sábado, 22 de agosto de 2009

Não que alguém ainda sinta falta, mas...

Tantas vezes passei ali na frente, despercebida, não me lembrando de nada – ou quase nada. Fato é, nunca dei importância. Já tinha sido há tanto tempo! E – me perdoem os frios e calculistas – a saudade dali era dolorosa. Muito dolorosa. Doce, mas dolorosa. Arranha até o peito, com uma vontade de explodir. Uma saudade percebível, absurdamente nítida em sorrisos ou lágrimas. Percebível.

Mas ao pisar naquela grama – começaram a cortar depois que paramos de ir lá – e sentir o cheiro do passado entrando em minhas narinas, vi vultos do passado correndo por ali, andando por todos os lados, ouvi risadas e vozes, músicas e violão. Vi vinhos e cigarros jogados ao chão. Pisar naquela grama me levou para anos atrás. Me apertou bem forte, me fez sentir falta. Tirei a falta do armário, falta tal que já não sentia há meses!

E eu caminhei com calma, respirando lembranças. Vi fotografias na memória, vi momentos em flash back, senti tudo de novo. Me levei - por curiosidade - até o final daquela praça, e entre muitas árvores eu tive de descobrir qual era a certa. Não demorou muito, admito, para encontrar a tal árvore marcada com a cicatriz que lhe causamos, com nossos dizeres dentro de um coração: A + N = EVER. E ao lado um “EU TE AMO”.

Sempre! Melhores amigas para sempre, gêmeas siamesas para sempre! Achei que a nossa amizade suportaria tudo o que aquilo não suportou. Nunca deixei de acreditar na nossa amizade, algo que parecia ser mais sincero, ser mais real do que toda aquela ilusão. Se houvessem dias que eu achava que toda aquela diversão naquela praça, era inútil, eu mudava de opinião em instantes, apenas porque eu sabia, nossa amizade seria eterna.

Mas naquele tempo, esquecemos da realidade. Deixamos o dia facilmente passar, o tempo nos consumir. Talvez não haja fotos nem vídeos, não haja melodias. Talvez não haja saudade suficiente. Mas eu sei – mesmo que hipoteticamente – que enquanto aquele lugar estivesse vivo nas nossas vidas, era eterno. O eterno se quebrou, então, quando crescemos.

Viramos pó do que éramos e nos tornamos facilmente outras pessoas. Crescemos e acabamos não vendo mais graça em não fazer nada lá. Pois todos concordávamos, fazer nada lá, era melhor que fazer nada em qualquer outro lugar. E preferimos ficar em silêncio, do que gritar as saudades, quando lembramos daquele tempo.

Não é pecado crescer e nem mudar. Acontece que para sempre, aquele cheiro, aquela grama verde, aqueles vinhos, aquelas risadas... Para sempre aquele que era o sempre, vai ficar guardado na memória. E não vai doer, de vez em quando, ver de longe ou de perto. Sentir a grama de novo ou perder um tempo, qualquer que seja, sentado numa daquelas pedras e vendo velhos vultos invisíveis correndo pelo lugar.

Não é que doa, apenas arde o coração ao lembrar de tantas histórias. Só quem viveu, sabe do que estou falando. E não que alguém se importe, mas eu sei que da saudade dos “velhos tempos”, aqueles que não se comparam a nenhum outro.


- Talvez eu realmente precisasse passar lá, antes de ir viajar por alguns meses.


Curitiba, 22 de agosto de 2009. 22:38

Nenhum comentário: