sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Não ia mudar nada, absolutamente nada.

Ao ouvir o “sim”, a menina caiu de joelhos no chão, suas pernas simplesmente perderam a força. Ficou ali então, encarando desculpas que não faziam mais sentidos – e nem sua indignação fazia. Escutava as “palavras duras, em voz de veludo” e sua visão foi se tornando borrada, marejada de água meio-salgada, meio-doce. Quanto mais escutava, mais vontade tinha de apenas ir embora, ser engolida por um tempo.

“Para quê tocar na ferida, me diga, meu bem?”. E sua boca apenas abria e fechava, pra uma resposta que não existia. Seus olhos transformavam tudo em mar novamente e daí com a voz falhada ela apenas dizia “eu só precisava saber”. O mais engraçado é que ela não entendia o motivo de querer saber. Não ia mudar nada, absolutamente nada. Foi antes, alguns minutos antes... Acho que foi isso que na realidade precisava saber. Uns minutos antes.

Ela encarava o garoto a olhando com um olhar surpreso, achando todo o drama muito intenso pra uma coisa que foi antes. Mas era óbvio que ele sabia o motivo do drama: a surpresa. O desastre de descobrir sobre um fato, meses depois de ter ocorrido e o pior: o fato era altamente inflamável. Inflamável pra ela, que fazia parte do acontecido e nem mesmo sabia e agora, nem se quer entendia. Não entendia, de jeito nenhum, o motivo de não ter ficado sabendo disso antes – pois gostaria de ter ficado.

“Eu não sei mais, meu bem”, disse ela como se o soluço pudesse falar. Mentira, ela ainda sabia que aquilo não mudaria nada, absolutamente nada, mas a ferida da verdade ainda ardia no peito e sangrava só de pensar na situação. O sentimento não murchava, o orgulho não feria – mentira, estava ferido. Naquela noite ela não teria sido a única, foi a principal, mas não a única. O orgulho sim murchou.

A decepção se fez de desentendida, quando pensou melhor e percebeu que não tinha moral alguma de bater na porta. Mas a garota olhou com os olhos cheios de confusão, praquele garoto bonito e doce que se punha na sua frente. “Acho que tem razão, não é pra tanto. Mas sinceridade, é que eu não esperava isso”, pensava a menina em sua cabeça fervilhando.

“Eu te amo muito, meu bem”, dizia o menino suplicando um único gesto de carinho vindo dela. A menina se levantou, desfez a cara de triste, limpou os olhos, pigarreou e com a voz suave foi apenas capaz de dizer “eu nunca deixei de te amar, bonito”. Desligando a luz do quarto e voltando para a cama, fez sua cabeça pesar no travesseiro. Não, não faz mais diferença. Mas eu quebrei um pouco.


Curitiba, 26 de janeiro de 2012. 23:48

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