quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Para quem quiser saber.



Quando às vezes você tem um pouco disso tudo, mas não se sente de lugar algum. Como se tudo em volta não foi, não é, não será. E cadê, cadê a vida, sorriso? Solidão devasta tudo o que vê, ela machuca. Perfura até o que não se pode perfurar e encharca de sangue. Céus, como encharca! E onde que coloquei as vidas? Os sonhos? Onde foi que encaixei a dor? Se agora, só o que vejo é destruição. Sangue escorrendo por entre as mãos. Sentar e esperar que o sol apareça, que o inverno se esqueça de voltar? Se estou tão sozinha é porque quero estar? Mas e se precisar? Não encontrei mãos que se encaixassem tão bem e nem vozes que fizessem tudo se resolver. Não consegui, não pude. Se não fui capaz? Talvez. Talvez me prenda muito ao que já amo. Amo tanto que não exista substituição. Mas sabe o que é? É que por aqui é tudo muito longe. Mal sei ir até a esquina, quem dirá fazer amigos! Acho que já parti demais por aqui. Ando desleixada. Deixando esse sonho todo, pra lugar algum. Esqueço de batalhar, sabe. E agora, hein? Como resolvo tudo isso? Como faço pra dar certo essas coisas? Tá tudo meio errado, viu. Eu ainda nem tentei direito, nem chegou ao fim e veja só, estou com medo do que pode dar errado! O que eu faço, hein? Me diz, me diz!Como que faz? Preciso colocar tudo no lugar. Cansei de fazer tudo errado, não da pra fazer mais isso. Não dá.

26 de novembro de 2012. 7:23

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O podre.



Larguei na gaveta tudo o que eu poderia e devo sentir. Desisti de abandonar nos outros, coisas que pertencem só a mim. Pois havemos desculpas e coração quebrados, que ninguém entende porque aconteceram. Acontece, que depois de um tempo acompanhado da solidão, você entende que há dores que você guarda para si mesmo, pois ninguém precisa se sentir culpado por todo aquele sofrimento.

Sem dar explicações para os demais, guardei pra mim então, todo esse sentimento duro que sinto. Mesmo que às vezes não haja escapatória, mesmo que apenas eu mesma escute meus berros de desespero e meu choro de solidão. Às vezes é necessário que você seja seu único herói. Pois você começa a aprender que a dor é sua, o problema é seu e que as pessoas não irão entender o tudo, da mesma maneira que você.

Guardei também lembranças e erros profundos nessa gaveta. Joguei ali, tudo que de mim não presta. Segredos, momentos, tristezas, cicatrizes. Joguei o que ninguém nunca poderia sentir, saber ou se quer compreender. Já basta eu mesma, duvidando de cada passo torto meu. 

Não que eu me sinta mais leve assim. Afinal meus erros, minhas alucinações, tudo aquilo de mais sujo que eu tenho, são como fundas cicatrizes em lugares que apenas eu vejo. Apenas eu sei. Sei que doem todos os dias. Mas as guardo, ninguém precisa saber. Ninguém.

Existem histórias, sentimentos, segredos e vontades que não precisam ser contados. Apenas engavetados, esquecidos. Um dia se tornarão como qualquer objeto velho e empoeirado, simplesmente insignificante diante toda a vida que levamos. Deixa-se esquecido, pois é preciso. Saber esquecer e seguir em frente é a única coisa que devemos aprender com exatidão. Mesmo que aquilo que guardamos, às vezes grite para ser contado.


São Paulo, 24 de setembro de 2012. 15:45

sábado, 11 de agosto de 2012

Das coisas que vivi.



 Ah, que besteira infantil. Vejo fotos que sempre vi, mas dessa vez olhei com outros olhos. O coração apertou tão forte, que por pouco não escorrem lágrimas grossas. Dizem que isso é saudade. Agora do que exatamente, já faz mais de dois anos que estou para descobrir. Mas acho que é isso, o tempo vai passando e a nossa vida vai se desgastando e começamos aos poucos, a pensar nas oportunidades que tivemos, nos momentos que vivemos e até mesmo, das coisas que deram erradas, mas foram coisas que podem ser que nunca mais aconteçam.

