Eu esqueço de não mais procurar. Esqueço assim como esqueci
do café gelado em cima da mesa no café da manhã, fingi que estava na praia e
que o sol da manhã me abraçava sutilmente, me convidando para uma caminhada.
Mas não caminhei. Hoje moro entre os prédios e faço rezas todos os dias, para
que o sol venha bronzear um pouco a minha pele, iluminar um pouco o meu quarto.
Peço enquanto caminho entre carros, que na próxima esquina eu encontre sem
querer um novo motivo pra tudo isso. Pois assim como o bolo de forma inteira
que eu não posso comer sozinha, não aguento mais ocupar os dois travesseiros da
cama de casal que preenche o meu quarto. E meus dias solitários.
Hoje eu quis cerveja, um brigadeiro, um sorvete, um caldo de
cana no parque, embaixo de uma árvore. Hoje eu quis sentir o cheiro do meu
apartamento em São Paulo novamente. Saudades daquela vida macia e áspera. Saudade
daquelas tardes ensolaradas e daquela solidão tão precisa. Do porta-retrato na
prateleira da sala, do vizinho que gritava demais e da oportunidade de ser tão
cheia, mas também tão vazia. Saudades dos dias longos, das sonecas de verão. E
depois... Saudades da praia.
Quis acordar em outro lugar, talvez junto do mar. Parar de
procurar a figura dele em cada esquina. Quis dividir o café, pois eu fiz pra
dois. Quis dar significado pro meu dia, quis dividir o sofá e ver um filme
bobo. Quis suar fazendo amor, quis apagar essa ânsia toda com uma risada que
ecoaria pelo quarto. Quis justificar o medo, quis não deixar as coisas pra
depois. Vem aproveitar esse sol comigo, tomar uma água de coco, andar de
Havaianas pela beira mar. Segura o banquinho da minha bicicleta? Nem sei se
ainda sei andar... Será que da pra pegar o carro e andar pela estrada, com os
vidros abertos e sentir todo o mundo te dizendo como o céu azul?
O verão está chegando, o sol tá brilhando e o mundo nunca me
pareceu tão pequeno. Vem aqui, que tem cerveja na geladeira, mas vamos tomar lá
fora e rir um pouco da vida. Quero companhia, quero o travesseiro esquerdo
preenchido. Cantar músicas entre sorrisos, sentir o calor abraçando o corpo
enquanto eu peço pra ficar o ano inteiro, de janeiro a janeiro, até o mundo
acabar. Será que dá?
Curitiba, 31 de outubro de 2014. 01:01