sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O cá do lá, o medo de ir.

Mas o relógio não se esquece de parar, o tempo não se esquece de passar. Os dias não se esquecem de se tornarem noites e a cada dia mais é um dia a menos. A saudade está doendo, está ardendo desde já. E o medo, o que se faz com o medo? Onde o guarda, afinal? Onde escondo esse rosto assustado, esses olhos inchados de tantas lágrimas.

Eu quero partir, mas não quero ir embora. O que estarei deixando para trás? O que estaremos deixando para trás? E as pessoas, quantas vão lembrar, quantas irão se esquecer? Quantas vão deixar de lado tudo, o nós? Somos, éramos. Sempre éramos nós. O sempre gosta de acabar. Sempre gostou.

Desfechos se montam em minha cabeça e dói absurdo. Dói em lugares que eu nem sabia que poderia doer. Dói a solidão. Dói a gente. Dói o que não passamos, o que nos esquecemos de passar. O que nos esquecemos de deixar para trás ou o que não conseguimos deixar. Vocês. Não sei deixar para trás, não consigo.

Queria sobreviver inteiramente a tantos terremotos e furacões. Mas minha cabeça está curva, cansada. Minha cabeça está dolorida. Eu não sei ceder a solidão, não sei esquecer assim e seguir tão calada. Não sei deixar o medo para trás. Já tenho sentido falta das vozes, dos cheiros. Tenho sentido falta de lá, de cá. Da gente.

- Três dias e uma saudade apertada. Dolorosa e gostosa segunda-feira está para chegar.


Curitiba, 28 de agosto de 2009. 00:34.

sábado, 22 de agosto de 2009

Não que alguém ainda sinta falta, mas...

Tantas vezes passei ali na frente, despercebida, não me lembrando de nada – ou quase nada. Fato é, nunca dei importância. Já tinha sido há tanto tempo! E – me perdoem os frios e calculistas – a saudade dali era dolorosa. Muito dolorosa. Doce, mas dolorosa. Arranha até o peito, com uma vontade de explodir. Uma saudade percebível, absurdamente nítida em sorrisos ou lágrimas. Percebível.

Mas ao pisar naquela grama – começaram a cortar depois que paramos de ir lá – e sentir o cheiro do passado entrando em minhas narinas, vi vultos do passado correndo por ali, andando por todos os lados, ouvi risadas e vozes, músicas e violão. Vi vinhos e cigarros jogados ao chão. Pisar naquela grama me levou para anos atrás. Me apertou bem forte, me fez sentir falta. Tirei a falta do armário, falta tal que já não sentia há meses!

E eu caminhei com calma, respirando lembranças. Vi fotografias na memória, vi momentos em flash back, senti tudo de novo. Me levei - por curiosidade - até o final daquela praça, e entre muitas árvores eu tive de descobrir qual era a certa. Não demorou muito, admito, para encontrar a tal árvore marcada com a cicatriz que lhe causamos, com nossos dizeres dentro de um coração: A + N = EVER. E ao lado um “EU TE AMO”.

Sempre! Melhores amigas para sempre, gêmeas siamesas para sempre! Achei que a nossa amizade suportaria tudo o que aquilo não suportou. Nunca deixei de acreditar na nossa amizade, algo que parecia ser mais sincero, ser mais real do que toda aquela ilusão. Se houvessem dias que eu achava que toda aquela diversão naquela praça, era inútil, eu mudava de opinião em instantes, apenas porque eu sabia, nossa amizade seria eterna.

Mas naquele tempo, esquecemos da realidade. Deixamos o dia facilmente passar, o tempo nos consumir. Talvez não haja fotos nem vídeos, não haja melodias. Talvez não haja saudade suficiente. Mas eu sei – mesmo que hipoteticamente – que enquanto aquele lugar estivesse vivo nas nossas vidas, era eterno. O eterno se quebrou, então, quando crescemos.

Viramos pó do que éramos e nos tornamos facilmente outras pessoas. Crescemos e acabamos não vendo mais graça em não fazer nada lá. Pois todos concordávamos, fazer nada lá, era melhor que fazer nada em qualquer outro lugar. E preferimos ficar em silêncio, do que gritar as saudades, quando lembramos daquele tempo.

Não é pecado crescer e nem mudar. Acontece que para sempre, aquele cheiro, aquela grama verde, aqueles vinhos, aquelas risadas... Para sempre aquele que era o sempre, vai ficar guardado na memória. E não vai doer, de vez em quando, ver de longe ou de perto. Sentir a grama de novo ou perder um tempo, qualquer que seja, sentado numa daquelas pedras e vendo velhos vultos invisíveis correndo pelo lugar.

Não é que doa, apenas arde o coração ao lembrar de tantas histórias. Só quem viveu, sabe do que estou falando. E não que alguém se importe, mas eu sei que da saudade dos “velhos tempos”, aqueles que não se comparam a nenhum outro.


- Talvez eu realmente precisasse passar lá, antes de ir viajar por alguns meses.


Curitiba, 22 de agosto de 2009. 22:38

sábado, 15 de agosto de 2009

Você impediria?

- Você some vários dias e depois reaparece? Interessante. – falou a menina baixando sua revista.

Um garoto alto e magro sentou na mesma mesa que ela e pediu um capuccino.

- Nunca juramos fidelidade. Não foi assim que você se referiu a nossa relação? – pergunto o garoto, olhando para a garota que o encarava.
- Não era necessário sumir, apenas isso. – jogando as cinzas do cigarro no cinzeiro.
- Você sabe como odeio quando você fuma. – resmungou o garoto colocando açúcar no seu capuccino.
- Oras, não seja tão atrevido! – a garota o olhou fatalmente – Você também sabe como eu odeio quando você some. E você sumiu!

Os dois estavam sentados numa pequena mesa redonda num café de esquina. O dia parecia chuvoso olhando para fora da janela e o pequeno ambiente estava lotado de pessoas. Durante alguns instantes ambos ficaram se encarando.

- Estou indo embora daqui uma semana, caso seja uma informação importante para você. – comentou a menina amassando seu cigarro no cinzeiro.

O garoto apenas a olhou por alguns instantes, sem dizer sequer uma única palavra, fazendo a garota levantar repentinamente.

- Aonde você vai? – perguntou o garoto levantando junto dela.
- Embora. Acho que isso nunca afetou muito você, não? Ou se afetou, você ignorou a situação. – penetrando os olhos do menino – Ignorar a situação. Você é bom nisso.

A garota jogou uma nota de cinco na mesa e olhou o garoto. Então lentamente se dirigiu à porta do café, sem olhar para trás. Quando fechou a porta atrás de si, o garoto a chamou fazendo-a virar para olhar.

- Não vá, espere! – implorou.
- Esperar? Eu tenho esperado há dias, semanas talvez! Você teve todas as chances possíveis pra dizer “não vá”. Mas o que você fez? O que você vai fazer? Me diga! – a garota continha olhos suplicantes.
- Não sei. O que você espera que eu faça? – confuso.
- Resposta errada. Não é o que EU quero que você faça, mas sim o que VOCÊ quer fazer. Não me prenda mais aqui, você não pode.

A garota deu as costas e deixou com que todas as lágrimas do mundo escorressem de seus olhos. Se ele gritou de volta ou não, ela não escutou.


Curitiba, 15 de agosto de 2009. 23:47.