Voltei pra minha casa morrendo de medo, uns anos atrás. Tremia de vontade de estar logo nos braços de quem me ama, ignorei todos os sinais de que eu precisava aguentar um pouco mais, para ter mais histórias para contar. Larguei tudo o que eu tinha e quase voltei só com as roupas do corpo. Suava de vontade de simplesmente chegar. Até que de repente, cheguei. Cheguei pro mundo que eu conhecia. Depois de um tempo, só depois de um tempo, descobri que deveria ter aproveitado mais, pois era uma chance e uma experiência única. Coisa de nunca mais.

Mas até que penso que ao menos, estive do outro lado do oceano por um tempo. Enfim, mesmo já passando muito tempo, lembro dessa história com um certo gostinho de quero mais e até mesmo de tristeza. Pois sinto falta. Sinto muita falta. Cadê aqueles momentos engraçados e tristes, aquela solidão ardida? Os cafés de final de tarde e os chocolates de todo dia? A preguiça matinal e o ódio das aulas aos sábados? Cadê as folhas secas caindo no outono? 

Poxa saudade, você me pega de jeito às vezes, sabe. Você realmente me derruba de uma maneira surpreendente. E você dança de salto agulha em cima de mim, mesmo depois de muito tempo. Até mesmo quando não faz mais sentido você dançar. Mas você dança toda graciosa, exibindo todo o seu poder sobre mim. Afinal, você sempre vem. Até mesmo quando me lembro dos bons momentos, você simplesmente vem, pois você precisa aparecer, se mostrar e me fazer arder em chamas de saudades, dessas pequenas coisas deliciosas que eu vivi e que infelizmente, não voltam nunca mais.


São Paulo, 11 de agosto de 2012. 01:01

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Meus passos errantes.


Aí então, comecei a chorar sozinha e nem sei o porque. Eu odiava chorar sozinha, meu coração apertava tanto que ardia e eu precisava sempre só de um colo. Hoje ninguém mais me vê chorando. Assim como ninguém mais me vê vacilando, mesmo quando vejo que as coisas andam como um vidro estilhaçado no chão. O que eu me tornei? Como se o espelho pudesse responder.

Me distancio tão fácil quanto me aproximo e me esqueço sutilmente dos erros que aprontei. Guardo amargamente lembranças que somando umas às outras, fizeram-me ser assim, tão inconsequente nas palavras, tão fria nas atitudes... Tão errada nas decisões. 

Descarrego tudo que sinto em brigas, berros, e guardo minha dor assim, no peito que arde cada vez mais. Arde por medo de perder, de não ter. Por medo de parar de ser ou de viver tudo o que eu tenho sido e vivido. E escorreguei em sangue, formei cicatrizes. Criei buracos eternos dentro de mim mesma, sem ninguém podendo jogar terra pra tapar. 

Me calo. Sou tão amarga quanto um velho senhor que já perdeu tudo o que mais amou. Sou cheia de arranhões, batidas, calos e machucados. Sou cheia do que arde, sangra. Sou azeda com lembranças dolorosas. E resgato tudo isso sem nem perceber. Resgato cada centímetro de dor do meu passado e coloco no que hoje eu sou. Eu traio a mim mesma, deixando de lado tudo o que eu queria ser, tudo o que eu sonhava.

Larguei vozes dentro de mim, consolei a mim mesma quando não tive. Mas também não quis tantas coisas, deixei de acreditar em vãos, em vácuos, em finais felizes. Ignorei mares e tempestades e fiz meus próprios furacões e enchentes. 

E sempre, quando a madrugada surge, minhas lágrimas também saem. Mas me ver chorar, ninguém mais viu.


Curitiba, 1º de agosto de 2012. 3:46

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Tão acostumada sou, que quando pesa...


Antes mesmo da porta fechar com um baque, ela já havia jogado seu casaco e sua bolsa no sofá da sala, andou até o quarto e se jogou na cama. Era a bebida. Não se lembrava do que, nem de o porquê e nem como, mas ela havia chegado em casa com um enorme peso no coração. Algo tão pesado e consumidor, que nem conseguia respirar normalmente. A luz, a televisão, a cortina e o quadro giravam eternamente, como se estivessem numa roleta russa. Ou ela estaria numa roleta russa? Dormiu.

