quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O tempo que não volta.

Tenho tido uma leve nostalgia. Pensamentos que me arrastam para muito longe, alguns anos atrás, algum tempo atrás. Tenho escutado uma banda que há muito tempo não escutava, inconscientemente eu me lembro do que eu passava naquela época. Eram tantos sonhos e tantos risos! Eram tantos amigos, daqueles que eu jurava que jamais deixaria para trás. Me decepciona saber que muitos deles ficaram no passado. Muitos deles estamparam fotos e hoje se perdem no mundo, se esquecem e de vez em quando são lembrados na minha memória.

Ando tendo saudades do mundo que eu levava comigo e mesmo que às vezes fosse cheio de dores e de lágrimas, eu continuava em pé. Por algum motivo eu sabia muito bem como contornar a situação. Sabia fugir dos problemas e ainda conseguia certa admiração de quem estava comigo o tempo todo. Fugi do colégio, quando mais nada me prendia lá, saí sem ninguém saber. Sem avisar, apenas fui, com medo de voltar. Troquei de amigos e aqueles, que na época, eu havia deixado para trás, não faziam diferença alguma. O que me da muitas saudades, saudades do passado que eu tenho sido obrigada a deixar para trás.

Aprendi que muitos que compartilharam comigo aquele melhor tempo vão continuar ali. Mesmo que distantes eu sempre os senti por perto, mesmo que apenas de vez em quando eu possa abraçá-los. Mas hoje dói saber que aquela realidade não existe mais. Dói trocar de amigos e continuar vivendo, tendo saudades de tudo aquilo. As saudades se acumularam, as pessoas cresceram, se tornaram adultas. Os amigos que antes não queriam saber da vida, hoje tem de trabalhar, amanhã de manhã trabalhos da faculdade os esperam. A tal grama verde, aquela que era a melhor do mundo, não é mais tão verde. As pedras que tanto abrigavam a todos, hoje são apenas decoração de uma praça qualquer. E todos aqueles vinhos que comprávamos e bebíamos logo em seguida, que eram jogados na grama, sujavam aquele lugar. Mas era o nosso lugar, era a nossa sujeira. Cigarros, tantos jogados no chão, um atrás do outro e mesmo a fumaça sempre me sufocando, era parte daqueles dias. Não havia quem mudasse isso.

Me disseram para esquecer, mudar de página e continuar vivendo. Mas oras, foi isso o que eu fiz. Mudei meu jeito, mudei minhas atitudes, aprendi a gostar das pessoas novamente, mas receio que meu sorriso nunca mais foi igual. E quando volto a lugares onde todos eles se reúnem, eu vejo as saudades acumuladas, mas ao mesmo tempo vem aquela dor. O coração se espreme, pois ao vê-los observo que cresceram e o mais engraçado, que aí, eu vejo que também cresci.

Hoje são lembranças, memórias esquecidas para de vez em quando contá-las para pessoas que nunca presenciaram. Conto algumas em risadas e outras em lágrimas, mas não passam de lembranças. Há quem deixou de lado tudo aquilo e foi embora, há quem simplesmente mudou, há quem mudou as tardes quentes e ensolaradas por um barzinho fresco todas as noites. Há quem arrumou novos amigos, novas diversões. Há quem se perdeu, pessoas que até hoje eu amo, mas se perderam. Há quem deixou de lado uma vida inteira, apenas para seguir em frente, hoje passa como se fosse um desconhecido. Mas, de fato, é um desconhecido.

O que mais dói, é que todos sentiam o fim, mas nunca ninguém quis dizer que ele estava lá. Porque todos gostavam da tarde que nunca acabava, dos vinhos, dos cigarros. Todos gostavam das risadas e das músicas. Todos gostavam das brincadeiras e dos amigos, que mesmo não sendo eternos, quando existiam, eles eram. E mesmo que diziam “estou aqui, porque não tem mais nada para fazer”, ninguém recusava perder um sábado naquele lugar. Ninguém recusava perder algum dinheiro, entrando em um show entediante e monótono.

Hoje, quando passo por lá, é outra história. As pessoas mudaram, as pessoas esqueceram com grande facilidade. Não é mais o mesmo grupo de amigos e nunca vai ser, pois quem presenciou aquele tempo, pode até omitir, mas acaba admitindo, que não existiu melhor tempo. Eram garotos e garotas, todos misturados, fazendo festa, conversando e rindo. E o mais importante, ninguém queria saber do amanhã, afinal, amanhã iria vir, dali algumas horas, não tinha importância. O mais especial, é que eram sempre novos romances, sempre novas histórias. Era sempre o all-star e o rock. Era sempre a bebida e as risadas. Eram sempre algumas tardes, que faziam toda a diferença, talvez não na época, mas hoje.

Um comentário:

[...] disse...

Se você me perguntar, eu te digo que também sinto falta.

Não vivi com a mesma intensidade, mas sei o quanto me deixava feliz encontrar as pessoas e passar as tardes, jogando conversa fora, como grandes amigos.

E hoje, realmente, não há mais nada que me prenda nesse lugar, a não ser a singela lembrança de um tempo bom.

Infelizmente, a responsabilidade nos limitou às amizades e a vida continua aí. Muitas vezes, infeliz, mas já não há como consertar e nem esquecer o que cada um de nós viveu. <3