Eu não escolhi flores, mas às vezes a ânsia bate e o peito
aperta e eu me pego olhando a janela, perguntando para as nuvens o que será que
é, onde será que vamos.
Eu não sei mais do que você, mas às vezes eu me percorro em
cacos e outras em plumas. Se fecho os olhos, me veem cheiros, perfumes... Dela,
dele e de outros alguéns. Eu sinto falta do abraço, do sorriso e de encontrar
alguém pelas ruas e poder abraçar apertado. Mas o cheiro... Vez em quando cruzo
com alguém com o mesmo perfume. Mesmo frasco. Quase pergunto; “me empresta um
pouco? Estou com saudade”.
Hoje eu estou vivendo em terras que um dia eu desconheci e
um idioma que eu aprendi, mas há pedaços meus em tantos lugares. Há pedaços
deles em mim grudados. Não sou rio raso e transbordo em temporais. Percorro
milhas, ilhas, vidas.
Amor, você não me esqueça. Amor, você não enlouqueça. Não
sei se em alguém já guardei o meu cheiro ou o som da minha voz. Mas espero
loucamente que sim. Pois poucas coisas são tão belas quanto a lembrança doce de
alguém.
Minha memória são lembranças e cheiros, são rostos. Eu
sorrio aguda e inocentemente. Eu gosto de lembrar e de sentir saudade e às
vezes de chorar. Me lembro bem de seus gestos e de seus motivos. De cada um.
Amor, amor, você me ouve? Guarde essa dança e meu cheiro.
Amor, amor, guarde minha risada. Amor, amor, tenha certeza que estou bem
guardada. Pois, eu sempre quis ser a lembrança de um cheiro ou de uma risada.
Quis ser a lembrança vinda desprevenida, misturada num sorriso bom. Só queria
ser lembrada, quando o ônibus cruza a cidade ou quando alguém usou o meu
perfume.
Dublin, 11 de março de 2016. 19:24
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