A ressaca a acordou com língua seca às 8 horas da manhã. Depois de tomar um enorme copo de água, ela sentou no sofá e reparou que além da dor de cabeça, algo ainda pesava em seu coração. Era como se fosse ânsia, mas talvez isso fosse consequência das várias bebidas ingeridas na noite anterior, mas também poderia ser solidão. Esse peso era como uma pontada. Algo angustiante, entalado, preso. Seus olhos se fechavam e logo em seguida abriam, agora era a sala que parecia girar.

Lentamente se levantou do sofá e seguiu para a varanda, sentou-se na cadeira, acendeu um cigarro e enquanto as cinzas caiam no chão, ela fechava os olhos e deixava o sol esquentar seu corpo frio pelo vento do inverno. Deixou escorregar o tempo, pensamentos, vontades. Ainda sentia seu peito pesar, era uma sensação horrível. Tão horrível que nem se acomodava na cadeira, assim como não se acomodou no sofá e muito menos na cama.

Na cama, porém, enquanto encarava o teto branco procurando algo escrito nele, dando o motivo de tal peso do peito, ao girar um pouco a cabeça para a direita, encontrou marcas de algo que acontecera ali. Ralas marcas de dedos, feito com batom vermelho, coloriam a cabeceira da cama. Sentiu então o corpo sucumbir dez metros para baixo, seu coração pesou tanto, que levou até a sua alma. O que precisava ser entendido, enfim foi e o coração pesado, era a saudade apertada dele.

Pegou o telefone, discou sem nem pensar os números. Tocou, tocou. Nada. Tentou de novo. Tocou, tocou, tocou. Secretária eletrônica. Desistiu. Voltou a deitar as costas na cama – porque liguei, ele está viajando. Volta só daqui quatro dias. Virou para o lado, olhou a foto dele e dela, sentados numa praia e sorrindo. Ela sorriu pra foto. Respirou. Tentou de novo o telefone. Secretária eletrônica. – Alô, meu bem, meu coração pesou hoje. No começo não percebi, mas agora... Volta logo, por favor? Cansei de pesar sozinha.


Santiago, 12 de julho de 2012. 23:16

terça-feira, 10 de julho de 2012

Do lado de fora da porta.


Você passa seus dedos quentes nas minhas costas, faz desenhos de arranhões nelas e pinta de mordidas roxas as minhas coxas. Me deixa de lábios vermelhos e olhos brilhantes. Você deita seu corpo quente ao lado do meu gelado e diz, assim mesmo, que as coisas vão fluir, se eu deixar fluir. Você se levanta da cama e vai resolver a sua vida, enquanto eu fico ali estirada, esperando um próximo beijo, um próximo gemido de gozo. Fico esperando entre as cobertas já cansadas de nós dois, um próximo momento juntos.

Brinco de não haver vida por detrás da porta e que somos os únicos que sobrevivemos essa realidade tão amarga. Pois você deixa a minha vida mais doce. Hoje ou amanhã se torna um e sempre é cedo, mesmo quando sabemos que é tarde. Afinal, o que vivemos sempre é tarde. Às vezes brincamos de casinha, outras vezes brincamos de morar um em cada cidade. Levamos uma vida meio doida ou até mesmo doída, se formos pensar em determinados casos.

Mas aí as coisas acontecem, no dia seguinte você chega em casa e eu sento no seu colo, só porque eu acho legal sentar. A gente ri de algo bobo e dividimos uma cerveja, um cigarro, uma história. Quando menos percebo estamos aqui ou ali, estamos lá, mas estamos. Sempre estamos. Mesmo quando o mundo nos impede de estar, nós estamos. Se a música acaba, você coloca outra, se a cerveja acaba, nós abrimos outra. Se o assunto desaparece, a gente se encaixa perfeitamente.

Você me consome inteira, você me bebe feito um líquido doce, enquanto eu te absorvo absolutamente, pra te ter sempre comigo. E tudo isso nos torna maiores, tão maiores que às vezes simplesmente tampamos os buracos que fazemos – ou eu faço – e reconstruímos a calçada. Sutilmente, começamos a construir muros. Verdadeiras muralhas, das quais podemos brincar que lá fora não existe mundo. Nada existe, nem o tempo, apenas nós.


Curitiba, 10 de julho de 2012

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Sobre estar longe de casa.

