Desta vez eu fui embora sozinha, carregando comigo a dor de um mundo inteiro que nunca ninguém iria entender. Arrastei o que ninguém poderia ter arrastado por mim e, pior, guardei num baú momentos que não se apagam com um simples não. O volume do som foi ao último e o disco escolhido foi o seu preferido. Vi você passar na minha frente e num sutil desejo, senti suas mãos abraçando as minhas num pedido urgente para te esquecer. Fui deixada com o coração sangrando, na poltrona do quarto e lágrimas já nem saíam. Eu sequei por inteira.
Senti o gosto amargo de ver você partir e me agarrei a tudo
o que eu conhecia, em tudo o que agora, me doía. Você não quis ficar e hoje sinto minha vida caminhar meio esquecida diante tantas as outras. O mundo se tornou
menos surpreendente, mas você não quis saber de voltar a colorir. Bateu na
minha porta uma última vez pois, havia esquecido algumas coisas - talvez até a si
mesmo na minha cama.
O escuro não aconchega mais e a solidão é sempre
eterna. A espera, pelo menos, não existe mais. Uma vez que você não vai mais
bater a porta trazendo um sorriso. O amor, que era tanto, acabou como se nada
fosse. Deixei você ir embora, não podendo mais te fazer ficar. Sua escolha foi
clara: partir. A minha, bem, ainda esta por aí.
Ontem eu chorei, ouvi noticias de você e numa foto que me
mostraram quase não te reconheci. É difícil encontrar os mesmos traços depois do fim. Sinto muito se ainda sinto a tua falta e se na prateleira
da minha sala, nosso porta-retrato está apenas virado pro outro lado e seu pulôver
ainda esta perdido no meu armário, dando as mãos com o meu casaco de lã. Porém,
não te encontro em mais nada. Seu cheiro se esqueceu, dentre outros – ou devido
o excesso do meu. Sua voz é abafada com o som, televisão e até mesmo com os carros lá
fora.
A cerveja virou companheira, infelizmente. Descobri,
relutando, que dividir cervejas com outras pessoas, também é bom. Até mesmo com
outros homens. Sua saliva, ainda presa em mim, foi confundida com alguma outra
que ousei experimentar e o meu prazer, que antes era todo seu, já não é mais.
Porém o seu olhar, ah esse, ainda me encara profundamente implorando por mais uma
ligação, uma carta, um encontro. Mas eu me proíbo. Você se perdeu de mim.
Seu disco acabou e o silêncio me abraça como você nunca me
abraçou; tão tristemente que me sufoca. A tristeza, porém, virou velha amiga.
Quando engulo minhas cervejas e beijo meus cigarros ela senta ao meu lado e me
faz lembrar de você. Aí então sinto saudade do amor que um dia tivemos, o amor
tão imenso que nos transbordava e eu não me importava sobre o excesso, pois éramos
mais. A cama então ficou grande demais pra mim e me deu uma vontade enorme de
ligar pro casal do andar de cima que comprou a antiga, a pedindo de volta. Mas
até ela, pensando bem, seria grande demais.
Daí o sol nasceu e entre um sorriso e outro, me perdi. Entre
pedaços meus que eu esqueço no caminho, gargalho um pouco. Vez ou outra eu não
penso em ti, não te procuro. Pois o amor, que era grande, ainda é.
Juro que tento ir embora, mas vou ficar mais um pouco, quero sentir a brisa
do mar sem você. Um dia eu vou embora, mas às vezes, ainda finjo estar no seu
antigo apartamento, naquela rua mais-bonita-do-mundo olhando o pôr-do-sol.
Curitiba, 28 de outubro de 2013. 20:31