sábado, 30 de abril de 2011

Quem sabe desvendar?

De uma maneira desajeitada ela sempre colocava as coisas no lugar. Dizendo um velho e feio clichê, ela sorria querendo chorar e muitas vezes, quando a decepcionavam até a última gota, ao invés de sentar e conversar, ela simplesmente sorria e sugeria, com uma voz manhosa, que gostaria que as coisas se tornassem um pouco diferentes dali em diante.

Ela conquistava – ou não – com seu jeito tímido. O importante era que havia aprendido a não chorar na frente dos outros, até mesmo ao ver um filme triste. Aprendeu – talvez de maneira errada – que na frente dos demais, ela deveria ser forte. Mesmo que isso muitas vezes a tenha deixado tão esgotada que uma mísera ausência já a fazia desmoronar.

Às vezes a chamavam de louca e se irritavam com suas falas precipitadas. Também se aborreciam com seu egoísmo cada vez maior. Acontece que na cabeça dela, os choros antes constantes que já não existiam mais, davam lugar a uma raiva desnecessária. Isso às vezes machucava aos outros e até a si mesma.

Ignorava as batidas do coração que ficavam mais fortes, num sinal de alerta, quando algo não ia bem e logo mais já estava vomitando pensamentos cortantes. Sorria mais do que chorava, mas admitia a si mesma, todas às vezes que se encontrava só, se realmente era mais feliz que triste.

Andava reclamando tanto que não sabia se era certo reclamar, pois assim significava que não se contentava com pouco ou se era errado reclamar, significando que começava aos poucos se tornar uma pessoa amargurada.

Constantemente sentia falta. Falta do que já passou ou até mesmo do que nunca foi. Era de fato saudosa, com qualquer coisa, até mesmo de velhas balas que comia quando era pequena e não encontrava mais. Era revoltada com absolutamente tudo o que não a agradava. Gostava de discutir e sempre ter razão, mas sabia que nunca tinha bons argumentos para justificar suas opiniões.

No fundo, todos os dias quando acordava, ela apenas queria ser alguém para alguém. Só queria que todos os dias ao levantar, tivesse a certeza que alguém também pensaria nela.


Curitiba, 24 de abril de 2011. 2:21