De repente, amanheci nessa selva de pedra gigantesca. Sem antes me dar conta, estava aqui, andando em passos largos para chegar logo ao metrô ou a faculdade ou em casa. Fui engolida por essa cidade enorme e tudo aconteceu tão sutilmente que nem me dei conta de que estava aqui. Quando eu senti, já me faltava o cheirinho de casa, a falta do gostinho da comida da mãe e o pior, a saudade arranhada no peito de, simplesmente, tudo.

Ficar longe de casa, sem perceber, começou a se tornar um pouco maçante vez ou outra. De vez em quando, o tempo custa, simplesmente custa a passar. O tempo do dia começa e recomeça, mas parece que ainda estou ali, fazendo um almoço, varrendo um cômodo ou simplesmente sendo só, como muito tenho sido ultimamente. Tem horas então, que resolvo querer jogar tudo, esquecer tudo isso, pegar uma malinha e voltar para o aconchego. Mas é esse o problema de se sair de casa, você começa a dar valor para o desaconchego também.

A vida se inicia numa fase critica, como se tempo e espaço não existissem. Você se sente mais cidadão do mundo, do que de alguma das cidades em que vive fazendo transições. Uma hora você sente saudade do metrô, na outra, sente saudade da rua calma – ou ao menos pros olhos de um paulistano. Comecei a andar rápido, sem me dar conta que tal rapidez era um tanto quanto desnecessária. Comecei a dormir pouco e me acostumar com percursos demorados para se chegar aos lugares. Me habituei a andar sozinha, desacompanhada. Me habituei a não avisar aos pais das idas e vindas. Me habituei a sorrir um pouco menos.

Acho engraçado como crescemos longe de casa, como uma família que me parecia distante quando em Curitiba, agora me parece muito próxima, quando em São Paulo. Me coloco em primeiro lugar e viso o que me faz sorrir. E isso, admito, às vezes dói. Dói ver falarem sobre estudar lá fora, bem mais longe do que apenas outra cidade, e eu ter de sorrir, dizer que vale a pena. Vale a pena me abandonar nesse mundo feito de concreto. Pois tenho visto assim, desse jeito mesmo, que todos nos abandonam hora ou outra. Que podemos ter ajuda, podemos vez ou outra ter alguém que nos segure a mão e fale “vou contigo”. Mas é só isso, vez em quando, alguém vai contigo. E quando se esta sozinho, você aprende que na maioria das vezes, você segura sua própria mão e fala; “vou comigo.”


São Paulo, 19 de abril de 2012. 18:34

quinta-feira, 29 de março de 2012

Sentimentos de um sozinho, às vezes.

Ressaltar a falta era tão simples. Doía essa solidão de vez em quando, mas outras vezes, a solidão chamava. Era vontade de ser a única companhia. Realmente não se importava de ter apenas uma pessoa para rir um pouco depois da aula, depois de noites de insônia, depois de choros e risadas. Ao menos era alguém, um coração amigo pra acalmar a ansiedade, pra calar o vazio.

Esquentar a alma era a coisa mais difícil de fazer e o pior era a dúvida. Dúvida do que virá, do que tornará dois em um, e até quando esse um será algo. A respiração é vagarosa, vem dolorida só de pensar. Mas era “coisas da vida”, essa mania de se afastar. O pior de tudo era que não se sabia o que poderia vir, o que poderiam se tornar.

E se os corações se acostumarem com a ausência? A falta inflamada do carinho.


14 de março de 2012. 23:40

quarta-feira, 14 de março de 2012

Despedida.

Assim se vai de novo embora. Um abraço apertado que grita algo como: "por quê tão já?". E essa pergunta ecoa no espaço quase vácuo entre os dois corpos que teimam em não se separar. Me deixa te fazer um café, te preparar a cama, ainda está muito cedo.

Que despedidas desajeitadas, com uma saudade que pede para morrer. Os olhos se encaram e se esforçam para não lacrimejar. Aí o sorriso vem bobo, pois juramos que ao sorrir, aquela dor do nó na garganta vai embora. Mas é uma tentativa frustrada. E o que falamos com a voz trêmula, é quase mudo diante a tantos sentimentos despejados.

Sem ter vontade alguma, você então dá as costas. Seus passos são vagarosos, porém grandes, como se estivesse na dúvida de se prefere que a despedida seja breve ou demorada. Aí quando menos se espera, você já esta fechando a porta atrás de si.

