quinta-feira, 25 de março de 2010

No cor-de-rosa.

Ela deitou sua cabeça no travesseiro e sentiu aquele cheirinho. Aquele perfume encantador que ao mesmo tempo fascinava e confundia. Era estranho sentir aquele cheiro e sentir penetrar em sua mente mil tipos diferentes de pensamentos, mais estranho ainda era que todos eles eram bons.

O mundo estava se colorindo aos poucos e o preto no branco, tão clichê em sua vida, estava se tornando um pouco esquecido. Começou a ficar horas a fio, não mais pensando sobre o que fazer, mas sim, sobre o que viver, aonde ir, o que falar. Se desgastou no encanto e deixava se desgastar ainda mais.

Estava se renovando. Renovando pequenos detalhes, que havia esquecido que eram necessários. Passou a fazer de cada beijo e abraço, uma urgência. Deixou fazer da vontade de ver, uma ansiedade para o tempo passar rápido, mas também, para fazê-lo andar de vagar, para poder se deliciar no desejo de querer um novo encontro.

Se o relógio girava ou não, pouco importava. Se contentava em admirar as estrelas e esperar o celular tocar, numa espera de sorrisos discretos e talvez fizesse o olhar brilhar um pouco mais ou simplesmente, torná-lo mais hipnotizante.

Hipnotizante, no entanto, era aquele cheirinho. Aquele perfume encantador, que lhe trazia algo bom. Algo vivo. Algum suspiro gelado, refrescando a sua vida. Dando vida novamente a um coração quebrado tantas vezes.


Curitiba, 25 de março de 2010. 18:36

segunda-feira, 22 de março de 2010

O pouco que nos sobra.

Talvez fosse para restar pouco tempo mesmo, tão pouco que não tivéssemos tempo de sorrir uma última vez. Ou talvez houvéssemos tempo, mas não olhamos para trás, pois temos esses costumes de achar que olhar para trás é perda de tempo. Mas quem sabe não seja, não quando se é para dar um último sorriso. Mandar um último beijo.

Acho que o tempo voa demais e o deixamos escorrer por nossas mãos, como areia quando a pegamos em dias de vento. E o tempo não pode ser o nosso amigo, caso fosse não teria graça, não veríamos graça.

O tempo é para se esquecer e não para ser contado no relógio e nem no calendário. O tempo foi feito para ir embora, rápido ou devagar, porém para fugir de nós. Para deixar o último dia acontecer, para despedidas chegarem com datas não marcadas. Para até mesmo nos arrependermos de não termos dado um último abraço, dado um último beijo.

Nos despedimos das vidas que já foram e das saudades que chegaram, culpamos o tempo por não termos tido tempo de ter dado um último adeus. Ter escutado o último suspiro. Culpamos o tempo por não ter esperado um pouco mais, para termos segurado a mão e falado um último “eu te amo”.

O tempo nos rouba horas, segundos. Nos rouba vida. Nos deixa admirar o horizonte, como se algo pudesse aparecer, como se desse para trazer momentos passados ou simplesmente nos trazer mais tempo. Mais tempo para o horizonte que teremos a seguir.

Afinal, não é esse o conselho sempre tão bem dado? Deixar os olhos no horizonte. Então me deixe admirá-lo e deixe acreditar que trará mais tempo. Mais tempo para amar, me despedir... Mais tempo para viver.


Curitiba, 22 de março de 2010. 22:25

sábado, 20 de março de 2010

Pequeno impróprio.

Mas talvez o que fosse extremamente difícil era a maneira como ela se esquecia. Se esquecia nos olhos dele, na sua voz e nos seus abraços. Ela conseguia se esquecer até mesmo no seu esquecimento. Por mais que tentasse, era mais fácil sumir ou simplesmente deixar. Deixar a vida andar, o amor passar, a dor cicatrizar. Era mais fácil se perder nos olhos que viviam se desviando dos dela, do que encarar que em sua mão havia o seu coração devolvido, com apenas três palavras "não me siga".

Curitiba, 20 de março de 2010. 20:48

sábado, 6 de março de 2010

Desabafo de alguém irritada.

