Aí então, comecei a chorar sozinha e nem sei o porque. Eu
odiava chorar sozinha, meu coração apertava tanto que ardia e eu precisava
sempre só de um colo. Hoje ninguém mais me vê chorando. Assim como ninguém mais
me vê vacilando, mesmo quando vejo que as coisas andam como um vidro
estilhaçado no chão. O que eu me tornei? Como se o espelho pudesse responder.
Me distancio tão fácil quanto me aproximo e me esqueço
sutilmente dos erros que aprontei. Guardo amargamente lembranças que somando
umas às outras, fizeram-me ser assim, tão inconsequente nas palavras, tão fria
nas atitudes... Tão errada nas decisões.
Descarrego tudo que sinto em brigas, berros, e guardo minha
dor assim, no peito que arde cada vez mais. Arde por medo de perder, de não
ter. Por medo de parar de ser ou de viver tudo o que eu tenho sido e vivido. E
escorreguei em sangue, formei cicatrizes. Criei buracos eternos dentro de mim
mesma, sem ninguém podendo jogar terra pra tapar.
Me calo. Sou tão amarga quanto um velho senhor que já perdeu
tudo o que mais amou. Sou cheia de arranhões, batidas, calos e machucados. Sou
cheia do que arde, sangra. Sou azeda com lembranças dolorosas. E resgato tudo
isso sem nem perceber. Resgato cada centímetro de dor do meu passado e coloco
no que hoje eu sou. Eu traio a mim mesma, deixando de lado tudo o que eu queria
ser, tudo o que eu sonhava.
Larguei vozes dentro de mim, consolei a mim mesma quando não
tive. Mas também não quis tantas coisas, deixei de acreditar em vãos, em vácuos,
em finais felizes. Ignorei mares e tempestades e fiz meus próprios furacões e
enchentes.
E sempre, quando a madrugada surge, minhas lágrimas também
saem. Mas me ver chorar, ninguém mais viu.
Curitiba, 1º de agosto de 2012. 3:46
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