Silêncio.



São Paulo, 13 de março de 2012. 00:30

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Falta.

As gotas começavam a cair devagar do outro lado do vidro, como se não tivesse pressa de molhar a tal selva de pedras. A garota estava deitada na cama, olhando o teto, ou tentando olhar, enquanto suas lágrimas embaçavam toda a sua visão. Deitada ali, ela simplesmente pensava e repensava até que ponto tinha razão, se é que tinha alguma. Pensava se fazia sentido, se é que tinha algum. Pensava se valia à pena, se é que tinha de pensar.

Era distante sua vida ultimamente. Alguns quilômetros eram capazes de mudar muita coisa, havia descoberto. Era capaz de fazer o dia virar noite mais devagar e até mesmo de um silêncio, parecer conseguir fazer o resto do mundo se tornar mudo.

“Eu tenho medo de ficar sozinha. Ninguém se importa.”, falou para si mesma, jurando que alguém fosse capaz de responder. Mas era verdade, ninguém realmente se importava. Ela estava tão longe, mesmo estando perto, estava tão quieta na vida deles, que ela não fazia mais diferença praqueles que ficaram. Ela era apenas personagem de histórias passadas e não histórias presentes. Fazer falta? Todos fazem. Mas sentir a falta era diferente de simplesmente fazer.


São Paulo, 14 de fevereiro de 2012. 12:37

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Você.

São seus olhos. É o seu sorriso. A sua voz. A sua mão. O seu cheiro e a maneira como fuma o seu cigarro. Eu simplesmente me descarrego perto de ti. Não posso, eu sei. É feio, é terrível. Mas a gente tem essa mania de achar que quem amamos, também tem de nos amar, mesmo que a gente descarregue o mundo nela. Eu me descarrego de você, em você mesmo. Você continua sorrindo.

Seus dedos passando por cada canto meu. Sua boca beijando minha nuca. Sua voz, dizendo que me ama. Não posso mais sem você.

Você se direciona tão bem. Passado. Presente. Futuro. O nós, é agora. Você senta do meu lado e jura, de todo o coração, que a vida segue assim serena. Você sorri pra mim. Meu mundo desacelera. Eu deito na cama. Você deita do lado. Eu te olho. Você me olha. Seus olhos brilham. Meu mundo fica mais azul.

Eu sigo em frente e você me dá mapas, soluções para problemas, que na minha cabeça não existe solução. Você me guia. Você sorri. Eu te sigo. Sigo em paz. Sigo segura. Você segura a minha mão, que simplesmente faz desaparecer a minha mão pequena e gordinha. Você sorri. Você pergunta se sou feliz. Eu digo que sim.

São seus olhos, meu bem. Quando estou numa multidão desconhecida, basta encontrá-los e sei que estou em casa. Você sorri.


Curitiba, 4 de fevereiro de 2012. 00:11

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Não ia mudar nada, absolutamente nada.

Ao ouvir o “sim”, a menina caiu de joelhos no chão, suas pernas simplesmente perderam a força. Ficou ali então, encarando desculpas que não faziam mais sentidos – e nem sua indignação fazia. Escutava as “palavras duras, em voz de veludo” e sua visão foi se tornando borrada, marejada de água meio-salgada, meio-doce. Quanto mais escutava, mais vontade tinha de apenas ir embora, ser engolida por um tempo.

“Para quê tocar na ferida, me diga, meu bem?”. E sua boca apenas abria e fechava, pra uma resposta que não existia. Seus olhos transformavam tudo em mar novamente e daí com a voz falhada ela apenas dizia “eu só precisava saber”. O mais engraçado é que ela não entendia o motivo de querer saber. Não ia mudar nada, absolutamente nada. Foi antes, alguns minutos antes... Acho que foi isso que na realidade precisava saber. Uns minutos antes.

Ela encarava o garoto a olhando com um olhar surpreso, achando todo o drama muito intenso pra uma coisa que foi antes. Mas era óbvio que ele sabia o motivo do drama: a surpresa. O desastre de descobrir sobre um fato, meses depois de ter ocorrido e o pior: o fato era altamente inflamável. Inflamável pra ela, que fazia parte do acontecido e nem mesmo sabia e agora, nem se quer entendia. Não entendia, de jeito nenhum, o motivo de não ter ficado sabendo disso antes – pois gostaria de ter ficado.

