domingo, 11 de abril de 2010

Seus passos arrastados.

Eu coloquei a sua melhor camisa e enfeitei meu pulso com o seu relógio. Saí bonita, só para me mostrar ou talvez, te mostrar. Segui tranqüila, enquanto sua camisa ainda mantém seu perfume e seu relógio notoriamente, ainda guarda suas digitais. Guardam resquícios seus, quando nesse mundo você já não caminha mais.

Deixei a saudade chegar devagarzinho e até se acomodar. Porém, foi só fechar os olhos que já senti aquele cheiro de cigarro impregnando minhas narinas e o barulho de seus passos arrastados, depois de um dia tranqüilo. Escutei sua voz, como se você estivesse aqui do meu lado, fazendo a mesma velha pergunta “como vai a escola?”. Vô, a escola vai bem, minha vida vai bem.

Às vezes eu me lembro de chorar a sua falta, porém muitas outras, eu me lembro de sorrir porque você sempre gostou do som da minha risada. Eu não tive tempo de sorrir bonito pra ti uma última vez, vô. E isso me mata todos os dias, todas as noites quando meu sono não vem.

Sabe, ainda não tive coragem de voltar na sua casa, vô. Não tive. Porque ela sem você não tem sentido. É como querer escrever e não ter uma caneta ou um lápis. É como escutar música e não ter um rádio. Ir lá e não te ver é a solidão se sentando ao meu lado, as lágrimas me dominando. É a saudade irreversível gritando.

Os seus passos ainda estão rangendo a madeira do corredor, suas malas ainda estão feitas do lado da porta. Meus braços ainda estão abertos te esperando, para um último encontro.

- Minha eterna maneira de escorrer sentimentos.


Curitiba, 11 de abril de 2010. 19:18

2 comentários:

Mageca Chaves disse...

Eu adorei esse texto. Lindo. Meio que to passando pela mesma coisa e sei o quanto é ruim.
To te seguindo, depois vai no meu"
Beijo ;**

Gabriela Furtado disse...

Doi muito pensar que nunca mais poderemos vê, em carne osso, a pessoa tão querida, mas temos que procurar nos confortar lembrando que estão num mundo bem melhor que este em que vivemos. E imagino como deve ser grande a vontade de dizer tudo o que calamos ou dizer mais vezes o que dissemos...
beijos:*