segunda-feira, 16 de março de 2015

O restante do que acabou. Finalmente.



Eu, um dia, havia lhe pedido calma. Hoje, porém, eu sou pressa. Estou do outro lado do oceano e não sei nem de onde eu ainda não tirei saudade. Talvez seja porque simplesmente não tem, mas tá tudo bem. Deixa que é melhor e o amanhã já vem. Te pedi um dia para que você ficasse, mas você não quis, disse que já era hora de partir. Eu, no entanto, fiquei. Fiquei por meses, anos, bem... até agora. mas agora eu parto. Vim para tão longe que nem me procurando você me acharia. 

Hoje eu estou aqui, nesta cidade que é de verdade cinza, chove sempre e é frio. Mas estou tão bem, tão leve, que meu café que já vai esfriar não me incomoda e as coisas que tenho de fazer, não se amontoam. Eu estou aqui.

Um dia eu jurei que você não iria tirar suas coisas da minha gaveta e que seu número de telefone não ia deixar de existir. Não imaginei que iríamos ser estranhos numa cidade que já estivemos juntos. Não imaginei que essa viagem você faria sem mim e nem eu, nunca imaginei, que um dia iria embora sem você dali. Pois bem, eu fui. 

Um dia eu briguei contigo sem razão e cortei laços, despedacei memórias, te fiz chorar. Hoje, eu não consigo te tirar do coração. Desde que você passou por aquela porta, você seguiu a sua vida, entendeu que eu não fazia mais parte de ti e eu, continuava ali, torcendo pra te encontrar por acaso no metrô ou na rua ou na faculdade. Eu não desisti de você.

Um dia eu havia jurado que amor assim tão grande não se despedaçava e achava que estava tudo bem se brigávamos. Amor grande não deixa de ser amor, mas deixa de arder como brasa quente. Eu desisti de você no momento que eu cheguei aqui. Te deixei aí, nesse Brasil ensolarado, nessa praia sem fim, com quem você agora achou. Eu, porém, estou aqui tão longe que você não me vê no horizonte e meu número de telefone já não serve mais. 

Um dia, eu te escrevi coisas bonitas, hoje eu sinceramente, só quero te esquecer. Que viva uma vida plena, feliz, mas por favor que eu não saiba dela. Eu não preciso saber que vai viajar com a garota que antes era apenas a tua amiga, também não preciso saber que teu coração já sentiu a minha falta e nem que no feriado que choveu visitou seus pais. Não preciso saber de mais nada, não quero saber. Me perdoe, mas me deixe aqui com a minhas unhas quebradas e meus lábios rachados. Me deixe aqui, acreditando de todo o coração que você se perdeu nesse mundo e que nunca mais irá me aparecer. 

Naquele último dia você não me respondeu, me disse mais nada e eu ainda assim fiquei ali, verificando se o telefone estava com linha. Hoje, no entanto, eu tirei o telefone da tomada e vou me perder nessa cidade, nessas ruas. Sem você.


Dublin, 25 de fevereiro de 2015. 12:34