domingo, 1 de março de 2009

Não deixarei ficar vazio.

“Só que é estranho não conversar com você. Você ocupou um lugar aqui dentro e dai parece que está vazio. É estranho”. Ouvir isso quando eu queria dizer as mesmas palavras, para uma porção de gente. Dizer do espaço vazio, do buraco que muitos deixaram ao ir embora, ao esquecerem. Ao embarcarem para uma vida distante.

Não digo de quem ocupou um espaço enorme e foi embora ao me ferir, não digo de pessoas que se distanciaram sem ter razão, simplesmente porque quiseram acreditar sobre mentiras a meu respeito ou mesmo das pessoas que criaram tais mentiras. Essas pessoas eu jogo fora, junto com todo o resto. É lixo, como já me disseram. Eu digo de quem ocupou um grande espaço e foi embora ou me deixou partir.

Hoje foi apenas mais um dia em que me preparei para partir, começar uma vida de árduos dez meses longe de tudo o que eu conheço, longe de toda essa proteção. Quando começo a me preparar para uma partida quase infinita, me deparo com o que estarei deixando para trás. Com os milhares de vazios que sentirei dentro de mim. Com a distância que criarei de muitos, com as faltas de palavras, com as faltas de olhares e abraços. Até quando a ausência pode ser suportável?

Tenho me distanciado de diversas situações, diversas pessoas. Tenho deixado junto a mim quem é realmente importante, quem realmente vale a pena, mas e quem eu já deixei partir? Todos aqueles que aqueciam meu coração quando o sentia muito gelado, todos aqueles que ocupavam minha mente cheia de palavras doces, muitos deixaram enormes vazios. Insubstituíveis vazios. É estranho.

O deixar partir e o partir, deixando a solidão se abrigar nos vazios deixados no coração. E vai sempre faltar, não é a mesma coisa. Os abraços calorosos, o carinho inconfundível, as palavras doces, tudo o que se recebia sempre, se torna para eventualmente. Mas acontece que o eventual encontro não preenche o vazio diário.

É uma dor estranha, agonizante. Indecifrável, para aqueles que nunca amaram de verdade. É perda, é solidão, é saudade. É querer ter perto mesmo estando muito distante. É sentir o abraço, mas continuar gelado. É o vazio que muitos deixam, muitas vezes sem querer, o vazio que fazemos com que deixem. O vazio que muitas vezes deixamos em outras pessoas.

Assim como a dor, um dia a saudade diminui. Não é lembrada sempre, se torna muitas vezes invisível. O vazio com o tempo diminui, a solidão vai saindo aos pouquinhos, mas o buraco nunca some. Sempre fica um vaziozinho, mesmo que bem pequeno, apenas para nos lembrar dos que já partiram de nossas vidas, mas que nos marcaram para sempre.


- Mas eu não irei embora, não deixarei vazio. Se eu for, talvez seja porque meu tempo se esgotou. Mas calma, pode ser que eu só precisasse de ar.