sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Do que ainda sei.



Se fosse possível um ser humano ser uma bagunça, talvez eu pudesse me descrever assim no momento. Tenho papéis jogados dentro de mim, com cartas velhas, bilhetes, frases. Tenho horários de médicos esquecidos, livros não lidos e comidas não saudáveis apodrecendo nas prateleiras da cozinha. Guardei fotos que agora estão espalhadas pelo chão e não sou capaz de rasgar, queimar, esquecer. Eu sou um buraco negro, não tenho fundo. Jogo tudo o que acontece, sem repensar, analisar. Vivo incansavelmente, vivo pra esquecer. Só para esquecer.

Você não podia. Você não tinha o direito de voltar, bagunçar e ir embora. Você não podia tocar na parte que em mim mais dói: o coração. Eu um dia não pude sem você, cheguei a imaginar que tudo sem você não fazia, não teria sentido. Durou esse pensamento. Desisti de todos e comecei a encarar o chão. Me engoli dentro do meu próprio apartamento. E deixe-me dizer, eu realmente fui abandonada. Um dia então, eu ri de algo engraçado na televisão e amigos distantes vieram até mim. O verão chegou e eu não usei mais a bolsa de água quente pra esquentar meus pés. A televisão continuou ligada pra abafar o silêncio, mas comecei a dar sentido pro que existia sem você.

Eu nunca quis que você apagasse nossas estrelas e nem que eu gritasse seu nome quando lágrimas escorressem em minhas bochechas. Nunca teria sido capaz de te magoar tendo consciência disso. Abracei tudo o que tínhamos e éramos, cultivei o amor e nos deixei quentinhos em dias ruins. As tempestades nos atingiram então, nosso barco era frágil demais para aguentar e quando menos percebi, você estava se jogando ao mar e nadando para longe dali. Eu ainda te observei ir embora, estática, com o coração devolvido em uma mão e na outra, as escondidas, uma carta de amor que lhe entregaria.

Ainda tento te apagar, acredite. Não existe uma noite que eu não peça aos céus pra arrancarem você de mim. Pra jogarem água nesse incêndio que tomou conta do meu coração. Ainda cruzava o corredor de casa acreditando que você poderia estar ali, esperando. Esperando qualquer sinal meu, assim como ainda espero. 

Gostaria que sua partida tivesse sido menos amarga. Não precisava me envolver ainda em seus braços, sei que isso já não lhe convém. Não poderia ter sido doce. Só não deveria ser amarga.

Esteja bem, explorador.


Curitiba, 14 de fevereiro de 2014. 01:17

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