sábado, 19 de março de 2016

De lembranças que quero ser.



Eu não escolhi flores, mas às vezes a ânsia bate e o peito aperta e eu me pego olhando a janela, perguntando para as nuvens o que será que é, onde será que vamos.

Eu não sei mais do que você, mas às vezes eu me percorro em cacos e outras em plumas. Se fecho os olhos, me veem cheiros, perfumes... Dela, dele e de outros alguéns. Eu sinto falta do abraço, do sorriso e de encontrar alguém pelas ruas e poder abraçar apertado. Mas o cheiro... Vez em quando cruzo com alguém com o mesmo perfume. Mesmo frasco. Quase pergunto; “me empresta um pouco? Estou com saudade”.

Hoje eu estou vivendo em terras que um dia eu desconheci e um idioma que eu aprendi, mas há pedaços meus em tantos lugares. Há pedaços deles em mim grudados. Não sou rio raso e transbordo em temporais. Percorro milhas, ilhas, vidas.

Amor, você não me esqueça. Amor, você não enlouqueça. Não sei se em alguém já guardei o meu cheiro ou o som da minha voz. Mas espero loucamente que sim. Pois poucas coisas são tão belas quanto a lembrança doce de alguém.

Minha memória são lembranças e cheiros, são rostos. Eu sorrio aguda e inocentemente. Eu gosto de lembrar e de sentir saudade e às vezes de chorar. Me lembro bem de seus gestos e de seus motivos. De cada um.

Amor, amor, você me ouve? Guarde essa dança e meu cheiro. Amor, amor, guarde minha risada. Amor, amor, tenha certeza que estou bem guardada. Pois, eu sempre quis ser a lembrança de um cheiro ou de uma risada. Quis ser a lembrança vinda desprevenida, misturada num sorriso bom. Só queria ser lembrada, quando o ônibus cruza a cidade ou quando alguém usou o meu perfume.


Dublin, 11 de março de 2016. 19:24

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