domingo, 29 de dezembro de 2013

Tempo de partir.



Então por favor, não desagúe mais no meu coração, que aqui você não pode mais ficar. Te deixo ir pra procurar em outros cais o que não encontrou em mim. Faço da nossa derrota, uma triste conquista minha; pra atingir uma imensidão que nunca nos seria permitida juntos. Foi melhor assim, enfim. Hoje parto para novos destinos, águas, continentes e sobre nós, eu guardo apenas o que valeu a pena: sorrisos. 

Não te encontrarei mais na mesa do café da manhã, assim como não irei mais tanto à praia. As suas roupas se tornarão velhas novamente, mas tudo bem, não existirá mais a mim para reclamar. Eu prepararei café pra um, assim como almoço e janta. Meus olhos às vezes vão te procurar entre a multidão e você tomará uma dose a mais de cachaça pra ver se eu entro no bar. Eu levarei outros para casa e você as deixará na porta com um beijo de adeus.

A minha estrada, eu te juro, não irá mais se encontrar com a tua. Nem por acaso. Farei questão de não te ligar em datas importantes, e novamente seu aniversário e Natal, serão apenas dias. Não ganhará presentes embrulhados em papéis estrategicamente combinando. Eu, infelizmente, não terei mais seu corpo para abraçar durante a noite. Não terei a tua voz do outro lado da linha.

A vida nos levou embora e, repito, a ideia sempre foi tua. Então me permita te dizer que nossos corações um dia tão quentes e aconchegados, hoje são espaços livres para novas histórias e romances. Sejamos honestos e digamos que falhamos. Deixamos a ausência de vontade de continuar nos preencher a cada final de semana que chegava ao fim. Falhamos. Repito; falhamos.

Minha boca sorri para outras pessoas e meus olhos deixaram de chorar sua perda. O coração ainda arde um pouco, mas está tudo bem, ouvi dizer pelos mais velhos que um dia a gente nem vai mais se lembrar. Então, meu bem, estou partindo. Partindo os nossos nós e laços, partindo nosso passado, nosso futuro que nunca aconteceu. Talvez para sempre você seja minha lembrança mais bonita, mas pode ser que tudo se torne apenas uma história que eu goste de contar.

Me olha uma última vez. Suspira. Me chama de meu bem. Sei que tentará encontrar outro alguém pra ser teu bem. Vai procurar companhia pra cerveja, pro baralho, para as noites de verão na praia e falhará. Você irá tentar encontrar outra cama, outro encaixe. Assim como eu.

Mas agora eu vou, que o ano que começou contigo, acaba sem. Vou tirar minha âncora desse lugar que a gente viveu, vou navegar outros mares. 

Que tá na hora de começar a viver sem ti.


Curitiba, 29 de dezembro de 2013. 23:02

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Do dia que acordou cinza.

Onde esta você agora e porque ainda engole meu coração? O que deixei de te mostrar, que agora você transborda tudo o que aqui não sinto. Renunciei tantas vezes o pouco que ainda pensava, mas desaguei numa simples notícia tua vinda de longe. Você ainda me rasga. O que anda fazendo? Onde largou seus sonhos, seus sorrisos, sua voz de menino-moço? Onde se tornou o estranho que agora não olho mais? Onde percorrem seus olhos, suas vozes, seus gozos? Onde anda seu coração? Em que mundo você soltou minha mão e jurou não mais me procurar? Onde foi que você aprendeu a não mais me amar?

São Paulo, 16 de dezembro de 2013. 20:40

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Nunca se sabe, né...

Queria te pedir desculpas por ainda carregar o peso de uma vida que não existe mais. Por deixar ainda a porta aberta. Por ainda te esperar de coração na mão, café na mesa e bolo no forno. Por esquecer de contar pro porteiro que se você aparecer, é pra interfonar e não só te mandar subir. Por ainda não ter desfeito a marca que seu coração deixou ao lado do meu, na esperança que se você quisesse voltar, era só colocá-lo ali de novo, não precisaria nem aconchegar novamente. Tava pronto. Tudo pronto pra você voltar.

São Paulo, 14 de novembro de 2013 00:44

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Clareia-se às vezes.

- Mas no final, meu bem, eu acho que o que era melhor para nós, na realidade foi melhor em plenitude apenas para mim. Pra você, até onde observo, a vida continua igual com o simples incômodo de não ter mais o meu corpo para abraçar. Agora, pra mim, aqui onde eu estou a paisagem mudou completamente. E sabe, custa acreditar e dói pensar que já não somos e não seremos mais, porém, até que está dando certo essa coisa de seguir em frente, pelo menos vez ou outra.
Hoje, por exemplo, fez sol.


