Eu não sei porque me afogo, mas eu não consigo nadar. A
praia esta muito longe e não há boias, pedras ou botes para me salvar. Sinto
ondas e a calmaria me parece uma falsa amiga. Não há gritos, nem ecos e nem
sussurros. Há dores e sangue. Há solidão.
Solidão de dias que já foram ensolarados, lá fora e aqui
dentro. Solidão de dias que já foram risadas e beijos e brincadeiras. Solidão
de dias que já foram melhores. Solidão da alma que andava confortável e da voz
que acalmava. Solidão do companheirismo, confiança, de laços bonitos entre nós.
Solidão de planos e de coisas bonitas.
Eu me despi. Me despi de tudo o que eu era, eu te mostrei
meus sonhos e meus medos. Mostrei a raiva que guardo em mim e toda a dor que já
senti. Eu me despi e tentava ser honesta ao que estava acontecendo. Você me viu
nua e crua. Eu tive medo e deixei você vê-lo. Eu tive fome e deixei você
entender. Eu tive ânsia da vida, das coisas, do mundo e de você. Eu tive desejo
de um futuro mais colorido. Eu me despi, tirei as camadas, as pétalas, as
cores. Te expliquei os cortes, os hematomas e as cicatrizes. Te mostrei o meu
mundo, sem medo. Mas me afoguei.
Me afoguei porque a vida saiu do eixo e a forma como eu
achava que tudo daria certo, na realidade deu errado. Me afoguei quando me vi
contando minhas lágrimas aos chocolates da gaveta proibida, ao invés de
dizê-los a ti de noite. Me afoguei porque me joguei e desisti por semanas, não
permiti nenhuma vitória e nenhuma derrota. Me afoguei porque você viu o que não
deveria ver: o meu eu mais cru, sedento por luz, mas cegado pela escuridão. Me
afoguei porque eu cai e não soube mais levantar. Me afoguei porque tive medo.
Eu te permiti entrar tão afundo que você viu o que nunca
ninguém tinha encontrado. Eu afoguei.
Dublin, 1º de novembro de 2015. 21:31