sábado, 7 de setembro de 2024

Quando não me escolheu.

Eu continuo me afogando, ainda que em todo o meu conforto.

Nos últimos dias eu li sobre amor próprio, sobre quem não nos escolhe – mesmo que nós os escolhemos. Eu li sobre o valor e peso que colocamos em nós, nossas decisões. Às vezes parece que todos aqueles livros de auto ajuda, que eu tanto desconfiava, começaram a fazer sentido.

Há alguns poços que a gente precisa não só de ajuda pra sair, mas também de ajuda pra entender o porquê de estar ali.

Eu sou solidão, mas me afogo no silêncio. Não à toa, eu me apego tão facilmente. Me apego no que acena, no que sutilmente diz bom dia com um sorriso no rosto.

Me apego aos beijos - não nos lábios -, mas aqueles cravados nas costas, no pescoço. Me apego no teu corpo procurando o meu à noite. Nas tuas mãos querendo percorrer cada centímetro de mim.

Me apego nas mensagens, nos abraços. Nas histórias tão desembaraçadas que contávamos um ao outro e não só, mas o silêncio que não parecia incomodar.

Me apego nos cigarros que você queimou, nos teus olhos sérios, porém gentis. Nas pequenas ações que me disseram tanto, mas tanto, até eu ver que não.

Agora me encontro aqui, numa livraria, rodeada de livros que explicam como ir embora de onde não se quer ir.

Você me teve e de repente, quando perdeu a graça, se foi. Foi fechando as janelas, trancando portas e dirigindo pra longe. Deixando em minha mesa de trabalho, os óculos escuros que esqueci contigo.

Me direciona um adeus, um até logo. Quase me olha, implorando pra nunca mais. E eu aqui, afogada em palavras de efeitos, me pego lendo sobre amor próprio, ao mesmo tempo que tento decifrar tudo o que você tinha feito e parou de fazer, de repente - do dia pra noite - como se tão ferozmente não fizesse diferença alguma os meus dedos na tua nuca.

Talvez nunca tenha feito.

Enquanto tento desvendar a minha solidão e teus passos errantes, tento também ir embora dessa pequena sala em que nos encontramos e permanecemos desde então.  

Gostar de ti, ainda que na brevidade, foi muito bom.

Você tinha avisado, tinha dito exatamente que não. Mas aquele dia enquanto cruzávamos a ponte, onde toda uma tranquilidade me atingiu, eu sorri acreditando que eu te trazia a mesma paz serena. O mesmo sorriso de canto.

Aparentemente não.

Acho que sou mesmo vendaval. Até pra ti, que é trovão.

 

Porto, 15 de Agosto de 2024, 23:02