quinta-feira, 19 de abril de 2012

Sobre estar longe de casa.

De repente, amanheci nessa selva de pedra gigantesca. Sem antes me dar conta, estava aqui, andando em passos largos para chegar logo ao metrô ou a faculdade ou em casa. Fui engolida por essa cidade enorme e tudo aconteceu tão sutilmente que nem me dei conta de que estava aqui. Quando eu senti, já me faltava o cheirinho de casa, a falta do gostinho da comida da mãe e o pior, a saudade arranhada no peito de, simplesmente, tudo.

Ficar longe de casa, sem perceber, começou a se tornar um pouco maçante vez ou outra. De vez em quando, o tempo custa, simplesmente custa a passar. O tempo do dia começa e recomeça, mas parece que ainda estou ali, fazendo um almoço, varrendo um cômodo ou simplesmente sendo só, como muito tenho sido ultimamente. Tem horas então, que resolvo querer jogar tudo, esquecer tudo isso, pegar uma malinha e voltar para o aconchego. Mas é esse o problema de se sair de casa, você começa a dar valor para o desaconchego também.

A vida se inicia numa fase critica, como se tempo e espaço não existissem. Você se sente mais cidadão do mundo, do que de alguma das cidades em que vive fazendo transições. Uma hora você sente saudade do metrô, na outra, sente saudade da rua calma – ou ao menos pros olhos de um paulistano. Comecei a andar rápido, sem me dar conta que tal rapidez era um tanto quanto desnecessária. Comecei a dormir pouco e me acostumar com percursos demorados para se chegar aos lugares. Me habituei a andar sozinha, desacompanhada. Me habituei a não avisar aos pais das idas e vindas. Me habituei a sorrir um pouco menos.

Acho engraçado como crescemos longe de casa, como uma família que me parecia distante quando em Curitiba, agora me parece muito próxima, quando em São Paulo. Me coloco em primeiro lugar e viso o que me faz sorrir. E isso, admito, às vezes dói. Dói ver falarem sobre estudar lá fora, bem mais longe do que apenas outra cidade, e eu ter de sorrir, dizer que vale a pena. Vale a pena me abandonar nesse mundo feito de concreto. Pois tenho visto assim, desse jeito mesmo, que todos nos abandonam hora ou outra. Que podemos ter ajuda, podemos vez ou outra ter alguém que nos segure a mão e fale “vou contigo”. Mas é só isso, vez em quando, alguém vai contigo. E quando se esta sozinho, você aprende que na maioria das vezes, você segura sua própria mão e fala; “vou comigo.”


São Paulo, 19 de abril de 2012. 18:34