por pouco e se feria facilmente. Era tão difícil respirar! Respira, respira. Mas não entrava o ar. O coração entrava em sintonia com a alma e os dois choravam. Choravam saudade, dor e preguiça. Preguiça de continuar.

Um passo a mais, era sempre assim. Um dia a mais, uma caminhada a mais. Uma caminhada lenta, preguiçosa, dolorosa. Uma vontade desgastada. E de manhã se perguntava com raiva, para o sol, de o porquê de estar tão longe e de noite, se lamentava em silêncio para a lua.

Chorava escondido, pra ninguém ver. Mas os olhos inchados e a noite mal dormida, sempre denunciavam os cortes. Ela havia se acostumado a rasgar o papel, com o grafite do lápis, com voracidade. Porque depois de um tempo, a pele já era cansada das feridas. Era o único jeito de se salvar.

Suas palavras eram fortes, pesantes. Eram dramáticas, assim como a sua visão de ver o mundo. Suas palavras cortavam, a quem eram referidas. Eram dores escritas, era sangue em grafite. Suas palavras eram seus salva-vidas. Era o que ainda a fazia viver.


Valdagno, 20 de novembro de 2009. 22:43

domingo, 15 de novembro de 2009

Deixa, vai. Deixa.

Deixa eu sentar aqui, que hoje eu quero conversar. Deixa eu olhar seus olhos, assim, penetrá-los. Deixar eu respirar o mesmo ar que você. Deixa eu fazer a saudade morrer, deixa? Deixa eu te contar devagarzinho, te abraçar por trás. Deixa eu te fazer sorrir, só deixa, tá?

Nunca soube se essa distância era boa ou má, eu realmente nunca quis saber, provavelmente. Mas cansei de chorar, de raiva, parei de tentar derramar lágrimas no meu travesseiro e segui em frente, mas sabe, doeu pra seguir. Ainda dói e de vez em quando a raiva é tão grande, mas tão grande, que eu só quero fazer as minhas malas e sumir. Me apagar na vida – no mínimo daqui.

Tenho certeza que não tenho mais tempo, porque ele já é tão farto que não posso querer mais. E quando não sei que coisa pensar, eu simplesmente não penso, porque já cansei de pensar. Mas se me dessem mais tempo, ligaria pra ti, uma noite qualquer, e te perguntaria como anda a vida, te escutaria com mil desabafos e talvez, até mesmo, te ajudaria de qualquer maneira. Antes de desligar o telefone, eu apenas perguntaria “você ainda pensa em mim?” e sendo sim ou não a resposta, eu desligaria.

Desligaria por medo de dizer qualquer coisa. Medo estúpido, eu sei. Mas o teria. Acho que tenho medo de ouvir um sim e depois ter de esperar alguns meses pra te ver e teria medo de ouvir um não e depois me afogar em tudo. Teria medo da resposta, qualquer que fosse e por esse medo, deixaria de escutar.

Sinto saudade da sua voz, da sua risada. Esses dias me peguei olhando o nada e veio você na cabeça, vi você, como num filme. Quis chorar, espernear. Aí pensei que não preciso de você para respirar, nunca precisei. Agora, que eu me ponho do outro lado do oceano, eu sinto que aprendi a gostar de você. Porque não te preciso mais.

Justamente. Como não te preciso mais é quando mais eu te quero. Porque não te quero por necessidade, te quero por conforto, por vontade. E talvez eu precise te dizer mil vezes, mas eu sei que você gosta de mim e sempre soube que você não me quis ver partir pra tão longe. Então pare de enganar tudo, de enganar a gente.

Hein, já que eu estou aqui, do seu lado, te falando um monte, porque você não pega a minha mão e diz que estamos juntos? Sinto saudade disso, de não precisar me enganar com mil acasos diversos, só para fingir que te esqueci. Me faz sorrir, faz. Esquenta minha mão, esquenta.