São Paulo, 2 de novembro de 2013. 20:36

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Dessa vida meio esburacada.


Desta vez eu fui embora sozinha, carregando comigo a dor de um mundo inteiro que nunca ninguém iria entender. Arrastei o que ninguém poderia ter arrastado por mim e, pior, guardei num baú momentos que não se apagam com um simples não. O volume do som foi ao último e o disco escolhido foi o seu preferido. Vi você passar na minha frente e num sutil desejo, senti suas mãos abraçando as minhas num pedido urgente para te esquecer. Fui deixada com o coração sangrando, na poltrona do quarto e lágrimas já nem saíam. Eu sequei por inteira.

Senti o gosto amargo de ver você partir e me agarrei a tudo o que eu conhecia, em tudo o que agora, me doía. Você não quis ficar e hoje sinto minha vida caminhar meio esquecida diante tantas as outras. O mundo se tornou menos surpreendente, mas você não quis saber de voltar a colorir. Bateu na minha porta uma última vez pois, havia esquecido algumas coisas - talvez até a si mesmo na minha cama. 

O escuro não aconchega mais e a solidão é sempre eterna. A espera, pelo menos, não existe mais. Uma vez que você não vai mais bater a porta trazendo um sorriso. O amor, que era tanto, acabou como se nada fosse. Deixei você ir embora, não podendo mais te fazer ficar. Sua escolha foi clara: partir. A minha, bem, ainda esta por aí.

Ontem eu chorei, ouvi noticias de você e numa foto que me mostraram quase não te reconheci. É difícil encontrar os mesmos traços depois do fim. Sinto muito se ainda sinto a tua falta e se na prateleira da minha sala, nosso porta-retrato está apenas virado pro outro lado e seu pulôver ainda esta perdido no meu armário, dando as mãos com o meu casaco de lã. Porém, não te encontro em mais nada. Seu cheiro se esqueceu, dentre outros – ou devido o excesso do meu. Sua voz é abafada com o som, televisão e até mesmo com os carros lá fora.

A cerveja virou companheira, infelizmente. Descobri, relutando, que dividir cervejas com outras pessoas, também é bom. Até mesmo com outros homens. Sua saliva, ainda presa em mim, foi confundida com alguma outra que ousei experimentar e o meu prazer, que antes era todo seu, já não é mais. Porém o seu olhar, ah esse, ainda me encara profundamente implorando por mais uma ligação, uma carta, um encontro. Mas eu me proíbo. Você se perdeu de mim.

Seu disco acabou e o silêncio me abraça como você nunca me abraçou; tão tristemente que me sufoca. A tristeza, porém, virou velha amiga. Quando engulo minhas cervejas e beijo meus cigarros ela senta ao meu lado e me faz lembrar de você. Aí então sinto saudade do amor que um dia tivemos, o amor tão imenso que nos transbordava e eu não me importava sobre o excesso, pois éramos mais. A cama então ficou grande demais pra mim e me deu uma vontade enorme de ligar pro casal do andar de cima que comprou a antiga, a pedindo de volta. Mas até ela, pensando bem, seria grande demais.

Daí o sol nasceu e entre um sorriso e outro, me perdi. Entre pedaços meus que eu esqueço no caminho, gargalho um pouco. Vez ou outra eu não penso em ti, não te procuro. Pois o amor, que era grande, ainda é. 

Juro que tento ir embora, mas vou ficar mais um pouco, quero sentir a brisa do mar sem você. Um dia eu vou embora, mas às vezes, ainda finjo estar no seu antigo apartamento, naquela rua mais-bonita-do-mundo olhando o pôr-do-sol. 


Curitiba, 28 de outubro de 2013. 20:31

sábado, 28 de setembro de 2013

Estranhos.



Você então se foi, fechando a porta e deixando no chão tudo o que um dia já amamos. Você se foi da mesma maneira que a tempestade vira chuva: de repente. Nunca foi de hoje, também não era desde ontem. Já fazia tempo que a calmaria não existia e que as ondas grandes nos afogavam, mas eu sempre te mantinha junto. Dava meu salva-vidas, meu ar, pra você se salvar primeiro. Eu já havia me afogado.

