terça-feira, 23 de setembro de 2014

Te levando para o nunca mais.



Eu espero vivamente que esta partida não te doa, pois honestamente, não quero pra ninguém essa dor no peito que eu tenho agora. Foram dias, meses e já vira o ano, em que a ardência aqui dentro me consome muitas vezes. Nesse vai e vem de aventuras e amores, eu nunca entendi ao certo se, eu podia ou não, enfim seguir em frente. Tive muito gosto estranho na minha boca e aguentei em meus lábios do tabaco ao gole de whiskey.  Permaneci intacta emocionalmente, pois vai que? Vai que volta, vai que eu faça falta. Vai que ainda me ama.

Pois assim, bem sem querer mesmo, eu ardi por perceber que não. Não te doo mais o peito, minha ausência em ti é clara e a tua vida seguiu, de uma maneira que a minha não. Você sorriu do momento que saiu do meu prédio, carregando contigo toda a tua certeza: não voltar. E acho que eu nunca realmente acreditei nisso, ou melhor, me custou acreditar. Teus olhos nunca mais me procuraram e tua boca não ousou mais me chamar. Eu virei página virada e de mim você guardou apenas uma pequena coisa: recordação. Enquanto que eu guardei saudade.

Eu sentei agoniada no quarto, na sala, no carro. Chorei. Passei em frente ao teu antigo prédio. Procurei sinais. Conversei. Busquei saber se de fato era verdade. De noite enquanto vinha toda atropelada para casa, me dei conta que nem o rádio liguei e nem percebi o silêncio. Cheguei cansada, dormi, acordei e não quis trabalhar, não quis conversar. Simplesmente não. Enquanto aguardava no hospital, por um atestado de motivo bobo, me deparei com o que eu estava sendo e, porque, tão amargamente guardei esperanças de algo que não volta mais. Evitei dores e amores, evitei viagens e para todos justificava apenas que não dava.

Eu, assim desse jeito mesmo, simplesmente parei no tempo. Dessa dor que eu carrego e ninguém entende o motivo de eu ser tão frágil. Desse meu jeito de que vou sorrir sim, mas meus olhos vão brilhar de lágrimas. Desse meu jeito todo errado, fiquei sentada esperando que talvez um dia você percebesse que eu ainda era importante, enquanto que para você, a rota já tinha mudado e a vida nunca estivera sendo mais bonita. Eu deixei de ser a tua pessoa preferida, enquanto eu ainda acreditava que você era a minha. 

Nunca doeu tanto partir de alguém como tem me doído partir de ti. Eu deveria ter feito isso antes, mas nunca tive coragem. Mais do que partir de ti, preciso te fazer sair daqui ó, de dentro. Preciso te arrancar, te machucar, não te fazer mais voltar, eu não mereço mais isso. Enquanto brincava de fazer café e comida pra um, eu fingia que te esquecia, mas te procurei em cada copo de cerveja vazio, em cada música de coração partido. Mais do que nunca nesse momento eu preciso ir embora, não é mais justo você continuar a ser pra mim, o que eu nunca mais serei para você.

E por favor, não me procure mais. A tua ausência me doerá bem menos que esse teu leva e traz.


Curitiba, 23 de setembro de 2014. 01:04

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Do que é o amor.



Não tenho receio desses talvez cheios de certezas que desfilamos por aí. Pode abrir o peito e falar com sinceridade, pode deixar que eu aguento o grito. Pode sentar e desabafar, pode chorar. Eu não vou me impressionar com a receita de churros ou com o carro conversível  - posso até achar realmente legal, mas me impressiono mais com o sorriso, com o convite no meio da noite para um brownie, pois de repente deu vontade e o filme tá chato. Com a mensagem mais sutil dizendo: “você já dormiu, né xarope?”. É já, já dormi. Mas pode deixar que eu acordo, pois vale. 

E sabe o que mais? Acordo com um sorriso se veio só “porque sim”, porque foi bom, porque estamos bem. Estou de corpo e alma e quando quero, eu quero. Mas você que não me doa o coração, pois aí já não é justo, sabe? Não é justo doer algo que não é teu. É assim mesmo que a doçura dos dias nos escorrega por entre a vida, nos pequenos “sim, sim, eu quero”. Se quer vem, que se a gente gosta qualquer hora é hora e qualquer cama de solteiro vira king size. Não te preocupa se vier molhado da chuva, pois do chuveiro sai água quente e sim, podemos nos molhar juntos. Pode trazer comida, cerveja, doce, filme. Pode trazer até mesmo cigarros e histórias, não importa. Mas traga teu corpo, pois o encaixe no final de um dia cansativo é o melhor encaixe.

Sabe, faz do meu perfume o teu preferido e da minha porta teu aconchego. Que tá tudo bem se o ônibus atrasou ou o metrô das 18 horas é cheio demais. Tudo bem que a cerveja com os amigos foi até mais tarde, pode vir, mesmo que seja pra dormir apenas. Antes a tua companhia apenas pra dormir, do que esse apartamento vazio. Eu gosto de dançar com a minha própria sombra, mas se tiver o teu corpo pra me guiar na dança, é melhor ainda. Tá tocando Elvis, mas a gente pode dançar Clapton se tu quiseres. Pode ser até Novos Baianos, porque não? 

O que quis te explicar é que tá tudo bem se o mundo desaba, se as coisas já não vão tão bem e se o que fomos há três anos atrás já foi mais fácil. É que sabe, dizem que amor é assim mesmo, às vezes dói, às vezes você desiste e aí você vê a pessoa e pronto, desistir do que mesmo? Comigo é assim pelo menos. É que amor tem que ter cuidado, tem que polir, tem que ter carinho. Às vezes ele te prega peças, mas aí a gente revida e prega peças no amor também. O que não vale é dizer que vir aqui em casa só pra dormir não te convém, que aí quer dizer que o amor tá ficando murcho e nada do que murcha vive muito mais. Sabe, tem que querer, entende? Tem que sentir que mesmo quando a cerveja com os amigos tá incrível, tá faltando uma companhia ali e que essa companhia faz toda a diferença. Amor é assim mesmo, tem que ter espaço pra respirar, tem que saber separar, tem que saber juntar.

Amor é continuar tendo tudo o que se tem quando se é sozinho, com a diferença que teu coração bate forte quando chega o momento do encontro, quando o melhor sorriso do mundo se abre pra ti. Amor é assim mesmo, mesmo confuso o essencial é não deixar morrer, sabe. Amor quando morre é morte pra quem continua a sentir. Amor é bonito demais, assim como as flores na primavera e claro, às vezes fica meio cinza, perde flores e folhas, mas tá ali ó, tá vendo o Ipê amarelo? Então, amor é tipo ele: vivo.




Curitiba, 16 de setembro de 2014. 00:41