Deixa te contar além da carta que te mandei, te fazer pensar. Pensar que eu te espero, porque eu te quero. Fazer você pensar que quando meu avião pousar, é e sempre foi você, que eu quis ver me esperando só pra me abraçar. É que eu estou voltando pra casa mais cedo e achei que você poderia parar de ter medo do que ainda vai vir. O mundo não é previsível e nós dois muito menos, mas o mundo se ajeita, se quisermos.

A gente vive com saudade, sabe? Não é difícil assim não. Se acostuma, se torna normal. Começa a fazer parte de você e mesmo de vez em quando doendo, você deixa doer, deixa arder. O tempo voa e logo estou na minha casa de novo.

Mas faz assim, segura a minha mão, tá? Não se esquece de segurar. Eu preciso saber que você tem saudade. Me conte histórias, me conte qualquer coisa. Me olhe nos olhos e brigue comigo por eu ter ido embora. Mas quando eu voltar fica comigo, fica. Não vai demorar muito, eu tô voltando pra casa, amor.


Valdagno, 15 de novembro de 2009. 22:00

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Senta aqui, quero desabafar.

Descobri, nesses anseios detestáveis, algum fôlego quase sustentável. E nem chorei mais, ao me lembrar da saudade que me enche o peito. Nem reclamei mais também, nem feri idéias que são incógnitas. Nunca mais senti o peito ardendo e gritando. Nunca.

Veio uma vontade de jogar tudo de saudade fora. Me esquecer nos dias tão tortuosos, me reerguer afinal. Das cinzas virar algo, alguém. Jamais virar o leme tão cedo, porque ainda tempos muito tempo, mas o tempo é curto e ele voa. Voa mesmo!

Aí, veio a solidão dos dias, a dor do nada, só do vazio, que rompe qualquer paz. Veio o desespero e a raiva. Mas o sentimento foi fugaz e se partiu. Onde nada nem mais importou, só o desejo de manter o controle por mais um tempo. Passa tão rápido, não é?

E quando me dei conta, percebi que tudo não passaria de solidão. Mas a solidão de realmente só, de tudo se encher, nem só de ar, mas de vácuo. Mas é esse o motivo, provavelmente. Ser sozinho.

Minha cabeça batucou, ao me fazer pensar no porque de ser sozinho. Aprender a ser quieto e indiferente? Quase odiar alguma convivência? Mas depois, já pensei que você só da valor, quando não tem mais. Aí não tive, aí respirei. Tô dando valor, diria meu pai seriamente.

No vai e vem dos pensamentos, me deprimi esse tanto. Tanto cansado de tantas comédias mal realizadas. Aí, perdeu a graça pensar e sentir. Deixei saudade bater, bem forte. Mas só deixei, pois não quis sentir.

Ando contra a maré, nesse meu eu solitário. E respiro bobagens alheias, só pra ficar tudo bem. De fato, sempre – ou quase sempre – está. Respira, respira. Daí vem a paciência, atrasada. Por último vem a vontade, brigando com a saudade.

Demorei, mas vi os milhares de acasos, casos. Já nem sei como chamar. Mas eu vi. Casos ou acasos só me desprenderam de lá, sabe? Do lugar do outro lugar do oceano.
Ah, só quero crescer um tanto mais. Quero ser tão séria, a ponto de quando rir, rir gostoso e deixar todos curiosos sobre o que tanto me faz rir.

Então não larga a minha mão e deixa eu contar de quando me apaixonei por aqui. Foi exatamente quando eu sorri, sem me importar com a solidão que me alcançava ou com a saudade que nem mais me largava.

Espera, que agora começou a tocar uma música que me faz lembrar de quando pequena. Quando eu, meu pai, minha mãe e minha irmã íamos na casa de um casal amigo dos meus pais. Já faz um 13 anos, talvez. É, o tempo corre e já nem podemos fazer nada.

A chuva cessou um pouco, acho que vou me apaixonar de novo pela vista. Sabe, só para no ar minha mente concretizar, de repente, uma possível estada mais longa por aqui. Ah, se alguém me escutasse agora. Pensando bem, vou lá tomar um café e não sentir o tempo passar. Só pra saudade não vir.


Herbeumont, 5 de novembro de 2009. 12:13