quinta-feira, 20 de novembro de 2014

(Quase) sempre eu soube.



- Eu não sou o homem da tua vida!

Acho que foi aí - ou pelo menos deveria ter sido -, o momento em que eu tinha de ter pensado um pouco mais sobre aquela imagem distorcida de nós dois.

Hoje acordei cedo, arrumei a cama, abri a janela e sorri para o sol de primavera. Em passos curtos e um pouco desajeitados, cheguei à cozinha e me servi de café. Preto. Duas colherzinhas de açúcar. Me sentei à mesa, enquanto meus pais faziam suas tarefas rotineiras. Observei de longe, absorta em pensamentos. Olhava o café sorrindo pra mim.

No que eu pensava? Bem, tão simples.

O que acontece é que esta manhã despertei cedo e em prantos. Meu sonho foi tão claro quanto um filme em alta resolução. Nele eu estava sentada numa longa fileira de cadeiras, quando me dei conta, era um casamento. Dele. Com ela. O pouco que eu lembro, foi que tentei impedir o casamento, assim como tentar entender o motivo deste. Mas já? Porque ela? Como assim não eu? O sonho acabou quando ouvi dos próprios pais dele, que ambos tinham uma conexão antes mesmo do nosso término. 

Fim. Voltemos ao café.

O café estava entre o amargo e o doce, do jeito como eu gosto. Apreciei a manhã, que ainda tinha um sol manhoso. O vento de quase boas-vindas ao verão. Analisei a vida, como ela é – ou ao menos como tem estado no momento. Respirei. Acho inclusive que aproveitei para comer uma fatia de abacaxi, mas receio não ter combinado com o café. Continuei com a minha xícara entre as mãos. De repente, minha mãe fala algo do tipo “... não da mais...” para o meu pai. Não prestei atenção no antes e no depois dessa frase quase desconexa assim sozinha. 

Pensei.

Voltei pro quarto, fechei a porta e liguei o rádio – naquela preguiça de escolher algo para escutar. Não lembro o que estava tocando. Olhei pra fora da janela. Pensei. Pensei que não é mais para o nosso ex-amor ser ferida aberta no meu peito. Não posso mais te contar os meus anseios e nem dividir a minha dor. Você partiu, pronto, acabou. Olhei pra dentro do quarto e meu gatinho subiu na cama, sua pelagem acariciou meus braços. Admirei. Voltei os olhos para o mundo exterior.

Cadê você, afinal? Soube que andou pelas ruas dessa cidade, de mãos dadas ou não, com outro alguém. Cadê você que diz tanto se importar, mas não se interessou mais sobre se meus cabelos estão compridos.
Pensei. 

Hoje eu sei - mas sempre soube - o quão difícil eu era de lidar, mas você também criou buracos dentro de mim e o que nos difere, é simplesmente que quando pra você tudo perdeu o sentido, eu ainda continuava tentando. Tentei tanto, que mesmo hoje, com mãos ensanguentadas e um coração remendado, ainda tento. Você atravessou a porta para nunca mais voltar. Não quis mais preencher o lado esquerdo da cama.

Respirei. Sequei as lágrimas das bochechas. Cozinha. Xícara. Café. Janela do quarto.

Não me venha com já estávamos em pedaços. Morremos, pois nos deixamos morrer. Insistir num amor morto é suicídio, mas matá-lo é crime e o matamos. Ambos sujamos nossas mãos. E agora você vem contar que achou um outro alguém, que ela que era um ombro amigo, virou o brilho que lhe faltava. 

Pausa. Chorar. Chorar. Chorar.

Mas aí, pensando bem, lembrei:
- Eu não sou o homem da tua vida.

Respira. Raiva.

De coisas que um dia já ouvi, vindas de ti ou de qualquer um, essa é uma daquelas frases que ecoam na minha cabeça. Se eu fechar os olhos, encontro a tua imagem totalmente apática, na porta da cozinha, e a tua voz ao me dizer estas palavras, me soa tão viva. Amar loucamente alguém que com tal frieza anunciou algo tão importante? Não que para sempre fosse, mas no momento, você era. Você nunca soube distinguir o que éramos no momento. Quem diria que um novo lugar te desconstruiria tanto?

Xícara vazia posta em cima da mesa.

Pensando bem, não, você realmente não é. Não porque não era o teu destino ser o homem da minha vida, mas sim porque você não quis ser. Não posso amar tanto assim alguém que simplesmente escolheu que não.

Olhos marejados. Sorri.


Curitiba, 5 de novembro de 2014. 2:43