Não tenho receio desses talvez cheios de certezas que
desfilamos por aí. Pode abrir o peito e falar com sinceridade, pode deixar que
eu aguento o grito. Pode sentar e desabafar, pode chorar. Eu não vou me
impressionar com a receita de churros ou com o carro conversível - posso até achar realmente legal, mas me
impressiono mais com o sorriso, com o convite no meio da noite para um brownie,
pois de repente deu vontade e o filme tá chato. Com a mensagem mais sutil
dizendo: “você já dormiu, né xarope?”. É já, já dormi. Mas pode deixar que eu
acordo, pois vale.
E sabe o que mais? Acordo com um sorriso se veio só “porque
sim”, porque foi bom, porque estamos bem. Estou de corpo e alma e quando quero,
eu quero. Mas você que não me doa o coração, pois aí já não é justo, sabe? Não
é justo doer algo que não é teu. É assim mesmo que a doçura dos dias nos
escorrega por entre a vida, nos pequenos “sim, sim, eu quero”. Se quer vem, que
se a gente gosta qualquer hora é hora e qualquer cama de solteiro vira king
size. Não te preocupa se vier molhado da chuva, pois do chuveiro sai água quente
e sim, podemos nos molhar juntos. Pode trazer comida, cerveja, doce, filme.
Pode trazer até mesmo cigarros e histórias, não importa. Mas traga teu corpo,
pois o encaixe no final de um dia cansativo é o melhor encaixe.
Sabe, faz do meu perfume o teu preferido e da minha porta
teu aconchego. Que tá tudo bem se o ônibus atrasou ou o metrô das 18 horas é
cheio demais. Tudo bem que a cerveja com os amigos foi até mais tarde, pode
vir, mesmo que seja pra dormir apenas. Antes a tua companhia apenas pra dormir,
do que esse apartamento vazio. Eu gosto de dançar com a minha própria sombra,
mas se tiver o teu corpo pra me guiar na dança, é melhor ainda. Tá tocando
Elvis, mas a gente pode dançar Clapton se tu quiseres. Pode ser até Novos
Baianos, porque não?
O que quis te explicar é que tá tudo bem se o mundo desaba,
se as coisas já não vão tão bem e se o que fomos há três anos atrás já foi mais fácil. É que sabe,
dizem que amor é assim mesmo, às vezes dói, às vezes você desiste e aí você vê
a pessoa e pronto, desistir do que mesmo? Comigo é assim pelo menos. É que amor
tem que ter cuidado, tem que polir, tem que ter carinho. Às vezes ele te prega
peças, mas aí a gente revida e prega peças no amor também. O que não vale é
dizer que vir aqui em casa só pra dormir não te convém, que aí quer dizer que o
amor tá ficando murcho e nada do que murcha vive muito mais. Sabe, tem que
querer, entende? Tem que sentir que mesmo quando a cerveja com os amigos tá
incrível, tá faltando uma companhia ali e que essa companhia faz toda a
diferença. Amor é assim mesmo, tem que ter espaço pra respirar, tem que saber
separar, tem que saber juntar.
Amor é continuar tendo tudo o que se tem quando se é
sozinho, com a diferença que teu coração bate forte quando chega o momento do
encontro, quando o melhor sorriso do mundo se abre pra ti. Amor é assim mesmo,
mesmo confuso o essencial é não deixar morrer, sabe. Amor quando morre é morte
pra quem continua a sentir. Amor é bonito demais, assim como as flores na
primavera e claro, às vezes fica meio cinza, perde flores e folhas, mas tá ali
ó, tá vendo o Ipê amarelo? Então, amor é tipo ele: vivo.
Curitiba, 16 de setembro de 2014. 00:41
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