sábado, 28 de setembro de 2013

Estranhos.



Você então se foi, fechando a porta e deixando no chão tudo o que um dia já amamos. Você se foi da mesma maneira que a tempestade vira chuva: de repente. Nunca foi de hoje, também não era desde ontem. Já fazia tempo que a calmaria não existia e que as ondas grandes nos afogavam, mas eu sempre te mantinha junto. Dava meu salva-vidas, meu ar, pra você se salvar primeiro. Eu já havia me afogado.

Não sei como será e o que será. Mas sei que agora arde, que sua ausência não é fruto de simplesmente não existir mais a presença, e sim de eu ainda gostar. Queria comprar cervejas, cigarros, saiu um filme novo no cinema e quase te chamei, aí lembrei. Ficou vazio.

A sua vida não ficou vazia? E não é porque eu estava sempre junto, é porque ficou fazia mesmo, não? A minha, além de entristecida, se tornou meio cinza, meio fria. Aí eu saio e rio e acho que está tudo bem, mas aí olho pro lado e vejo que do lado esquerdo não tem mais ninguém. Suas mãos grandes não seguram as minhas. Seus olhos não procuram os meus.

E com o baque da porta, daquele dia, tudo o que então eu conhecia, eu perdi. Talvez agora os passos errantes não existam mais, nos livrando das culpas de todos os erros e magoas. Mas também não existe mais céu e pra ser sincera, nem chão. Não, não. Juro que ainda respiro... Às vezes. 

Quando sugeriu nos deixar em cacos, eu não concordei. Deixei de acreditar que um dia poderíamos partir um do outro. Pensei como seria não ver a pequena crescendo e você não mais fazer carinho no gatinho branco e preto. Aí as coisas não fizeram sentido, porque ir embora não faz sentido. Mas acho que você sempre soube ir, eu que nunca havia percebido.

Um dia eu amei o mar, a areia, o baralho, as cervejas. Amei conversas jogadas fora e deitar na cama e ficar junto, só porque era bom estar. Amei filmes e coisas bobas na televisão. Amei cozinhar e fazer de tudo pra você estar melhor. E tudo foi embora, dentro da sua mochila, com você. Você só esqueceu de deixar a coisa mais importante: meu coração.

Hoje, meu bem, eu sou saudade. Eu sou sua falta, sua ausência. Sou ainda o que eu amo em você: tudo. Sou eu, te procurando em todo canto, em toda esquina. Falta você.

Saudade.



28 de setembro de 2013. 12:55