segunda-feira, 19 de maio de 2014

Crônica dos óculos meus na casa tua.



- Tu deixasse teus óculos aqui em casa...

É. Mas não foram apenas meus óculos que deixei na tua casa. Deixei mais. Eu deixei a mim, deixei segredos, deixei risadas, deixei nós de cordas. Eu esqueci no teu sofá uma gargalhada gostosa que demos e deixei jogado em tua cama nossos perfumes misturados. Esqueci de te contar que eu não me apeguei, mas gosto profundamente de você. De tudo, de qualquer coisa, será que dá pra entender? 

Eu sei, eu sei. Não há lutas de amor por aqui, você não vai pegar a tua espada e dizer que por mim ficará. Ah, quem dera. Sei que não te valho a pena o tempo desperdiçado. Somos um passatempo, gostamos de tal. Gostamos de não termos compromisso, de não termos nós atados. Somos assim. Fomos moldados para sermos assim. Então tudo bem, juro. Olha nos meus olhos e diz que não é amor, que nunca será. Que eu vou continuar esquecendo objetos e gestos na tua casa. Que cabelos vermelhos vão colorir teu chão e que vez ou outra você vai olhar pro sofá ou pra rua da tua casa e vai sentir falta da minha companhia. Mas tudo bem.

Tudo bem nos deixarmos no vazio, ignorarmos o pouco que montamos juntos, impedindo de crescer. Tudo bem não sermos mais, não nos permitirmos de ser. Você vai embora e eu finjo que não ligo. Finjo que tudo bem, sempre estará tudo bem. Sempre? Não posso te deixar ver o que meu coração derrete. Teus olhos dizem fica e minha boca pede mais tempo, porém sabemos que não. Caminho para a porta em passos vagarosos, mas não escuto nada que me impeça, brinco que não me importo enquanto você não deixa a nossa vida a dois começar.

Você sabe que eu não vou embora de verdade e você também não vai. A gente não vai, a gente não fica. A gente vive, vive, apenas vive... Alguns amores são assim mesmo; inventados.


Curitiba, 24 de fevereiro de 2014. 1:27

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