“Eu não sei mais, meu bem”, disse ela como se o soluço pudesse falar. Mentira, ela ainda sabia que aquilo não mudaria nada, absolutamente nada, mas a ferida da verdade ainda ardia no peito e sangrava só de pensar na situação. O sentimento não murchava, o orgulho não feria – mentira, estava ferido. Naquela noite ela não teria sido a única, foi a principal, mas não a única. O orgulho sim murchou.

A decepção se fez de desentendida, quando pensou melhor e percebeu que não tinha moral alguma de bater na porta. Mas a garota olhou com os olhos cheios de confusão, praquele garoto bonito e doce que se punha na sua frente. “Acho que tem razão, não é pra tanto. Mas sinceridade, é que eu não esperava isso”, pensava a menina em sua cabeça fervilhando.

“Eu te amo muito, meu bem”, dizia o menino suplicando um único gesto de carinho vindo dela. A menina se levantou, desfez a cara de triste, limpou os olhos, pigarreou e com a voz suave foi apenas capaz de dizer “eu nunca deixei de te amar, bonito”. Desligando a luz do quarto e voltando para a cama, fez sua cabeça pesar no travesseiro. Não, não faz mais diferença. Mas eu quebrei um pouco.


Curitiba, 26 de janeiro de 2012. 23:48

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Da menina.

Menina, que dança assim devagar e olha pra baixo quando a olham. Menina, que anda depressa, mas faz questão de chegar devagar. Menina, que senta e sutilmente diz “às vezes eu não sei mais nada”. Ah menina, que olhos são esses, às vezes confusos e outras, tão cheios de certezas? Que sorriso é esse que guarda no rosto e deixa todos perceberem?

Menina dos segredos que poucos sabem. Menina, que tem medo da escuridão e se aconchega em qualquer abraço carinhoso. Menina, que chora escondido e um dia já chorou até demais. Menina dos pulos animados, das piadas que só ela entende. Menina, que faz questão de aumentar o volume quando a música é boa.

Menina, que se esconde para ninguém encontrar, mas aparece para todos notarem. Menina das risadas engraçadas. Menina, que se entrega para um poema. Menina mais nova da família. Menina dos abraços apertados.

Menina, que cresce devagar, mas ao mesmo tempo tão rápido. Menina do aniversário. Menina, que se esquece dos dias, das horas. Menina dos sonhos encantados. Ah menina, o que você tem mesmo, hein? Que vontade é essa de viver que você sempre tem? Que vida é essa que parece tão serena? Ah menina, que grande você já está.


Curitiba, 23 de janeiro de 2012. 00:45

sábado, 14 de janeiro de 2012

Pequenos despejos de raiva.

Eu não vou. Mas também não fico. Eu rastejo nessas horas que também rastejam e corro, nas horas que também correm. Eu me esqueço dos dias, quando é para esquecer e me enfureço quando é para me enfurecer. Eu tenho lágrimas escorridas e secas nas minhas bochechas e meus soluços estão quase cessando. Eu, assim, comigo mesma, estou quase cessando.

Cessando de sentir saudade de quem não sente. De procurar quem não procura. De marcar no calendário os dias que faltam, quando a pessoa que chega não marcou no calendário dela. Quero esquecer o horário, pois todos têm esquecido. E ficar sozinha, pois todos tem ficado. Quero correr, pois todos caminham devagar e essa lentidão já me deu sonolência.

Eu vou. Mas também fico. Eu me descontrolo com essas vontades que ninguém vai matar. Eu arrumo as malas e torço, em silêncio, que a porta se abra e alguém grite “mas vou sentir tanta saudade”. Eu me acomodo nesse comodismo, mas também odeio essa vida acomodada. Essa vida de ficar mais uns dias, de ficar por alguém. O alguém não fica por você.

Eu, não fico por mais ninguém. As pessoas partem, mudam, esquecem. As pessoas são engolidas pelas próprias vidas e poucos são os que restam para te segurar a mão. Eu fico, eu vou, eu me perco, eu me acho. Eu caminho. Você caminha. Eu recolho de lugares esquecidos essas memórias jogadas ao chão de propósito. Eu não me esqueço. Mas também não me lembro.


Curitiba, 14 de janeiro de 2012. 00:08