quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Pedaços que deixei para trás.

Hoje a alma se fere, se agoniza. Hoje a alma anseia ter mil medos e não agüentar todos eles juntos. Hoje a alma chora e se esquece de voltar. Hoje e por todo o tempo, a alma se perde, se despede. Se distrai ainda calada, se distrai ainda chorosa. Só por hoje e por todo o tempo, a alma sente falta de casa. Sente falta de nós, sente falta deles.

Mas a saudade dói, a saudade bate incansavelmente. A saudade é dolorida e rasga a carne dos mais sensíveis sentimentos, dos mais sensíveis pensamentos. Hoje a saudade guarda segredos, que não se entende.

Mas eu sei - ou talvez eu ousasse saber – que a saudade machuca mais no hoje do que no depois. A saudade agora é na ferida que se transborda de sangue invisível a olhos frios. Novamente estou no velho ditado de dias “todo dia a mais é um a menos também”. O tempo corre, rasga a linha inexistente rapidamente. O tempo voa e a saudade cresce.

Sinto que cresce, mas não se esquece. Os pensamentos aguçados e cansados de solidão reparam mil idéias insolúveis, no momento. Em meio a confusões as idéias parecem menos abstratas, por mais impossíveis e inúteis. E talvez – repito num talvez meio equivocado – sinto que a saudade de agora dói, a saudade que se estende nos dias que custam a passar. Porém, com fé na rapidez dos dias, os dias se tornam semanas e logo após, meses muito rapidamente.

Nessa solidão involuntária, nessa necessidade de vozes que me entendam, eu procuro idéias e planos pra fazer o tempo parar de se arrastar. Por sutileza do destino ou da minha agonia que queria ir embora depressa, me deparei com o pensamento que a dor da saudade de agora é maior do que a dor da saudade de depois. E quanto mais tempo eu permanecer aqui, maior será minha saudade, mas menor a dor que vem com ela, pois é inevitável pensar que um mês a mais aqui, é um a menos para eu voltar.

Essa casa é recheada de risadas, mas o silêncio prevalece ao me dar conta que estou tão longe de tudo e de todos. E tenho contado as semanas, num calendário imaginário. Afinal os dias se tornam lentamente em “vários” e os meses são muito longos enquanto passam. Por algum motivo – não me perguntem qual – é reconfortante sentir as semanas passando, pois é uma soma de vários dias que por acaso, passam devagar. E precisamos esperar apenas quatro semanas, para sentir um mês indo embora.

Creio que minha mente ande um pouco caótica, de tantas transbordáveis solidões e receios. Também creio que meu relógio não queira passar, apenas pra brigar com os meus pensamentos – quando estes pedem ao vento pra trazer o cheiro de um certo alguém. E as horas rodam devagar por aqui e o dia demora para se tornar noite.

Assim, inocentemente, ando seguindo minha vida incalculável. Repito idéias e planos e amorteço minha vida com ilusões de tempos. Conto semanas, para a rapidez se tornar verdadeira e sigo com a idéia, talvez incoerente, de que quanto mais os dias passarem, mais perto estarei de casa e assim, menor a maldita dor incalculável da saudade.

Guardo comigo, sem receios, pedaços que deixaram comigo. Para lembrar, por humildes objetos e cheiros, do que deixei pra trás por alguns meses. E tenho assim, pedaços deles comigo, pedaços que não me abandonam, que me seguem. Que me fazem voltar pra casa, por alguns segundos, ao fechar os olhos.


Valdagno, 10 de setembro de 2009. 14:49

2 comentários:

Anônimo disse...

Querida, "as ausências, quando são promessas de novos encontros, servem para fortalecer os laços do mútuo afeto."(da Ciência Logosófica)
Esta é a mais bela condição que a saudade nos proporciona, e é quando a verdadeira amizade tem seu tempo para brotar e florescer com mais força que antes. Um beijo querida, adorei seu texto, tão sensível!
Gisell( mãe do LuG)

Fábio Sottomaior disse...

Um pedaço de mim, é certo, você sempre terá. Caso eu pudesse fazer um pedido que fosse realizado de imediato, seria este: nós dois abraçados, sem querer mais muita coisa, sem ligar para a cadência das horas, sem ligar para adversidades.

Eu te amo ♥