quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Planos.

O garoto sorria e ria, enquanto contava tudo o que queria viver. Fazia planos e implorava, como se alguém que estivesse perto realizasse desejos, que tudo desse certo. A garota sorria, acenava, aceitava junto dele. Acreditava em todo o potencial pra vida do garoto dar certo daquele jeito. Apoiava totalmente, esses planos que o deixariam longe dela.

A garota ria junto, com planos bobos, com pensamentos bobos. Conversas que antes pareciam não ter sentido, pois tudo estava muito, muito longe. O longe, agora estava perto, muito perto. E agora o coração da garota se dilacerava, se contorcia. Ela sentava no escuro e ali ficava parada, olhando o nada, esperando soluções que não viriam.

Ele ir, ela ficar. Ela ir, ele ficar. Os dois irem. Não importa o que fosse acontecer, a garota aos poucos se preocupava. As danças animadas, que a faziam colocar a saia mais rodada, a roupa mais colorida, davam lugar para pequenos medos. Sem perceber, ela apenas se assustava com o que estava para vir ou não vir. Fala francês, fala italiano, fala qualquer coisa, pensava a garota. Mas fala que é pra ficar junto, que é pra ficar bem.

Dos pensamentos do garoto, a garota pouco sabia. Mas imaginava que aqueles minutos de silêncio, que silenciavam o quarto inteiro, às vezes queriam dizer bem mais do que o possível. E talvez, antes de dormir, ele também sentasse no escuro, olhasse o nada e assim como ela, ele pensasse: “eu ir, ela ficar. Ela ir, eu ficar. Os dois irem”.


Curitiba, 20 de outubro de 2010. 02:17