terça-feira, 19 de maio de 2009

Foi feito no silêncio.

E antes do fajuto arrependimento por ter esquecido suas lágrimas no baú, ela sorriu uma ultima vez, esperando que várias coisas se consertassem com o som de uma única risada nada sincera. Antes mesmo de ter um real porque, ela se encontrou consigo mesma e fez as estrelas parecerem mais perto e mais brilhantes do que realmente estavam. A agonia que lhe prendia a respiração se tornou vagarosa e logo, esquecida. Antes de recuperar a dor daquelas lágrimas, ela ouviu com grande coragem e ousadia as palavras que lhe fariam transbordar: “mas então mesmo assim, ele tinha outra, não?”.

Um minuto de silêncio, um minuto de agonia, uma dúzia de anos parecia estar esperando, enquanto aquele enorme nó na garganta gritava por tempestades. Ouviu-se o som da porta batendo. Ela havia recuperado as lágrimas escondidas no baú e junto delas, aproveitou e recuperou a dor fantasiada de risadas simplórias e sem emoção. Seus olhos viraram tempestades esquecidas pelo mundo, sem nenhuma alma viva para fazer a calmaria chegar.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Mas então dê um motivo.

Quem dera fosse apenas raiva ou apenas a dor da raiva se espalhando, quem dera fosse apenas uma surpresa ruim. Mas foi uma decepção, foi algo absurdamente inesperado, uma verdade abaladora, decepcionante. Quebrou os planos, quebrou os sonhos, quebrou as idas e as vindas. Quebrou as vontades.

Não foi só perder alguém, foi perder todos os planos criados, todas as vontades incalculáveis montadas. É ver o mundo distante, mas ao mesmo tempo perto desmoronando, perdendo o sentido para tantos esboços de futuros aconchegantes.

Perdendo a razão de estar aqui sem entender muito bem. É não saber mais montar dentro de si mesma uma esperança, mesmo que um pouco falsa, para seguir em frente.
Eu não gostaria de ficar mais tempo sentada, encarando o chão e esperando que tudo terminasse bem. Mas o fim chegou assim como o começo, sem prévias, sem motivos, apenas porque quis chegar.

O que dói aqui dentro, na realidade o que tanto tem gritado, é a falta que esta fazendo. É esse buraco maior que eu mesma, o buraco que só cresce, que só me deixa cheia de duvidas e vontades absurdas. Me faz encarar as paredes na escuridão intensa da noite, esperando com que estas me dêem soluções visíveis ou até mesmo que simplesmente me responda, converse comigo enquanto as lágrimas dominam inutilmente meu rosto.

Não entendo, simplesmente isso. Não entendo onde todo o amor, se é que um dia ele já existiu, foi parar. Onde todos os planos e sonhos foram jogados fora, ou se foram simplesmente criados por mim, esquecidos rapidamente por você. Talvez eu já esteja farta de tantas inúmeras decepções, dessas que quebram, esmagam e perdem o raro sentido que eu encontro.

Do que mais posso dizer que me cansei? Afinal, o que se faz quando você luta pela vontade absurda de sorrir, e durante tanto tempo as coisas tem caminhado no sentido mais sincero que você seguiu, mas aí tudo se torna ruínas. Você vê o mundo desabando e infelizmente não adianta fazer nada, pois a culpa não é sua.

Com o tempo já fui me tornando acostumada a deixar de acreditar no tal amor. Fui começando a me tornar fria e entendendo que depois de belos dias de sol, a tempestade sempre precisa aparecer para poder molhar um pouco. E mesmo que eu não entenda, mesmo que novamente eu tenha de seguir em frente com um coração quebrado, uma grande ferida e uma confiança em pedaços acho que a mais dolorida parte, é admitir que ainda preciso por perto. É saber que ainda ocupa nesse coração sangrento uma grande parte.

Talvez a fórmula mais complicada não seja a de seguir em frente, mas sim de esquecer. Aprender novamente a viver sem. E eu que fazia tantos planos e queria tanto torná-los verdadeiros.


Curitiba, 12 de maio de 2009. 01:09 am.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Logo tão mais distante.

Às vezes teimo em querer pensar mais, por algum motivo as circunstâncias que me cercam fazem todos os pensamentos se embaralhar. E quando menos consigo perceber, me vejo sentada em algum lugar muito movimentado, mas atolada em pensamentos sem pé nem cabeça, o que me faz ficar calada, quase chorosa ou quase com raiva.

Mas eu me recuso a elaborar os sentimentos em palavras, pois todas elas me parecem cruas e sangrentas demais para alguém escutar. São rasgantes, perfurantes e doloridas. São altas e ao mesmo tempo absurdamente inaudíveis. São cruéis e indecisas, são verdadeiras demais para eu poder gritar, falar, desabafar. Para eu poder explicar o que está atolado aqui dentro.

Receio que escrevendo as palavras percam um pouco da emoção, percam um pouco do sentimento agudo que arde sem dó aqui dentro. Receio que lendo, a ardência dos cortes esfriem um pouco e ao invés de se tornar um café extremamente amargo, é apenas um café com demasiado açúcar. E no momento demasiadamente açucarado são meus sonhos, que nunca vem tão cedo, me fazendo dormir tarde da madrugada e acordar cansada e irritada de mim mesma na manhã que se segue.

Odeio admitir que no momento eu sinta medo de fazer algo errado, mas ao mesmo tempo o errado me parece ser a coisa mais certa. Estou prestes a explodir confusões e receios, prestes a conseguir fazer minhas amargas palavras se tornarem dolorosas feridas, dolorosos punhais para quem lê.

Eu realmente não estou achando justo, tanto me parece injusto eu ter de perder assim como eu ter de me machucar de novo. É injusto ter de fazer mil argumentos, ter de conseguir rodar o mundo, quando não recebo em troca. Não é certo ter de perder, ter de fingir que não esta perdendo para evitar sofrer. Só não quero parecer conformada, ao olhar tudo em volta e não reclamar, não sentir o gosto da angustia na boca e não ver a ansiedade de cada novo encontro diminuindo, se desconfigurando.

Talvez eu quisesse pedir para ficar mais um pouco, mas hoje já não sei se isso é muito certo, pois me dói aqui dentro ao perceber que muito do desinteresse me corrói, enquanto eu estou girando o mundo para tornar sempre possível. E talvez seja tão incerto assim, mas arriscar tudo já é desespero e insanidade máxima. Arriscar coisas que eu nem tenho, para perder antes mesmo de obter.

Está ardendo aqui, como se fosse fogo. As palavras querem sair gritadas, mas parecem apenas serem abafadas pelo som alto que contamina o quarto. É certo que estou apenas cansada de momentos assim, de amar pela metade, de ter pela metade, de ser metade de uma metade. Mesmo que a insegurança esteja me dominando, a vontade de ficar paralisada esta me tomando aos poucos também. Não estou mais esperando como antes, logo vou esperar menos ainda. Pois cansa de estar perto, mas ao mesmo tempo longe. Cansa mais não ter do que ter. Cansa mais ir embora do que ficar.


- Creio eu que alguns tenham razão, quando dizem que as minhas palavras tristes e pesadas sempre irão permanecer em meus textos. Por mais doce que seja o assunto.


Curitiba, 5 de maio de 2009. 23:17 am