Eu continuo me afogando, ainda que em todo o meu conforto.
Nos últimos
dias eu li sobre amor próprio, sobre quem não nos escolhe – mesmo que nós os
escolhemos. Eu li sobre o valor e peso que colocamos em nós, nossas decisões. Às
vezes parece que todos aqueles livros de auto ajuda, que eu tanto desconfiava,
começaram a fazer sentido.
Há alguns
poços que a gente precisa não só de ajuda pra sair, mas também de ajuda pra
entender o porquê de estar ali.
Eu sou
solidão, mas me afogo no silêncio. Não à toa, eu me apego tão facilmente. Me
apego no que acena, no que sutilmente diz bom dia com um sorriso no rosto.
Me apego
aos beijos - não nos lábios -, mas aqueles cravados nas costas, no pescoço. Me
apego no teu corpo procurando o meu à noite. Nas tuas mãos querendo percorrer
cada centímetro de mim.
Me apego
nas mensagens, nos abraços. Nas histórias tão desembaraçadas que contávamos um
ao outro e não só, mas o silêncio que não parecia incomodar.
Me apego
nos cigarros que você queimou, nos teus olhos sérios, porém gentis. Nas
pequenas ações que me disseram tanto, mas tanto, até eu ver que não.
Agora me encontro
aqui, numa livraria, rodeada de livros que explicam como ir embora de onde não se
quer ir.
Você me
teve e de repente, quando perdeu a graça, se foi. Foi fechando as janelas,
trancando portas e dirigindo pra longe. Deixando em minha mesa de trabalho, os
óculos escuros que esqueci contigo.
Me
direciona um adeus, um até logo. Quase me olha, implorando pra nunca mais. E eu
aqui, afogada em palavras de efeitos, me pego lendo sobre amor próprio, ao
mesmo tempo que tento decifrar tudo o que você tinha feito e parou de fazer, de
repente - do dia pra noite - como se tão ferozmente não fizesse diferença
alguma os meus dedos na tua nuca.
Talvez nunca
tenha feito.
Enquanto
tento desvendar a minha solidão e teus passos errantes, tento também ir embora
dessa pequena sala em que nos encontramos e permanecemos desde então.
Gostar de
ti, ainda que na brevidade, foi muito bom.
Você tinha
avisado, tinha dito exatamente que não. Mas aquele dia enquanto cruzávamos a
ponte, onde toda uma tranquilidade me atingiu, eu sorri acreditando que eu te
trazia a mesma paz serena. O mesmo sorriso de canto.
Aparentemente
não.
Acho que
sou mesmo vendaval. Até pra ti, que é trovão.
Porto, 15
de Agosto de 2024, 23:02
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