domingo, 24 de agosto de 2014

Socorro.



“Socorro eu não estou sentindo nada”, uma vez disse Arnaldo Antunes numa música muito boa, inclusive. É sábado de noite – madrugada de domingo na realidade – e depois de um dia longo de trabalho pensei que nada mais justo passar batom vermelho e ficar bonita pra andar por aí. O problema, talvez, tenha sido exatamente esse – ficar bonita por dentro também. Acontece que depois de um dia inteiro de expectativas e sorrisos bestas, menos de duas horas depois estou de volta e bem, confusa.

Engoli três vezes pr’o choro desaparecer e pareço uma boneca Barbie esquecida num encontro, com os saltos na mão, o cabelo ainda bonito e o batom um pouco borrado. Fui à geladeira, peguei a cerveja e voltei pro quarto. Pedi socorro – real e mental – mas em nenhuma tentativa fui atendida. Eu queria ser lembrada. Lembrada de verdade, com vontade, pra já e não pra depois, para até o sol se pôr, pra até amanhã cedinho, em qualquer lugar – menos na sua casa, onde tudo pode acontecer, menos romance. Quero mão dada de verdade, vontade a flor da pele. Fica mais um pouco, porque tão já?

A cerveja tá acabando e só quero o verão de novo, cansei do frio. Peguei dor de garganta, minhas mãos e lábios estão ressecados e meu casaco creme simplesmente está todo manchado e não tenho a mínima noção de como ficou assim. Me deixa, que quero vestido e perna de fora. Quero sorrir, será que dá? Mas de verdade, sabe. Quero um “desce, tô aqui” e também “pede folga, quero te levar pra praia”. Me leva pra qualquer lugar, mas sai desse tédio, sai desse leva e trás. Assim não dá, meu bem. Meu coração transborda de qualquer coisa e dói, pois todos eles nunca querem ficar e quando ficam eu quero ir. O que tá errado, hein?

Socorro que já não estou sentindo nada – ou tudo ao mesmo tempo. Me deixa, me esquece. Fica. Fica que o sorvete vai derreter e fiz café pra dois. Mentira, não tem café. Tem cerveja gelada aqui em casa e no bar, vamos no bar primeiro e depois, quando tivermos sono, você vem pra casa e bebemos aqui. A gente senta no sofá e acende um cigarro e conversa sobre tudo – inclusive nós. E aí você vai sorrir e vai dizer que sorte termos nos aventurado nessa vida juntos. Que sorte não estarmos sós e sim a sós. E quero que o sol bata na janela a tarde inteira e que elas sejam longas e as conversas mais ainda, que o calor nos abrace e que sejamos maiores e melhores e, e que toda a essa amargura do meu peito se vá assim como poeira em ventania.

Socorro que eu quero algo bom, mas não sei mais se sou capaz disso.


Curitiba, 24 de agosto de 2014. 02:05