Você então se foi, fechando a porta e deixando no chão tudo
o que um dia já amamos. Você se foi da mesma maneira que a tempestade vira
chuva: de repente. Nunca foi de hoje, também não era desde ontem. Já fazia
tempo que a calmaria não existia e que as ondas grandes nos afogavam, mas eu
sempre te mantinha junto. Dava meu salva-vidas, meu ar, pra você se salvar
primeiro. Eu já havia me afogado.
Não sei como será e o que será. Mas sei que agora arde, que
sua ausência não é fruto de simplesmente não existir mais a presença, e sim de
eu ainda gostar. Queria comprar cervejas, cigarros, saiu um filme novo no
cinema e quase te chamei, aí lembrei. Ficou vazio.
A sua vida não ficou vazia? E não é porque eu estava sempre
junto, é porque ficou fazia mesmo, não? A minha, além de entristecida, se
tornou meio cinza, meio fria. Aí eu saio e rio e acho que está tudo bem, mas aí
olho pro lado e vejo que do lado esquerdo não tem mais ninguém. Suas mãos
grandes não seguram as minhas. Seus olhos não procuram os meus.
E com o baque da porta, daquele dia, tudo o que então eu
conhecia, eu perdi. Talvez agora os passos errantes não existam mais, nos
livrando das culpas de todos os erros e magoas. Mas também não existe mais céu
e pra ser sincera, nem chão. Não, não. Juro que ainda respiro... Às vezes.
Quando sugeriu nos deixar em cacos, eu não concordei. Deixei
de acreditar que um dia poderíamos partir um do outro. Pensei como seria não
ver a pequena crescendo e você não mais fazer carinho no gatinho branco e
preto. Aí as coisas não fizeram sentido, porque ir embora não faz sentido. Mas
acho que você sempre soube ir, eu que nunca havia percebido.
Um dia eu amei o mar, a areia, o baralho, as cervejas. Amei
conversas jogadas fora e deitar na cama e ficar junto, só porque era bom estar.
Amei filmes e coisas bobas na televisão. Amei cozinhar e fazer de tudo pra você
estar melhor. E tudo foi embora, dentro da sua mochila, com você. Você só
esqueceu de deixar a coisa mais importante: meu coração.
Hoje, meu bem, eu sou saudade. Eu sou sua falta, sua
ausência. Sou ainda o que eu amo em você: tudo. Sou eu, te procurando em todo
canto, em toda esquina. Falta você.
Saudade.
28 de setembro de 2013. 12:55