Você passa seus dedos quentes nas minhas costas, faz
desenhos de arranhões nelas e pinta de mordidas roxas as minhas coxas. Me deixa
de lábios vermelhos e olhos brilhantes. Você deita seu corpo quente ao lado do
meu gelado e diz, assim mesmo, que as coisas vão fluir, se eu deixar fluir. Você
se levanta da cama e vai resolver a sua vida, enquanto eu fico ali estirada,
esperando um próximo beijo, um próximo gemido de gozo. Fico esperando entre as
cobertas já cansadas de nós dois, um próximo momento juntos.
Brinco de não haver vida por detrás da porta e que
somos os únicos que sobrevivemos essa realidade tão amarga. Pois você deixa a
minha vida mais doce. Hoje ou amanhã se torna um e sempre é cedo, mesmo quando
sabemos que é tarde. Afinal, o que vivemos sempre é tarde. Às vezes brincamos
de casinha, outras vezes brincamos de morar um em cada cidade. Levamos uma vida
meio doida ou até mesmo doída, se formos pensar em determinados casos.
Mas aí as coisas acontecem, no dia seguinte você chega
em casa e eu sento no seu colo, só porque eu acho legal sentar. A gente ri de
algo bobo e dividimos uma cerveja, um cigarro, uma história. Quando menos
percebo estamos aqui ou ali, estamos lá, mas estamos. Sempre estamos. Mesmo
quando o mundo nos impede de estar, nós estamos. Se a música acaba, você coloca
outra, se a cerveja acaba, nós abrimos outra. Se o assunto desaparece, a gente
se encaixa perfeitamente.
Você me consome inteira, você me bebe feito um líquido
doce, enquanto eu te absorvo absolutamente, pra te ter sempre comigo. E tudo
isso nos torna maiores, tão maiores que às vezes simplesmente tampamos os
buracos que fazemos – ou eu faço – e reconstruímos a calçada. Sutilmente,
começamos a construir muros. Verdadeiras muralhas, das quais podemos brincar
que lá fora não existe mundo. Nada existe, nem o tempo, apenas nós.
Curitiba, 10 de julho de 2012
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