Não sei como será e o que será. Mas sei que agora arde, que sua ausência não é fruto de simplesmente não existir mais a presença, e sim de eu ainda gostar. Queria comprar cervejas, cigarros, saiu um filme novo no cinema e quase te chamei, aí lembrei. Ficou vazio.

A sua vida não ficou vazia? E não é porque eu estava sempre junto, é porque ficou fazia mesmo, não? A minha, além de entristecida, se tornou meio cinza, meio fria. Aí eu saio e rio e acho que está tudo bem, mas aí olho pro lado e vejo que do lado esquerdo não tem mais ninguém. Suas mãos grandes não seguram as minhas. Seus olhos não procuram os meus.

E com o baque da porta, daquele dia, tudo o que então eu conhecia, eu perdi. Talvez agora os passos errantes não existam mais, nos livrando das culpas de todos os erros e magoas. Mas também não existe mais céu e pra ser sincera, nem chão. Não, não. Juro que ainda respiro... Às vezes. 

Quando sugeriu nos deixar em cacos, eu não concordei. Deixei de acreditar que um dia poderíamos partir um do outro. Pensei como seria não ver a pequena crescendo e você não mais fazer carinho no gatinho branco e preto. Aí as coisas não fizeram sentido, porque ir embora não faz sentido. Mas acho que você sempre soube ir, eu que nunca havia percebido.

Um dia eu amei o mar, a areia, o baralho, as cervejas. Amei conversas jogadas fora e deitar na cama e ficar junto, só porque era bom estar. Amei filmes e coisas bobas na televisão. Amei cozinhar e fazer de tudo pra você estar melhor. E tudo foi embora, dentro da sua mochila, com você. Você só esqueceu de deixar a coisa mais importante: meu coração.

Hoje, meu bem, eu sou saudade. Eu sou sua falta, sua ausência. Sou ainda o que eu amo em você: tudo. Sou eu, te procurando em todo canto, em toda esquina. Falta você.

Saudade.



28 de setembro de 2013. 12:55

sábado, 27 de julho de 2013

Quando se vai.



Me pego estirada no que poderia chamar de minha própria vida, sou o que me deixam ser. Sou o que posso ser pra cada um. E assim a vida vai deixando a largada sutilmente, sem que antes possamos nos permitir de sorrir mais uma vez, de comer mais um doce ou pedir mais uma cerveja. Começamos apenas a ir, sempre vamos.

De repente você se despeja em um campo aberto, olhando pras estrelas, implorando pra que tudo se concerte. Ou então, de repente, a vida te consome tanto que você não tem mais tempo para pensar no depois, pois esta vivendo demais o agora. E assim as coisas seguem. Deixamos de ser o amanhã, o hoje, o ontem. Deixamos de ser constantemente o que não nos agrada, o que nos machuca. Seguimos para um precipício, um pulo de emergência para qualquer lugar – qualquer mesmo.

Talvez sejamos almas, talvez sejamos energia, talvez simplesmente sejamos algo, sem segredos. Talvez doamos um pouco demais e tememos o que não precisasse ser temido. Seguimos sutilmente para o que não conhecemos e tememos em descobrir. Talvez seja melhor apenas ser e crer que tudo não irá acabar, que quando fecharmos os olhos algo ainda exista.

Caminhamos pr’um armário escuro, pode ser que exista bicho-papão e casacos esquecidos. Pode ser também que simplesmente seja só tudo escuro. Pode até ser que não doa.


Curitiba, 27 de julho de 2013. 00:26

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Vestígios de uma Itália conturbada.



Me conte tais segredos, que cansei das velhas dores. Meus ossos estão derretendo e meus olhos cansados da paisagem tão errante. Que cansamos da vida, da mesmice. Do vazio nítido, dolorido. Choramos escondidos de noite, como se a escuridão pudesse curar a dor. Mas não adianta, que continua sangrando e vai continuar. Então me segure e me leva pra casa. Pega o avião mais rápido e o caminho mais curto, pega a via mais veloz. Mas não faz isso não, de fazer ficar. Que eu vou embora, quando o filme acabar. Que esse ar tá machucando a minha pele. Rega meu jardim, pra começar a florescer, que eu tô voltando e quero ver um pouco de cor, quando eu abrir a porta. Nunca foi para sempre, mas de vez em quando parecer ser. Faz assim, vamos tomar um café e desabafar, vamos pegar o primeiro vôo de manhã. Vamos voltar.

No trem, 20 de novembro de 2009. 1:44