Me dei um tempo agora. Quarenta minutos para escrever sobre alguma coisa que tem me perseguido. Tenho exatos quarenta minutos para despejar cor ou sangue, numa folha de papel virtual, enquanto a tinta no meu cabelo faz efeito.

Esse é um dos problemas de querer virar ruiva artificialmente, a cada vinte dias lá vou eu passar a tal tinta no cabelo. E quando paro para pensar, a cada retoque que dou nos meus cabelos artificialmente ruivos, alguma coisa na minha vida mudou. Qualquer coisa, de vez em quando importante e outras não, mas sempre mudou.

Quando paro para pensar, observo que aventuras ou desventuras me cercam a cada vinte dias ou um mês. Reparo que dentre este período de tempo eu cometo erros ou acertos, muitas vezes até mesmo os dois. Encontro uma pessoa e daí, quando já fiz mil planos, eu a desencontro. Aí, me sobra qualquer mesa de bar e uma cerveja bem gelada para compensar.

Com o tempo, comecei a deixar de contar segundos e passei a contar as horas. Hoje, por incrível que pareça, não consigo tempo para fazer tudo o que eu gostaria, num só dia. Mas talvez eu não ache esse tempo, porque eu perco tempo demais. Perco tempo com nada a fazer, nada a assistir ou chorando o passado, de vez em quando, até mesmo voltando ao passado.

Afinal, de onde tiraram que “voltar” ao passado é algo bom? Acho que me tornei muito dura e passei a acreditar que temos de seguir em frente. Nada dessa baboseira de voltar atrás, de pensar de novo. O que está feito está feito e isso não cabe a ninguém, apenas a nós. Voltar aos sentimentos, relacionamentos, momentos, vidas! Voltar ao passado é algo para fugir do futuro, do seguir em frente.

No momento, acho que meu amigo tinha razão, ao dizer que não adianta olhar velhas cartas, pois são janelas do passado e temos de nos manter focados no futuro. Esse era o principio do meu intercâmbio, por exemplo. Olhar para frente, ao invés de deixar o passado nos tomar. O passado já foi e lá ficou, sabemos que lá ficou.

Talvez por isso, hoje, eu queira ir para frente. Retomar um caminho não é mais o apropriado para mim. Quero algo novo, totalmente novo, como eu já havia feito um tempo atrás. Correr atrás de algo que se encaixe a mim e aos meus objetivos de vida. Cansei de brincar de viver e achar que assim está bom, quando não está. Quero algo a mais.

Afinal, de nada adianta querer voltar ao passado, pois mesmo que o consiga fazer, o passado no presente, jamais será a mesma coisa que um dia foi. As coisas sempre mudam, sempre. Mesmo quando queremos que continuem iguais.
E veja só, lá se foram meus quarentas minutos.


Curitiba, 6 de março de 2010. 17:12

quinta-feira, 4 de março de 2010

Sobre qualquer coisa.

O dia já amanhece nublado, nessa rotina cansativa de olhos molhados. Toda cor do mundo transforma a vida em preto e branco, sem chances nem para o cinza. Acho que é cansaço da mesma porta abrindo e fechando, fazendo um barulho assustador, que já acostumou. Tanto faz, agora não importa mais, já virou rotina.

Rotina remendar o coração e fugir logo depois de tantos erros. Rotina começar de novo, achando que o ponto zero é o melhor jeito de se ter novas coisas. Falta de força de vontade, que se aloja logo ao lado, toda vez que os olhos cansados proclamam trégua com a realidade e insistem em me levar ao mundo dos sonhos. Ao meu paraíso, escrito por mim mesma.

É inundação do passado e medo do presente, é esperança em vão do futuro. Águas passadas capazes de cessar os fogos de hoje, capazes de afogar sonhos. É nesse amor de solidão que se aproxima, que traz o céu ainda mais para longe. Que faz com que estrelas não cantem ao anoitecer.

Descansa a caneta, joga tudo na gaveta e passa a chave. Deixa escorrer sangue e água, mas não deixa afogar-se neles. Faz-me pensar sobre o amor... Amor? Que amor?


Curitiba, 4 de março de 2010. 22:29.