terça-feira, 14 de abril de 2009

Tão longe e tão mais perto.

Longe das risadas, longe das histórias, longe dos momentos, longe das lágrimas, longe das situações embaraçosas, longe da segunda casa, longe deles. Para onde devo ir quando meu ônibus chega na cidade natal? O que se faz com as saudades que tão indiscretamente carregam toda a leveza do meu coração? Como se faz para continuar vivendo sem se importar com o mundo em volta? Onde fica tão facilmente a vontade de já voltar?

Sigo caminhando, sigo vivendo, mas não posso evitar o desejo de estar em outro lugar, novamente junto daquelas histórias. A vontade de ter tudo a cada segundo, de não precisar ter de se preocupar com o adeus que parece adorar vir. Não precisar olhar o teto todas as noites antes de dormir, pois não tem com quem conversar, não precisar ter de se contentar com conversas internauticas, pois quando começar anoitecer pode ser dito seja lá o que queira pessoalmente. E todo o tempo se torna a seu favor, sem precisar pedir para não passar tão depressa.

Perde a graça voltar pra casa, perde a graça não ter as mesmas saídas, perde a graça não ter as mesmas brincadeiras, perde a graça não ter os mesmos motivos para se sentir tão bem, perde a graça não estar tão perto. Perde a graça morar longe, perde a graça ter de sentir saudades.

Durante muito tempo sempre foram as mesmas histórias, as mesmas pessoas, os mesmos lugares. Mas quando você menos vê você já cresceu, você já cansou de toda aquela mesmice. Começa a ver que ter poucos e bons amigos é muito melhor do que ter um punhado de falsos, começa a crescer e se tornar diferente, se sentir diferente.

O que mais incomoda é se acostumar. Se acostumar com os velhos amigos, se acostumar com os mesmos velhos lugares, se acostumar com os mesmos velhos romances, se acostumar com os mesmos velhos momentos. E apesar da distancia de alguns notáveis quilômetros, é tudo absolutamente novo, mesmo quando é igual se torna novo, porque sempre é. Pode ser os mesmos lugares e às vezes até as mesmas risadas, mas são os mesmos de uma parte de você diferente, mudada, crescida. Nova.

Eles tiveram o dom de me acolher, o dom de me fazer sorrir. Eles tiveram o dom de me fazer devolver a mim mesma o brilho de meus olhos. As salas aqui tão vazias e frias, lá são agitadas e cheio de gente. São sorrisos que apenas eles e eu entendemos, bagunças e gargalhadas. É apenas lá que a última cerveja anunciada, nunca é de fato a última.

Mesmo que as saudades me façam hesitar ao falar que vale a pena, é inevitável deixar a espontaneidade anunciar que não só vale a pena, como vale muito a pena. Se lá as lágrimas também existem, parece que duram menos, doem menos. É mais fácil secar o rosto molhado, esquentar o coração gelado, num lugar onde é mais fácil sorrir e se sentir bem.

Não existe essa idéia de lá ser melhor e aqui pior, é apenas diferente. Bem diferente, como se lá eu visse uma plaquinha de “que bom que você está aqui”, todas às vezes que eu os vejo e aqui só vejo a tal plaquinha de vez em quando, raras vezes. São outros momentos.

Como me afirmaram, eles me conhecem como eu realmente sou, pois eles mais me escutam do que me vêem, eles mais me ouvem do que me assistem, eles conhecem a versão de mim mesma, por eu mesma, sem terceiros falando como acha que eu sou. Eles conhecem minhas falas, minhas reações, minhas gargalhadas. Eles conhecem melhor as minhas lágrimas. Eles conhecem a melhor versão de mim, a versão que eu só sei demonstrar lá.

Mas eu sei, eu tenho o meu melhor de dois mundos.


Curitiba, 14 de abril de 2009. 19:59 pm

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